Bailey está sentando no quarto, em silêncio. Lá fora o barulho dos pássaros e de um cachorro latindo não muito perto. Ele não se mexe.
Nas mãos, tem um retrato prata emoldurando uma foto de quatro jovens sorrindo: um chinês, um americano, um canadense e ele próprio, o filipino. Todos com moletons brancos. Uma lágrima escorre de seu rosto, a qual ele faz questão de secar depressa ao ouvir batidas na porta. Um homem abre, seu pai.
— Posso entrar, filhão? — O porta-retrato é deixado de lado e Bailey confirma com a cabeça. — Sente falta dele, não é?
— Eu não sei.
— Tudo bem sentir falta, o cara era seu amigo.
— É. — Ele tem o olhar perdido em algum canto da parede. — Tudo tá meio confuso.
— Posso imaginar.
— Sei lá... As pessoas pegaram pesado com ele, pai. E eu sei como é uma droga. Mas o Josh nunca falava sobre o que ele sentia.
— Às vezes é difícil falar dos sentimentos quando são confusos.
Bailey suspira profundamente, chega um pouco mais perto do pai.
— Eu me sinto culpado.
— Acha que podia ter sido um amigo melhor?
— Não, não é por isso. — Junta uma mão na outra, mexe nos dedos, concentrado. — Me sinto aliviado porque ele morreu. — O homem se assusta, uma expressão confusa em seu rosto exausto. Não diz nada, espera o filho continuar, talvez pensando se aquelas palavras passariam a fazer sentido. — Eu sei que não é uma coisa legal de se dizer, ou de sentir, mas é verdade. Me sinto aliviado porque podia ter sido eu. Depois de todas aquelas mensagens, de todo o ódio que recebi por algumas atitudes idiotas, podia ter sido eu a me matar. Eu pensei nisso...
— Bailey...
— Foi só um pensamento rápido, mas, sei lá... Talvez o Josh só tenha tido um pensamento rápido também, que durou o suficiente pra ele cortar os pulsos e sangrar até morrer.
Agora o pai aparenta uma preocupação genuína, quase gritante.
— E por que ele estar morto te alivia?
— Porque a bomba já estourou, e não foi por minha causa, não fui eu. Agora o Josh já fez, ninguém mais vai fazer, ninguém vai ter coragem. Pelo menos eu não vou. Como posso pensar em morrer com tudo isso acontecendo? Seria um puta egoísmo da minha parte.
— Bailey, se você está tendo esse tipo de pensamentos...
— Eu não tô. Você não tá prestando atenção. Já foi, pai. Acabou. Agora eles vão precisar entender, vão precisar parar.
— Eles quem?
— Todo mundo. Os fãs, a empresa, os outros fandons. Ele já tá morto, não podem continuar, só se forem assassinos.
— Filho...
— Precisam parar. Acham que controlam a nossa vida, que devemos qualquer coisa a eles. Não devemos porra nenhuma a ninguém. Por isso eu não pedi desculpas e não vou. E também não vou me matar porque assim eles ganham.
— São crianças, não sabem o que estão fazendo.
— São seres humanos, pai. Pessoas horríveis. O Josh tá morto por causa deles.
— O Josh tinha problemas...
— Foda-se! Não importa mais, agora vai parar.
O pai fica em silêncio, o filho também. Os dois sentados na cama, provavelmente pensando. Lá fora o latido não existe mais.
— Se você quiser ir pra...
— A pior parte é que talvez eles controlem mesmo a nossa vida. No fim das contas ele morreu, né? Como queriam. É uma merda, mas é realmente um alívio.
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Causa mortis
Fiksi PenggemarTem horas em que o maior medo é ver a ficção virando realidade...