ᴀᴏ ᴠᴇʀ a filha correr para longe, Valquíria imediatamente tentou ir atrás, mas Ivaar nem olhou para Kaira enquanto ela corria, apenas segurou o pulso da mãe desesperada.
— Pra onde você vai?! Kaira! — ela gritou e tentou se desvencilhar da mão de seu pai — Me solta!
— Ela consegue vê-los, Valquíria.
Ivaar finalmente olhou para Val, que parou de se mexer com a declaração. Ela o encarou, como se não entendesse, apesar de suspeitar do que poderia ser. Para confirmar, indagou em um sussurro:
— O quê?
— Kaira consegue enxergar os espíritos. Eu soube desde a primeira semana. Ela viu a mesma raposa que você costumava ver na floresta nas noites em que a Aurora Boreal aparecia.
Val se jogou na cadeira que estava ocupando ao esperar pelos dois e passou as mãos no rosto. Então, não eram coisas de sua cabeça?
— Mas com essa idade? Eu os via somente quando era criança. E como você sabe que ela saiu correndo por causa de um deles?
Ivaar suspirou e se sentou na cadeira de frente para Valquíria. Ele entrelaçou as mãos em cima da mesa, pensando qual seria a melhor forma de dizer aquilo. Parecia muita viagem para uma pessoa de sua idade.
— Aquela raposa, ela estava ali, na pista de taxiamento. E parece que ela veio buscar a Kai.
— Co-Como assim? Está nevando lá fora, o que aquela menina vai fazer? E se alguma coisa acontecer?
— Essa nevasca também é um plano da raposa, dá pra sentir, Valquíria. Você não precisa se preocupar, eles vão proteger a Kai.
— Você tem certeza?
— Você também não confiava neles quando era mais nova? Confie agora também.
Val o encarou, estupefata. Quando criança, ela se lembra de ter medo de contar aos seus pais o que via naquela floresta. Desde que se entendia por gente, eles diziam que a floresta era diferente por espantar os animais, mas ela era capaz de ver além do senso comum.
O medo de dizer o que enxergava residia em como seus pais reagiriam. Sua mãe foi a primeira a saber, já que Val deixou escapar que uma raposa em um livro de figuras se parecia com a que ela via entre as árvores.
Quando Ivaar soube, não teve muita reação, e só pediu para a filha tomar cuidado. Val achava que ele nunca acreditara e que nem se lembrava mais disso, mas era o completo oposto.
— Você os vê desde quando? — ela encarou o pai, que hesitou por um instante.
— Desde antes do acidente, eu imagino. Sempre os vi.
Valquíria arrepiou com a menção ao acidente. Quando Ivaar tinha por volta de 20 e poucos anos, ele apareceu misteriosamente em frente ao hospital de Tundra, machucado e pedindo por ajuda, tanto que desmaiou no meio do pronto socorro. Ninguém soube o que aconteceu e ele acordou sem se lembrar de nada. Procuraram registros na prefeitura, mas Ivaar não era das redondezas.
O diagnóstico foi amnésia, sem uma causa específica, se Val se lembrava bem. Apesar de aquilo lhe causar arrepios e de nem gostar de imaginar como Ivaar se sentiu na época, ela era grata à ocasião porque seus pais se conheceram no hospital. Bera era uma enfermeira iniciante na época, e ajudou a cuidar de Ivaar. Desde então, nunca se desgrudaram até o falecimento dela.
Lembrando-se do ocorrido, Val detectou a aliança no dedo do pai. Ele nunca a tirou, então, refletiu. Com um gosto amargo na boca e tentando se tranquilizar quanto à situação de Kaira, Valquíria ergueu o olhar.
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Quando cai a última folha ✓
Fantasy"O destino é inalterável, o rumo é certeiro. Por outro lado, temos o livre arbítrio para alterar o modo como vemos a realidade, ɴós somos mutáveis." Com o último outono, Kaira perdeu a pessoa mais preciosa em sua vida, e agora precisa enfrentar um i...