~. Capítulo 3 .~

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"Depois da sinceridade, a curiosidade é a característica mais forte das crianças.

Mateus Barcelos.".

MATEUS

Yuri e eu estávamos frustrados, muito frustrados. Além da vó Salame ter praticamente nos expulsado de sua casa à vassouradas, ela ainda por cima nos chamou de crianças. E tipo, a gente nem era criança, cara! E daí que meu brother e eu tínhamos 6 anos? A idade tá na cabeça da pessoa, então, a gente era mais adulto do que muito adulto que eu conhecia. Tô certo de pensar assim, não tô? Claro que tô!

Afirmando que vó Salame era muito chata, muito chata mesmo, Yuri e eu nos arrastamos até o apartamento de minha família. Eu estava faminto, rezando para ter lasanha ou frango de padaria, mas o cardápio do jantar naquela noite infelizmente foi outro. Antes de comermos, porém, fomos presenteados com uma discussão maravilhosa entre vovô e tio Kadu, que dizia a plenos pulmões que o pai não mandava na vida dele.

— Enquanto você for menor de idade e morar debaixo do meu teto, eu mando em você, sim — garantiu Seu Ulisses, o rosto demonstrando raiva. — E desfaça esse bico, moleque. Se eu disse não, é não e acabou.

— Eu tenho o direito, caralho — reclamou tio Kadu, passando os dedos pelo cabelo preto. — É da minha mãe que a gente tá falando, porra!

— Pouco me importa — vovô acariciou o peito, depois, olhou em nossa direção. — Que demora foi essa, mocinho? E por que o senhor tá com essa carinha de bravo?

— Não vai ter treta? — questionei, olhando de um para o outro. — Pô, que chatice! Pensei que vocês iam sair na porrada.

— É, eu tambem — concordou Yuri na mesma hora. — Que vacilo de vocês.

— Venha cá me dar um beijo, seu pestinha lindo — rindo, vovô abriu os braços. Obedeci. — Por que o meu anjinho tá bravo? O que fizeram com você?

— Vô, tô muito chateado com a vó Salame — comentei, percebendo que vovó, mamãe e titia entravam na sala naquele momento. — Tô muito chateado com ela, cara!

— E por que o senhor tá chateado com Dona Salomé? — questionou Elisa, parando ao meu lado e enfiando os dedos em meus cabelos. — Tá todo sujo, né, porquinho? Chuveiro mandou lembrança, mermão!

— Porque ela não deixou a gente assistir filme pornô com ela — revelei, buscando os olhos de mamãe. Por algum motivo, Elisa ficou pálida de um segundo para o outro. — É muita falta de consideração com a gente, né, mãe?

Vovô, tia Tamara e tio Kadu riram, mamãe e vovó ficaram com os olhos grandões e os lábios entreabertos. Não entendi o porquê disso, afinal, não deveria ter nada demais em assistir filme pornô. Era o que eu pensava, né? Santa inocência!

— Nunca mais falo com vó Salame — cruzei os braços e bati o pé no chão. — Isso é muito injusto, eu nem ia fazer barulho pra prestar atenção no filme.

— Qual é a graça, tio Kadu? — sondou Yuri. — O Mateus tá certo, é muita injustiça com a gente.

— E pra piorar, aquela velha chamou a gente de criança — reclamei, cruzando os braços com um pouco mais de força. — E a gente não é criança, né, Yuri?

— Claro que não — ele concordou, olhando para todos os adultos. — Não tô entendendo nada! Por que vocês tão rindo da gente?

— Como é bom ser criança, meu Senhor amado — vermelho, vovô me prendeu em seus braços. — Eu te amo muito, meu filho! Muito!

— Olha você errado também — zangado, escapuli por baixo dos braços do idoso. — Eu sou praticamente adulto, vô.

— Sabe quanto tempo falta pra tu ser adulto, mané? — sorridente, tio Kadu me tirou do chão, obrigando-me a espernear. — Pelo menos 12 anos, vacilão.

Marcas do Passado: Segredos do Coração - (EM DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora