Conversa Interessante

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Percy Jackson

Estava sentado em frente a fogueira do acampamento. Parecia uma tradição, logo após o jantar todo mundo se dirigia para cá. Era bastante agradável, acho que era um momento de interação entre os campistas. Os filhos de Apolo fizeram uma rodinha de canto e o resto os acompanhava, ainda havia uns casais separados e várias rodas de conversa. Me senti um intruso, afinal não conhecia aquelas pessoas, e meus amigos que haviam chegado a tarde foram dormir. Típico... Grover e sua família estavam conversando com os deuses menores, que ao meu ver não eram ruins e nem soberbos como os Olimpianos. Acredito que terei que trazê-los para o nosso lado, pois o acampamento parece os seguir.

- Olá. - Falou uma criança sentando ao meu lado, atrapalhando meus pensamentos. Eu estava bem afastado de todos, sentado na última fileira de cadeiras do anfiteatro, acreditei que naquele lugar ninguém me veria e seria mais fácil visualizar a todos. Por isso fiquei surpreso com a interrupção.

- Oi... – Cumprimentei ainda estranhando. Olhei a garotinha, que aparentava ter uns oito anos, era ruiva, pele alva, usava um vestido vermelho rodado. Mas o que mais me surpreendeu foram seus olhos, eles eram em um tom de castanho que a certa luz pareciam tornar-se vermelhos. Aquilo me despertou uma certa curiosidade. - Como me achou aqui?

- Seu objetivo era ficar imperceptível? - Questionou a garota, levemente divertida.

- Sim. - Respondi rapidamente. - Quer dizer, não.

- Sim ou não? - Ela sorriu e ergueu uma sobrancelha.

- Não, eu só achei que ninguém me notaria aqui. - Disse olhando para os campistas. E eles realmente pareciam não me notar, nem mesmo Grover que conversava divertido com o recém chegado Leo.

- E se eu fosse um campista realmente não notaria. - Confessou a ruivinha. Voltei meu olhar para ela.

- Se você não é um campista então o que você é?

- Oras, me faz uma oferenda e não me reconhece? - Ela perguntou parecendo querer soar séria.

- Suponho que não seja Hermes. - Comentei rindo. Ela me acompanhou negando com a cabeça. Eu fiz uma breve reverência. - É um prazer conhecê-la, Lady Héstia.

- Digo o mesmo, Percy Jackson. - Ela disse.

- Como sabe o meu nome? – Perguntei. Eu sabia que os primordiais poderiam ler mentes, me perguntei se os deuses faziam o mesmo, o que me deixaria em uma situação complicada.

- Eu sei muitas coisas. - Ela se limitou a responder isso. Ficamos um tempo calados, apenas observando os campistas.

Aquilo me intrigou. Eu entendia o porquê dos deuses menores estarem ali, mas ela? Uma deusa tão poderosa e antiga, o que estaria fazendo ali? Presumi que ela não lia mentes, afinal não mostrou nenhuma reação diferente do comum, o que me deixou aliviado.

- Não quero parecer rude, mas o que a Sra. faz aqui?

- Eu sempre estou aqui. - Respondeu me olhando. - Eu cuido da fogueira do acampamento desde o momento de sua criação, só que nenhum campista parece me notar e se notam não dão nenhum valor.

- Mas você é uma deusa. - Disse confuso. - Como podem não lhe notar? - Ela ficou calada por um tempo e pensei que a tivesse ofendido de alguma maneira e já iria me desculpar, quando ela resolveu se pronunciar.

- Eu fui esquecida na história. - Disse sem emoção. - Eu não luto em guerras, nem tenho filhos, ou causo algum tipo de transtorno. Minha existência se resume em acalmar os meus irmãos quando ameaçam fazer guerra e cuidar do acampamento.

- Isso é bem legal. - Comentei. Ela me olhou surpresa. - Se não fosse por você os Olimpianos já teriam destruído o mundo. Você deve ter salvo o mundo mais vezes que os heróis aclamados.

- Você acha mesmo isso?

- É a verdade, não? - Disse. Ela me olhou tentando ver algum resquício de mentira e sorriu tímida quando não encontrou.

- Suponho que sim. – Murmurou, voltando o olhar para a fogueira. - Você foi o único semideus dessa geração que me fez uma oferenda, por isso vim até aqui.

- Está explicado. - Falei baixo, acho que ela não ouviu. - Muitos heróis não são reconhecidos. - Me lembrei da minha mãe, ela era uma heroína para mim. Só para mim.

- Acredito que sim. - Falou pensativa. Voltamos ao silêncio. Não era um silêncio desconfortável como aqueles em que você se sente obrigado a achar outro assunto para não ficar um clima constrangedor. Era um silêncio agradável, acho que entendíamos que cada um tinha muito o que pensar.

- Posso fazer uma pergunta?

- Já fez. - Ela sorriu. - Mas sim, pode fazer outra.

- Qual foi a melhor época para você? - Eu realmente estava curioso. Já havia feito essa pergunta para Hécate, o que não foi muito legal, já que ela é um pouco sádica e falou que foi a Idade Média. Ela dizia que era o tempo que poderia fazer o que quisesse com os homens que ninguém iria desconfiar, afinal tudo sempre era culpa de alguma bruxa. Revirei os olhos, os humanos as vezes são tão burros quanto um asno.

- Assim que os meus irmãos assumiram o poder. – Respondeu, me tirando dos meus pensamentos. - Sabe, nem sempre eles foram aqueles idiotas. - Um raio se fez presente. - Não é mentira, irmão. - Héstia revirou os olhos. - Juntos criamos o Olimpo e por muito tempo Hades e eu tínhamos um trono e éramos respeitados. Mas com o tempo o poder subiu à cabeça de Zeus, principalmente depois de uma profecia que dizia que um dos filhos dele o destronaria. Claro, isso não o impediu de ter vários, principalmente quando se convenceu de que a profecia se tratava de Atena e essa jamais o trairia.

- Mas, se você era uma Olimpiana, como perdeu seu trono? - Questionei. Eu havia estudado muito a mitologia, pois tinha que conhecer meus inimigos, mas nunca tinha ouvido essa história.

- Eu não o perdi. - Ela fez uma careta. - O cedi para Dionísio, para que não começasse com uma guerra.

- Uau! - Estava surpreso com a humildade da deusa do fogo. Nunca achei que um Olimpiano fosse capaz disso. - Você é incrível. - Deixei escapar. Héstia arregalou os olhos e suas bochechas ganharam uma coloração dourada.

- Obrigada. - Disse tímida. Observei que a música tinha terminado. Vi que os campistas estavam indo embora. Eu não queria ir, estava muito legal conversar com Héstia, eu queria saber mais. E não é como se as harpias fossem me comer, na verdade estava mesmo precisando falar com elas. Mas não podia levantar suspeitas.

- Acho que eu tenho que ir. – Falei, me levantando. Héstia olhou para baixo.

- Acredito que sim.

- Mas a gente pode se ver amanhã, né? - Perguntei esperançoso. Eu não queria usá-la, mas Héstia era uma grande fonte de informação. Eu não podia perder essa oportunidade.

- Claro! - Ela falou, se levantando empolgada. - Digo, sim. - Sorriu de forma mais contida.

- Então boa noite, Mi Lady. - Fiz uma breve reverência.

- Boa noite, Percy. - Respondeu. Eu saí do anfiteatro rumo ao chalé de Hermes. É, parece que o acampamento acabou de se tornar mais interessante.

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