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Tudo estava claro demais quando Peter acordou. O primeiro estímulo que alcançou sua consciência foi a cegueira momentânea que ardeu seus olhos, e, em seguida, os lábios secos o lembraram da sede que arranhava sua garganta. Mas apesar do incômodo, o toque singelo na sua mão o fez se sentir genuinamente grato. Quando sua visão normalizou, seu coração se aqueceu ao ver Deadpool debruçado sobre a cama, segurando sua mão como se pudesse protegê-lo do mundo. Ao perceber que mesmo trajado ainda sentia os relevos dermatológicos, Peter sorriu porque Wade havia tirado a luva para sentir o seu tato, sendo assim, aproveitou a oportunidade para acariciar a mão do companheiro.

- A madame tá no sono de beleza? - brincou, fazendo-o pular de surpresa.

- Ah, meu senhor! Baby boy!!! - Wade gritou de felicidade, já levantando a máscara e atacando os lábios do herói que desviou.

- Wade, eu acabei de acordar, eu tô com bafo!

- Hm, foda-se? - voltou a beijá-lo, mas Peter o interrompeu. - Oww, vem cá meu dragãozinho!

Peter tentou usar sua mão para afastá-lo, mas não sentiu seu braço responder. Seu corpo congelou e seu rosto empalideceu enquanto abaixou os olhos ao braço coberto, se lembrando de todo o contexto que o cercava: estava em um quarto hospitalar e havia acabado de sair de uma cirurgia ortopédica corretiva.

Peter, sentindo a tensão o corromper, prendeu a respiração e retirou lentamente o lençol de cima do seu braço, notando que estava com um gesso que abrangia desde a palma da mão até acima dos cotovelos. Levantou os olhos ao parceiro que o olhava em silêncio.

- Eles falaram algo? Eu perdi o movimento do braço?

- Não, tá tudo bem, Petey, deve ser a anestesia local, você não dormiu muito. - Wade deixou seu sorriso aparecer. - Disseram que você é duro na queda, conseguiram reconstruir seus nervos direitinho, algo sobre flexibilidade epitelial, eu sei lá o que isso significa, e a membrana do seus ossos não foi tão danificada quanto o esperado, então meio que facilitou o trabalho deles.

Peter ergueu as sobrancelhas sentido-as roçar na máscara, só notando agora que ainda estava com ela. Olhou suas vestes, vendo que estava vestido com uma roupa hospitalar.

- Troquei você, Spidey, não podiam te deixar entrar tão sujo na cirurgia. Não deixei que tirassem a máscara por completo, então está seguro.

- Wade, eu... nem sei como agradecer. - Peter sorriu, sentindo o coração palpitar forte de gratidão, mas logo seu olhar pesou, enquanto o sorriso sumia. - Eu... sinto muito.

Deadpool franziu o cenho ao ouvir a voz entristecida do herói, mas antes que pudesse questionar, a porta do quarto se abriu repentinamente. Era Jéssica. Tinha algumas contusões e bandagens sobre o rosto surpreso.

- Peter! Seu... pirralho!! - ela correu até o rapaz e o abraçou com força, espremendo o corpo contra o seu. Talvez fosse a prevalência do anestésico no corpo do herói, mas aquela foi a primeira vez que a investigadora abraçava alguém sem que essa pessoa não urrasse.

- Jéssi- o rapaz tossiu, engasgado pela falta de ar.

- Quer quebrar o que restou dele, sua doida? - Wade a puxou, arrancando-a de Peter. - Desde quando você abraça as pessoas? Você tá saindo do personagem.

- Cala a boca, mortadela estragada.

- Você tá falando da minha cara ou do meu pau?

- Ew, desnecessário. - Jéssica se soltou, voltando sua atenção a Peter. - Você dormiu tão pouco, deveria descansar mais.

- Jéssica, cadê o Matt? - Peter questionou, buscando pelos olhos escuros da mulher que tinham um brilho distante.

Seu sentido aranha despertou como se tivesse cuidado, ressoando na sua consciência, pedindo para que se preparasse para algo. Peter não sabia o porquê, mas sabia que não era um alarme de perigo. Era um alarme de receio, de preocupação. Pelos seus olhos, o tempo pareceu pausar enquanto investigava o rosto de Jéssica. Haviam tantos hematomas, ferimentos e bandagens limpas, mas o que tinha mesmo sua atenção eram seus olhos que brilhavam culpa.

Just a HabitOnde histórias criam vida. Descubra agora