~. Capítulo 5 .~

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"Porque, no fundo, todo mundo sabe que a verdade sempre aparece.

Mateus Barcelos.".

MATEUS

Pude notar um misto de choque e perplexidade no fundo dos olhos castanhos de minha mãe. Era mais do que óbvio, era explícito, que Elisa não esperava por uma pergunta como aquela. Fiquei intrigado quando enfim consegui enxergar preocupação nas feições dela.

— Posso saber porquê o mocinho ficou interessado nesse assunto tão de repente? — indiscutivelmente abalada, ela soltou meus pés e continuou a me encarar com seriedade. — Você nunca perguntou isso antes!

Se eu não tinha perguntado, era porque não dei a devida importância ao fato de ser a única pessoa com olhos azuis em nossa família. A verdade é que como qualquer criança de minha idade, eu só queria saber de brincar e me divertir. Se MP não tivesse feito a análise, diga-se de passagem muito perspicaz, talvez eu ainda demorasse algum tempo para fazer tal questionamento.

— Por que você não me responde? — fiquei ainda mais curioso do que já estava.

— Você puxou para minha falecida avó, filho — desembuchou Elisa, ainda ligeiramente tensa. — É por isso que você tem os olhos azuis e nós não, é herança da mãe de minha mãe.

— Sério? — fiquei interessado pelo assunto. — Então, me mostra uma foto de sua vó, eu quero ver!

— Eu não tenho nenhuma foto dela, Mateus — explicou mamãe. — Minha vó morreu quando minha mãe era bebê, não cheguei a conhecê-la.

— Então, como você sabe que ela tinha os olhos de bola de gude, mãe?

Fiquei mais confuso e desconfiado do que jamais estivera. Embora ainda fosse muito pequeno, tive a impressão que Elisa mentia. Hoje sou obrigado a concordar com as pessoas que diziam que eu era um moleque precoce e inteligente. Talvez outro menino de 7 anos aceitasse a história da mãe sem fazer objeções, mas eu sempre queria saber mais.

— Porque... porque... — ela pigarreou e desviou os olhos dos meus por um instante. — Porque meu avô vivia falando isso, cara!

Cocei o queixo e fitei o teto muito branco do quarto. Se aquilo era realmente verdade, então por que minha mãe, minha tia, minha irmã e meus primos não haviam herdado os olhos da mãe de vovó Margarida? Por que eu era o único sortudo a ser agraciado com aquele "prêmio"?

— E agora, o que foi? — quis saber Elisa. — Por que você ficou com essa carinha de interrogação?

— É que essa história é estranha, cara!

— Por que é estranha, velho? — a preocupação voltou com força total para o rosto de Elisa.

— Por que mais ninguém da família tem os olhos de bola de gude igual sua vó? — a pergunta saiu sem que eu precisasse fazer esforço.

— Porque ninguém é sortudo e especial como você, seu pestinha lindo!

No momento em que ela voltou a se posicionar para fazer cócegas em meus pés, meu avô entrou em meu quartinho em meio a bocejos. Fazia tempo que eu não via Seu Ulisses com a cara tão amassada e com os cabelos acinzentados tão desgrenhados. Com certeza ele havia dormido, e por isso ainda não fora me dar o tradicional beijo de boa noite.

— Você tá muito atrasado hoje — cruzei os braços, franzi o cenho e fiz bico para externar a raiva que sentia.

— Desculpe, meu anjinho lindo — ele riu ao se aproximar. — O vô cochilou um pouquinho.

— Isso é muito errado — demonstrei minha insatisfação. — Você só pode dormir depois de me desejar boa noite!

— Tá bom, então! Vamos desejar boa noite ao menino mais lindo de todo o universo!

Marcas do Passado: Segredos do Coração - (EM DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora