CAPÍTULO 3

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~Matheus

Eu o vi se despedindo da sua mãe e irmã. Foi um tchau rápido, parecia que ele queria entrar logo e partir. Ele se sentou uns 5 bancos na frente do meu, pegou a janela – o melhor lugar – e depois colocou os fones de ouvido e esperou o ônibus sair. Parecia que não queria ser incomodado por ninguém, porém em instantes uma menina se sentou ao seu lado e começaram a conversar.

Depois disso comecei a prestar atenção em outras coisas, nas pessoas se despedindo dos pais, das namoradas falando para os caras terem juízo, entre várias coisas. Minha mãe já tinha ido, nem esperou eu entrar no ônibus e dizer outro tchau da janela. Ela era assim, sempre tinha compromissos mais importantes e nunca havia um momento mãe e filho. Meu pai também era assim, porém ele toda semana vem me ver e leva a gente pra algum lugar. É legal, eu gosto bastante.

Um dia eu estava deitado no sofá, quando minha mãe chegou do trabalho com nossa comida e um panfleto bem chamativo.

- Que lugar é esse? Acampamento de inverno? – pergunto entregando o folheto de volta. – Você não quer que eu vá pra esse negócio né?

- São só duas semanas filho, alias esse tempo vou ficar fora – falou passando a mão em meu cabelo.

- E se eu for ficar com meu pai, aposto que ele gostaria.

- Acho melhor não, ele ta muito ocupado com as coisas do casamento com a Larissa – falou revirando os olhos e sorrindo em seguida pra mim.

Meus pais tinham se separado faziam quase dois anos, o mesmo tempo que minha irmã se foi. Acho que meu pai se culpou demais, eles brigavam quase todos os dias até que chegou um momento e não aguentou, nos deixando por 'N' motivos. Tempos depois descobriram onde minha irmã estava, mais já era tarde demais.

Meu pai já está noivo faz dois meses, hoje em dia estou de boa em relação a separação e aposto que eles também.

- Não tem uma alternativa sei lá. Eu vou pra casa dos meus avós, dos meus amigos. Por favor me deixa ficar!

- Eu já disse que você vai e ponto final – disse terminando de se limpar e se levantando. – Não tem mais discussão. E estou indo deitar meu dia foi corrido.

- É pelo visto não tem jeito eu vou ter que ir pra esse negócio no meio do mato.

~*~

Peguei o crachá para o meu quarto. Era o 3°. Fiquei contente por ser esse pelo menos, era meu número da sorte. Mas não estava tão sortudo assim naquele dia, logo quando cheguei já havia uns garotos no quarto. Não queria falar com ninguém logo de cara. Comecei a guardar minhas coisas e só deixei um quadro que trouxe dentro da mala. Depois subi na cama e comecei a ler fingindo não ter ninguém ali.

Quando percebo um deles está me cutucando e pedindo que eu fale com eles. Então rapidamente levantei e falei o que era necessário pra aquilo acabar logo.

- Não tudo bem eu posso me apresentar – falei. – Me chamo Matheus, tenho 18 anos. E agora tudo bem para vocês? Desculpa, não sou bom com convivências, perdão.

Um deles fala pra gente ir e me pergunta se não vou. Falo em um tom sarcástico que sim. Ele pega o casaco e diz que ia me esperar lá.

Quando todos já saíram pego o porta retrato e fico olhando a foto por alguns minutos. Percebo que se passaram alguns minutos, então o deixo em cima da cama, mas com o edredom em cima e vou para o mini teatro.

Cheguei e fiquei bem na porta só observando, esperando o momento que não queria. A escolha dos grupos. Fui quase um dos últimos a pegar o papal que definia qual seria minha equipe.

-Cervos sério? Não podia ser... os ursos talvez? – perguntei pra um dos inspetores que estava nas urnas.

-Desculpe, mas você vai ter que ficar com esse mesmo. Ao menos que queira trocar com alguém.

-Não, tudo bem esse ta ótimo – falei acenando com a cabeça e um sorriso de canto.

Eu não queria aquele grupo pois já tinha visto um dos meninos do meu quarto pegarem ele. Já tenho que passar a noite, imagina quase o dia todo.

Como fui o último do grupo me deram o envelope da primeira prova. Era um caça bandeira. Então caminhei de encontro ao grupo e logo uma menina me notou de cara – ah que ótimo!

Se separamos e fomos cada um pra um lado. Até que aquele lugar era bonito, a paisagem, o clima frio. Encontrei três bandeiras e avistei de longe uma ao lado de um riacho, mas quando estava quase chegando, vi que os outros dois da minha equipe já estavam lá.

Fiquei observando o que os dois faziam e pensei – não tínhamos combinado que seria individual?

Em seguida ela parte pra cima dele tentando beijá-lo e eu vejo que estou sendo muito intrometido e saio dali. Deixando os dois a sós.

Como não encontro mais nada, resolvi deixar as bandeiras que peguei no lugar combinado e dar uma volta pra ver se encontrava alguma coisa mais interessante naquele lugar.

Dessa vez fiz o caminho reverso e fui para o outro lado. Andando numa trilha achei um saquinho com um pozinho branco dentro, já saquei o que era aquilo na hora. A embalagem era até personalizada, parecia que era feito especialmente para o "produto". O logo tinha um 'F' e embaixo um nome, Ferri.

É parece que os jovens aqui querem uma diversão a mais não é mesmo.

Continuei andando e nem vi a hora passar, já estava escurecendo e minha bateria ia acabar logo, logo – preciso voltar – pensei.

Voltando pro acampamento resolvo pegar outro caminho diferente. Na minha cabeça ele seria mais rápido. Porém acabei me perdendo e já estava noite. Segui caminhando na esperança de encontrar alguém que pudesse me ajudar a voltar para o acampamento.

Já se passavam das nove e nada. Eu realmente entrei em desespero. Nem um ponto de luz no meio daquela floresta. Eu andei tanto em círculos, e me perdi mais ainda.

Meu celular tinha bateria ainda, mas tava sem sinal. Saí procurando, quando tropeço no que devia ser um troco no chão, e caio em seguida. Sinto uma dor imensa no meu tornozelo – espero que não tenha quebrado.

- Ahhhh era só que me faltava – falo sentindo uma dor absurda.

Passo a mão pra tentar imunizar a dor, sinto um líquido e logo depois começa arder.

- Será que é assim que eu vou morrer? Sozinho, no frio, caído e no meio de uma floresta – falo gemendo de dor – sabia que não era uma boa ideia vir nesse acampamento.

Continuei sentado por um bom tempo e pedindo socorro.

Quando percebo um barulho e ouço alguém vindo.

- Oi! Tem alguém ai? Eu tô perdido e machucado, alguém me ajuda!

Então os passos vão se aproximando e consigo ver a luz do celular aumentando. Nunca fiquei tão feliz em ver alguém.

- Quem ta aí? Eu... eu... eu to com um graveto enorme que pode causar sérios danos! – ele falou assustado.

- Aqui, eu to aqui!

A luz se aproxima cada vez mais e finalmente ele me encontra. Nunca achei que ficaria feliz em vê-lo novamente.

- Matheus é você? – pergunta ele assustado e me ajudando logo em seguida – como veio para aqui?

- Aí aí, vai com calma, acho que torci meu tornozelo – falei me levantando e colocando meus braços em volta do seu. – Obrigado, de verdade. Mas como se chama mesmo?

- Pedro, me chamo Pedro.

Do Outro Lado Da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora