CAPÍTULO 7

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~Matheus

De manhã eu e Pedro fomos para a enfermaria, falei que não precisava de companhia, mas ele insistiu e foi comigo. Chegando lá a enfermeira disse que só tinha sido uma torção e que logo, logo estaria bem. Ela me deu um remédio e em algumas horas eu já estava melhor.

Não me deixaram participar da corrida por conta do meu pé. Eu tinha certeza de que já estava melhor e estava garantido, porém meu time disse não. Pelo menos levamos os pontos e ganhamos.

Depois que o jogo acabou todos voltaram para o refeitório onde o almoço já estava servido, mas eu resolvi voltar pro quarto e tomar um banho antes. Quando acabo de me arrumar, Pedro aparece do nada e me pede um favor.

- Ai que bom, você tá aqui – ele falou pegando uma blusa sua. – Seguinte, você vai se passar por mim e quando ela chegar não fala nada entendeu?

- Ela quem? O que você tá fazendo, calma aí.

- Alicia.

- Tá e o que tem ela? – perguntei não entendendo nada.

- Ela com certeza vai vir até aqui e você meu amigo, vai ser eu – falou me dando uma camisa.

- Espera aí, por quê? E ela nem sabe que essa blusa é sua.

- Verdade – disse parando no meio do quarto. – Droga tenho que pensar em outra coisa.

- Você pode me explicar pelo menos o que rolou?

- MP3! – ele grita. – É isso, toma. Ah e ela inventou algumas besteiras sobre a gente, não tô a fim de falar com ela agora. Boa sorte aí – falou indo embora.

- Pedro volta aqui - grite, mas ele ja tinha ido.

Ele foi embora sem me explicar direito o que tinha acontecido. Só me falou que era pra ser ele e me deu seu MP3. Garoto estranho.

Fico sentado na sua cama esperando Alicia aparecer e poder colocar minhas experiências como ator em prática. Não demora muito e já ouço alguém batendo na porta, abaixo o som da música para ouvir o que ela está falando. Não conseguia ouvir muito bem e resolvi abrir a porta.

- Poxa você deve ter magoado ele não é mesmo – falei abrindo a porta.

- Cadê ele? E porque tava usando as coisas dele?

E não é que ela sabe quais roupas são dele. Deve ser o estilo ou ela percebe demais.

- Não sei, por aqui não passou. Falando nele, pra que tanta fissura assim? – resolvi perguntar achando que ela me contaria a verdade.

- Não é da sua conta. Eu e ele temos uma coisa especial, eu sinto isso.

- Hum, mas e se simplesmente ele não te querer?

- É claro que ele vai, eu sou uma boa pessoal, sei conquistá-lo. Bom se vir ele diga estou o procurando, obrigada – disse virando as costas e indo embora.

Comecei a pensar que talvez ela seria aquelas pessoas possesivas, coisas assim. Espero que eu esteja errado, se não, coitado do Pedro.

Coloquei suas roupas de volta no armário e dei uma bela arrumada no nosso quarto, aqueles meninos sabem fazer uma bagunça. Depois que termino fico na cama olhando pro nada e pensando no que poderia fazer. Resolvo caminhar mais uma vez, só que agora por onde eu conheço e o mais rápido possível. Deixo um bilhete em cima da cômoda só para saberem onde fui.

Peguei a trilha do outro dia, estava certo de que dessa vez eu não iria me perder. O percurso era familiar ainda, então estava tudo sobre controle. Caminho lentamente, observando a paisagem e os sons ao meu redor. Talvez essa viagem tenha sido uma boa ideia.

Enquanto ando penso na minha família, nos meus pais e principalmente na minha irmã – ela iria adorar isso aqui.

Perder minha irmã foi uma das coisas mais difíceis pra mim. Ela era uma das minhas inspirações, se não a maior. Tudo o que fazia colocava um toque seu de alguma maneira. Quando meus pais me falaram que ela estava desaparecida, meu mundo caiu. Fiquei no meu quarto durante duas semanas sem falar com ninguém, a convivência era complicada até com meus próprios pais.

A notícia tinha se espalhado por toda a cidade e região. Houve várias buscas, reportagens, até que encontraram ela em uma casa abandonada e sem vida. A partir daí as coisas só pioraram, meus pais já estavam separados, o que contribuiu mais ainda para o sofrimento da família. Demorou alguns meses para eu voltar a ver meus amigos e frequentar lugares de fato.

Ainda tenho medo de me relacionar com as pessoas e confesso que posso ser antissocial. Mas tenho trabalhado nisso. Um dos motivos de não querer vir para esse acampamento era esse, não fazer amizades. Mas pelo visto está dando tudo certo.

Paro em uma árvore pra dar uma respirada e percebo que ela está marcada com uma seta e uma fita. Ela aponta para outra árvore com outra seta. Começo a seguir em direção que a seta indica e percebo que muitas pessoas já passaram por lá porque o caminho já formou uma pequena trilha.

De repente as árvores vão acabando e chego em uma estrada.

- O que? Da onde surgiu essa estrada? – falo sozinho.

Olho para baixo e mais uma seta, ela indicava pra direita. Então começo a descer a estrada e ver onde ela vai dar. Não demora muito e ela acaba. O final dela dava em um lago muito lindo.

O lago ficava em volta de muitos pinheiros e tinha uma pedra enorme bem no canto. Era muito lindo.

- Por que será que a estrada da nesse lugar?

Começo a andar em volta do lago e subo em cima da pedra para ver melhor a vista. Eu poderia ficar lá por muito tempo só observando.

Estava indo tudo bem, até que percebo uma fumaça saindo do meio da floresta. Parecia fumaça de alguma fogueira que estavam fazendo. Vi que talvez alguém poderia estar alí, então decido ver o que estava acontecendo.

Quando chego perto ouço várias vozes rindo e conversando. Estão sentados e comendo alguma coisa que não consegui identificar. Eles ficaram mais alguns minutos conversando e em seguida começaram a guardar suas coisas numa pequena casinha que havia lá.

Dois deles guardavam alguns pacotes dentro do chão. Na verdade, acho que era um tipo de esconderijo secreto. Em dez minutos tudo estava limpo e o lugar ficou vazio. E é aí que vou matar minha curiosidade e ver o que era aquilo.

Tentei olhar pela janela, mas não tinha nada demais, apenas cadeiras, uma cama, armários e uma mesinha de canto, que em cima tinha um caderno. Comecei a procurar o tal esconderijo e ver o que escondiam lá. Andei em volta da casa várias vezes e nada.

- Vai pensa, esse negócio ta por aqui, você os viu entrando e saindo do chão. Só pensa Matheus – falei.

Fico encarando o chão e cada detalhe nele, vou andando até que percebo algumas folhas à mais e uma coloração diferente no chão, piso em cima e sinto o chão mexer. É aqui.

Tiro todas as folhas de cima e tento abrir a porta, mas tem um cadeado enorme. Resolvo arrombar a porta da casa pra ver se lá tinha alguma chave. E não é que tinha, foi até meio estranho pois era obvio demais. Abro o cadeado e entro no lugar, ele era grande e tinha vários sacos e pacotes nele.

Pego um e dou uma olhada, mas em todos não havia nada. Porém tinha uma caixa com alguns adesivos, acho que eles colocavam depois que tiravam daqui. Abro a caixa e vejo várias letras 'F' novamente.

- Ai merda, não acredito que é aqui que eles guardam as drogas. Ok isso é muita coisa, o pessoal precisa saber.

Saio de lá e tento deixar como achei – menos a porta, isso eu acho que vão perceber. – Volto pro acampamento e os garotos estão no quarto conversando sobre coisas aleatórias, percebem que eu chego e já me incluem na conversa.

Penso se vai ser bom contar para eles o que descobri e logo vejo que por enquanto é melhor não. Talvez para Pedro que já sabe do saquinho que achei, mas prefiro deixar pra depois, vou aproveitar o resto do dia com eles.

Do Outro Lado Da FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora