14. Luzes do Norte

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ᴄʜᴇǫᴜᴇɪ ᴏ relógio de pulso que havia colocado justamente para a ocasião pela milésima vez. Oito horas e vinte oito minutos.

Soltei o ar, trêmula. Meu coração retumbava contra meu peito, e nada disso era por causa do frio.

A conversa com minha mãe ia e vinha a minha mente, eu focada em me lembrar de todos os conselhos e não me precipitar. Porém, mais um pensamento a processar e eu entraria em pane.

Forcei os dedos ao redor da caixinha com doces que segurava — que Val havia trazido para mim, mas eu decidi dar a Glacier —, a qual continha um rápido desenho que fiz dos gêmeos e do irmão mais velho. Só faltava o dono do presente.

— Cadê você..? — sussurrei para as árvores, indo checar o relógio mais uma vez, quando uma luz dominou a floresta.

Assustada, procurei pela origem daquilo e, quando finamente achei, meus olhos ficaram fixados. Ela vinha do céu, de uma extensão ondulante e etérea, que ia de infinito a infinito, oscilando entre o verde e o azul, em uma dança regida pela música das estrelas.

Tudo ao meu redor estava das cores refletidas, inclusive as árvores foram tomadas por aquele espetáculo, projetando sombras, enquanto a neve cintilava e me convidava a fazer parte da sinfonia desconhecida. Aquilo era o que as pessoas tanto buscavam ao visitarem a região.

As Luzes do Norte. A Aurora Boreal.

Ela se derramou pelo céu como água sendo dividida por rochas, e ondulou por toda a extensão do mar de estrelas, como se possuísse uma correnteza própria. Fiz questão de memorizar aquela cena.

O fôlego ainda estava preso em minha garganta quando meu relógio apitou de repente, indicando que era 20:30. Passos ecoaram perto da entrada da floresta, e eu logo não estava mais sozinha.

— Gostou? — Glacier estava com um sorriso sapeca no rosto, quase convencido. Eu o encarei, sem palavras, e suas orbes glaciais brilharam. — Vou tomar isso como um sim.

— Oi.. — foi tudo o que consegui dizer. Ele riu.

— Vem, conheço uma vista melhor.

— Espera, Glacier, nós não devíamos.. Conversar primeiro?

— Isso está te preocupando tanto assim? — senti minha garganta secar, mas quando ele sorriu, meu nervosismo amenizou — Eu gostaria que você curtisse um pouco o show primeiro.

Glacier estendeu a mão para mim, suas geleiras me analisando com um brilho calmo, refletindo as luzes. Segurei sua mão sem hesitar, sentindo a maciez de sua palma ao ser puxada contra seu corpo.

— Quero que você curta essa noite, o céu está brilhando só para você.

Ele beijou minha testa demoradamente, e eu pude ouvir seu coração bater acelerado. Pensei em retrucar, porque a princípio era óbvio que eu não me acalmaria com ele sendo tão corajoso daquela forma, mas acontece que eu estava errada.

Assim que senti os lábios dele em minha pele, acordei para o momento e o resto das agitações em mim cessaram. Parecendo perceber o efeito que causara, Glacier sorriu e, de repente, o arco-íris dele nos envolveu.

O teletransporte foi tão rápido que foi como se eu simplesmente piscasse. Olhei ao redor e notei que estávamos no alto de uma montanha, com toda uma imensidão de neve abaixo de nós.

As Luzes do Norte estavam a toda nossa volta, refletidas pela brancura do inverno. Era como estar circundada em um mar vibrante.

— Glacier, aqui é... Incrível. — arfei maravilhada, voltando-me em sua direção — Onde estamos?

Quando cai a última folha ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora