6 capítulo

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Segunda-Feira

Acordo, tomo café e vou até o ponto de ônibus para conseguir chegar ao trabalho, todos os dias da semana são os mesmos dias estressantes e cansativos para quem é pobre no Rio de Janeiro e principalmente para mulheres negras como eu que além de tentar se manter na vida ainda precisa lidar com o Racismo estampado em cada esquina, em cada olhar, em cada parada de ônibus e até mesmo em alguns elogios.

Chego no Trabalho e vejo Laura, e outras pessoas em suas mesas, me sento e guardo minhas coisas do lado.
Olho para Laura e vejo que esta digitando algo.

-Laura? queria me desculpar por Sábado, eu não queria ter te tratado daquela forma, Sinto muito.

Ela não me responde e continua digitando. Então me afasto e começo a arrumar alguns papéis que haviam deixado sobre minha mesa.

-Maria do socorro?
Ouço alguém me chamar, e levanto a cabeça.

-Sim?
respondo e vejo a secretária do Sr.Manoel em pé na minha frente.

-O Sr. Manoel esta te chamando na sala dele.

-Certo.

Levanto e vou em direção a sala.
Entro e vejo ele sentado com uma postura reta e um expressão séria no rosto, um nervosismo sobe pelo meu rosto.

-Mandou me chamar, Senhor?

-Sim, Sente-se por favor! Maria faz quanto tempo que trabalha nessa empresa?

-Dois anos Senhor.

-Dois anos... Muito tempo não? Gosta de seu trabalho aqui?
ele me pergunta.

-Sim, sou muito grata.
Respondo sem encara-lo

-Bom. É o seguinte Maria, Ficamos felizes por sua contribuição na nossa empresa durante esses anos. Mas as coisas estão se renovando e preciso mudar algumas coisas por aqui, então este sera seu último dia aqui e não se preocupe pois vou depositar o seu pagamento essa semana.

Olho para ele atônita ao que ele acabou de falar, de repente tudo ao meu redor parou.

-Como...Como assim?
tento pronunciar

-Sinto muito, mas não precisamos mais do seu trabalho.
ele responde duramente

-Mas eu não tenho nenhum outro emprego, e preciso desse dinheiro.

-Sinto muito.

-Eu posso trabalhar mais, vou me esforçar mais, vou...

-Maria, você não entendeu? -ele me olha- Você é o problema, olhe para essa empresa, estamos crescendo e nos tornando popular na sociedade. Não queremos que uma pessoa como você.. danifique nossa imagem.

Pareço incrédula

-Como eu? -repito- O senhor quer dizer, Uma pessoa negra? Esse é o problema?

-Sim.
ele responde normalmente.
Engoli a seco, e olhei bem para o rosto dele que esta completamente normal.

-Sabe o que eu espero? Que essa sua empresa afunde cada vez mais em seu próprio racismo. Passar bem!

Me levanto da cadeira, saio em direção a minha mesa, e começo a juntar minhas coisas.

-Ei, o que houve?
Laura pergunta baixo para mim.

-Infelizmente eu fui demitida.
respondo sem encara-la.

-O quê? Mas porque?

-Porque é assim que funciona com gente negra como eu Laura, ja estou acostumada.

-Mas, isso esta errado! -ela fala- Espera, Vou dizer unas verdade agora pra esse babaca.

-Não! não quero que você perca seu emprego por minha causa.

- Então vou te levar em casa.

Enquanto atravessamos a rua e Laura procura por seu carro no estacionamento, olho para trás e vejo a editora novamente, mas sinto uma sensação de liberdade, o que é totalmente confuso porque eu acabei de perder o único emprego que eu tinha.

-Ei, vamos!
Laura grita para mim dentro do carro.

Ando ate lá e saimos do estacionamento em direção a minha casa.

-Eu sinto muito amiga, mas nós vamos encontrar outro emprego ta? Não se preocupe.
Laura olha para mim rapidamente enquanto dirige.

-Eu sei disso, Vou encontrar outro, só estou cansada disso tudo sabe? De não me encaixar em nenhum lugar por conta de quem eu sou.
Cansada de encarar todo dia olhares silenciosos e cheios de acusação sobre mim.

Ela diz:
-Vai ficar tudo bem.

De frente com o DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora