"Almas semelhantes sempre se encontram no caminho..."
Augusto Branco.
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Abandono. Um ato, um efeito de deixar para trás, sem intenção de retorno. Para o cérebro, a dor do abandono é registrada da mesma forma que a de um ferimento físico. Quando alguém que amamos nos abandona, o vazio que se instala é profundo, intenso e avassalador. Às vezes, esse vazio se apresenta de imediato; outras vezes, leva um tempo para nos alcançar, como se ainda estivéssemos tentando entender o que aconteceu. Mas, inevitavelmente, ele chega – aquele vazio estranho, incompreensível, que nos toma sem aviso, e que não conseguimos explicar.
Foi como um terremoto dentro de mim. Destruiu tudo: meu coração, minha energia, minha vontade de seguir em frente.
Uma vez, ouvi alguém dizer: "Morremos quando não há mais ninguém por quem tenhamos vontade de viver." Eu acreditei nisso por um tempo, mas, com o passar dos dias, percebi que a verdadeira morte não ocorre na ausência de uma razão para viver. Morremos, na verdade, quando a dor se torna insuportável, quando ela nos consome de tal forma que não há mais forças para resistir.
Antes mesmo de meu corpo mergulhar na água, algo dentro de mim já sabia. Meu pulmão, em um reflexo desesperado, clamava por ar, mas o peso da angústia que me afligia tornava-se tão mais urgente, tão mais insuportável, que minha mente se desligou da dor física. Tudo o que eu queria era ser livre, livre da dor que me rasgava por dentro.
E foi então que o tempo, de alguma forma, desacelerou. A queda foi longa, interminável, como um filme que se desenrolava em câmera lenta. Cada segundo parecia uma eternidade, e, enquanto o chão se aproximava, meu corpo, em uma dança involuntária, parecia já ter se rendido à gravidade.
Mas, como se o destino ainda quisesse me dar uma última chance, algo aconteceu. Quando eu pensava que a queda seria minha última, senti mãos fortes me envolverem. Mãos masculinas, firmes e protetoras, que surgiram de trás, amparando-me antes que eu tocasse o chão. Eu não sabia quem eram, mas aquelas mãos me carregaram com uma suavidade quase doce, me colocando no solo com uma ternura que contrastava com a brutalidade do meu próprio sofrimento.
Me virei instantaneamente, o coração batendo descompassado, na esperança de entender o que acontecia. E, para minha total surpresa, me deparei com alguém que jamais imaginaria estar ali. Seus olhos escuros, como abismos insondáveis, estavam amplamente arregalados de surpresa. Seus longos cabelos, pesados pela água, caíam sobre seu rosto, e sua roupa, completamente encharcada, grudava em seu corpo.
Antes que eu pudesse processar a cena, ele se aproximou, envolvendo seus braços em minha cintura com uma força inesperada. Sentir seu toque, sua proximidade, foi como um choque elétrico. Ele me puxou para mais perto, quase como se quisesse me fundir a ele. Seus dedos, delicados mas determinados, afastaram os fios de cabelo molhados que caíam sobre meu rosto.
Eu ofeguei o ar me faltando enquanto ele tocava minha testa com uma ternura que eu nunca imaginaria em alguém tão distante do meu mundo.— Então era você... — sua voz, grave e rouca, soou como um sussurro em meus ouvidos, mas foi o suficiente para me deixar sem palavras.
Eu franzi a testa, confusa, tentando entender o que ele queria dizer, mas ele não me deixou perguntar. Continuou, como se aquelas palavras fossem a resposta para um enigma que eu não sabia sequer que existia.— Dessa vez, eu consegui... Eu consegui te salvar.
Não sabia se o que escorria por seu rosto eram gotas de chuva ou suas próprias lágrimas, mas algo dentro de mim se despedaçou ao vê-lo assim, vulnerável e, ao mesmo tempo, tão determinado.
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REALIDADE PARALELA
RomancePriscila Silva Santos é uma mulher marcada por uma profunda depressão e baixa autoestima, mas encontra no amor de sua vida, Nicholas, sua única razão para viver. Totalmente dependente dele, ela constrói sua felicidade em torno da relação. No entanto...