~. Capítulo 6 .~

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"Sejam bons ou ruins, todos carregamos segredos no coração.

Mateus Barcelos.".

MATEUS

Parecia até que alguém acabara de despejar um caminhão de gelo em minha barriga. Filho fora do casamento? Que história era essa de "filho fora do casamento"? Teria meu pai ficado louco de vez?!

— Que história é essa, mermão? — intrigado, tio Kadu voltou os olhos vermelhos na direção do irmão mais velho. — Tu tá muito louco, né, filho da puta?

— Tô louco é o caralho, esse velho traiu nossa mãe e teve um bas...

— NÃO BATE NO PAPAI, VÔ...

Daniela ficou simplesmente horrorizada com o segundo soco que nosso avô acertou no nariz do filho. Dessa vez, sim, ele conseguiu arrancar sangue do rapaz, o que contribuiu para me deixar profundamente chocado. A não ser que eu estivesse enganado, parecia que Ricardo falava a verdade. Será?!

— CALE ESSA BOCA IMUNDA E SAIA DA MINHA FRENTE — ordenou Seu Ulisses, ainda com o punho cerrado.

— A verdade dói, pai? — indagou Ricardo, a mão esquerda cobrindo o nariz.

— LEVE SEU MARIDO DAQUI, ANTES QUE EU COMETA UMA LOUCURA — prosseguiu vovô, olhando zangado para a nora.

Ninguém se mexeu, ninguém parecia respirar.

— ANDE LOGO! — o grito ecoou por todo o imóvel. — O QUE ESTÁ ESPERANDO, ELISA?

— Vem — em meio ao choro estridente de Diogo, mamãe puxou o esposo pelo braço. — Vamos ver esse nariz, parece que ele está quebrado.

— Isso não vai ficar assim — com a voz anasalada, meu pai continuou segurando o ferimento. — Você não vai conseguir esconder a porra da verdade por muito tempo, seu escroto!

— DESAPARECE DA MINHA FRENTE, DESGRAÇADO — mais nervoso do que deveria ficar, Seu Ulisses começou a tremer. — VAI PRO INFERNO COM ESSE VENENO, MOLEQUE MAL-EDUCADO!

— Ele tá falando sério, cara? — os olhos vermelhos de Kadu estavam mais inexpressíveis do que nunca. — Tu tem outro filho?

— Saia daqui você também — Seu Ulisses diminuiu o tom, entretanto continuou com o rosto indiscutivelmente púrpura. — Vá embora pro seu quarto.

— SE ISSO FOR VERDADE...

— PRO QUARTO, KADU — furioso, vovô empurrou o caçula na direção do dormitório.

— Você não manda em mim, eu não vou porra nenhuma — tio Kadu desvencilhou-se das garras do pai. — E você vai explicar que merda é essa de filho fora do casamento.

— Eu não vou explicar nada, e você vai me obedecer. Ainda sou seu pai — com uma força extraordinária, o velho conseguiu levar o filho até o dormitório. — Fique aí, depois eu volto para conversar contigo.

Parado no sofá feito uma estátua, assisti vovô andar até a janela da sala e respirar fundo várias vezes seguidas. Será que ele estava passando mal? Será que a pressão dele estava alta? Será que ele teria um piripaque?

— Vô? — o chamei baixinho, ainda incerto se deveria fazê-lo.

— Oh, meu anjinho lindo — ele virou ao ouvir meu silvo e me fitou com os olhos molhados. — Você não podia ter visto nada disso, pobrezinho.

Não consegui me mexer quando ele sentou no sofá e me colocou em seu colo. Ao fundo, a vinheta de abertura de Chiquititas" tomou conta do ambiente. Não era possível ouvir nada nos quartos, meu irmão já não chorava mais.

Marcas do Passado: Segredos do Coração - (EM DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora