Além da tempestade

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“Um pequeno raio de sol atravessando as densas nuvens tempestuosas.”



— Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem...

A frase se tornou repetitiva, ecoando quarto adentro. Escapava da boca de Theo automaticamente, como um mantra. Acreditou que se repetisse uma quantidade considerável de vezes, a resposta se materializaria. Se tornaria tão real quanto o agora.

Ele apertou os olhos com força. De repente sentiu-se velho, enrugado e com uma dor encrostada em seus ossos porosos; mas só tinha dezoito anos. Estava assustado e carente do consolo que precisava. Lutando contra lágrimas que rolavam pelo seu rosto. E contra o soluço que insistia em arranhar sua garganta e tentar sair.

Sua barriga ainda doía. Uma alinha ardente em seu ventre, que se espalhava por seu corpo como fogo. Como se o corte fosse abrir-se outra vez, com o mínimo movimento, e fazê-lo sangrar.

Um choro esganiçado tornou a ecoar pelo quarto, o assustando. Um berreiro estridente que arranhava seus tímpanos e deixava-o com o corpo rígido. Os braços e pernas pequenininhos se remexiam em seus peitos. Agoniados, exigindo algo que ele não fazia a menor ideia.

Os minutos que sua mãe de ausentara pareciam agora uma eternidade. E nenhum sinal do enfermeiro, ou da médica.

Theo aninhou o bebê em seus braços e o embalou suavemente, apesar da dor pulsante em seu ventre. Mas sua tentativa de acalma-lo, e sussurrar palavras calorosas, em nada adiantava, uma vez que não conseguia acalmar nem a si mesmo.

O bebê possuía pulmões de aço. Entoando o berreiro que se propagava facilmente pelo quarto. Um desespero começou a se apossar do rapaz, nublando os seus sentidos. Theo havia se perdido. E começava a lamentar não ter tido ânimo suficiente para frequentar o curso mamãe e papai: para pais de primeira viajem.

Ele olhou de um lado para o outro. Sem saber o que fazer. O aquele choro insuportavelmente alto significava? Xixi, cocô, era fome? Theo não sabia o que dizer. Não conseguia se inclinar para olhar e eliminar duas alternativas. Acabou tomando coro ao choro do filho. Pelo desespero, pela dor, pelo vazio em seu peito.

Para a sua sorte – antes que a coisa começasse a fugir do seu controle, caso fosse possível – Mérope, sua mãe, entrou no quarto. A mulher se aproximou com passos apressados, balançando a cabeça em negação. Pois, como mãe, via uma criança segurando a outra, ambos aos prantos. Aquilo foi suficiente para que segurasse o riso.

Theo arquejou quando a viu, trêmulo e incapaz.

— mamãe... Eu, ele... — El apertou os olhos, as lágrimas escorrendo. O choro do bebê ressoava em seu cérebro como um martelo contra uma bigorna. — Não sei o que ele quer. Me ajude...

— Se acalme, oras. — chiou a mulher com impaciência.

Ela pegou no neto e o aninhou nos braços. Balançando-o com suavidade. Levando a mamadeira que trazia até a boca faminta do bebê. Que passou a sugar o conteúdo com forças, agarrando desesperado a mão que o alimentava.

— Vai ficar tudo bem. Não precisa chorar, querido.

Mérope falou com suavidade. Olhando para o filho. Embalando o neto.

Theo fungou. Sentindo-se mais idiota do que o normal. Observava em silêncio. Gravando cada ato, cada movimento. E intimamente desejando voltar para aqueles braços acolhedores. Pequeno, indefeso e livre do peso da responsabilidade.

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