Sabina

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Estávamos todos na varanda da casa do Josh, e a casa dele parecia morta. A Sofya tentava desesperadamente controlar o choro, e eu também, e a Any, e a Hina, e a Shivani, até a Heyoon chorava baixinho. Deviam ser meio dia, eu acho... Ficamos muito tempo ali, não lembro quanto, longe das outras pessoas, dos outros amigos e familiares do Joshua aparecendo para se despedirem do garoto morto. Pensar nele no caixão só me fazia chorar e me deixava mais nervosa. Eu lembro que meu corpo inteiro tremia.

Em algum momento, enquanto eu tentava parar de chorar, Bailey chegou perto de mim. Ele parecia triste, porque todo mundo parecia triste. E era tudo meio... Escuro. Como se fosse um dia nublado, porém tenho quase certeza que fazia sol.

"Eu não entendo porque estamos aqui." Disse apoiando o corpo na amurada.

"Pra prestar condolências à família..."

"A família dele não precisa da gente..." Eu quis socar a cara do May nessa hora.

"Viemos porque ele era nosso amigo."

"Ele não tá aqui pra se importar com isso." Eu respondi para ele calar a boca. "É verdade."

"Por que precisa agir como um idiota justo hoje?" Nessa hora eu voltei a chorar com um pouco de raiva.

"Eu só acho que isso é pior pra todo mundo."

"Não tem que achar nada."

Bailey suspirou e saiu andando para perto de um dos sofás brancos.

E de novo ficamos em silêncio, só ouvindo os soluços. Sofya nunca gostava quando ficávamos quietos assim, então decidiu falar alguma coisa: "Não devíamos ir lá pra dentro? Ajudar a mãe dele?"

"Ela pediu pra ficarmos aqui fora."

"Mas, Sina..."

"Ela quer assim. Quando for a hora, a gente entra."

Suspiramos todos juntos, recordo bem porque achei o barulho engraçado, mas não dei risada. Quando for a hora... Eu não lembro que horas eram. Duas da tarde? Talvez fosse de manhã.

"Por que as pessoas precisam ser tão ridículas?" Any tinha ódio na voz quando perguntou. Diarra respondeu que era culpa do mundo, ele que era ridículo. E então Sofya pediu para elas pararem (ou foi Hina?) e então Joalin falou que a culpa não era só das pessoas que jogaram hate. O resto eu não lembro bem. Todo mundo começou a gritar e eu sentei em um canto, mandei mensagem para a minha mãe porque me sentia estranha, e tentei ligar para o Pepe, se não me engano três vezes, mas ele não atendeu (tinha jogo nesse dia). E a minha cabeça doía muito, e meus olhos estavam embaçados. Aí eu ouvi um berro. Todo mundo calou a boca. E o Noah deu três voltas no centro do semicírculo onde estávamos e aí ele disse que nada daquilo importava porque Josh estava morto. Todo mundo sentiu quando ele disse, porque até aquela hora ninguém tinha tido coragem de dizer em voz alta.

"Essa discussão é estúpida. Não vai levar a lugar nenhum. Não importa porque ele fez isso, merda nenhuma importa mais. Ele não tá aqui. O Josh não tá aqui e não vai voltar. E nunca mais vamos ver ele, ou abraçar ele, ou rir das piadas idiotas que ele fazia ou ouvir ele reclamando que a gente tá fazendo a coreografia errado. A gente nunca mais vai ouvir a risada dele. Ele tá morto. O Josh tá morto."

E aí todo mundo começou a chorar. E o Krys conseguiu chorar. E depois a mãe do Josh apareceu e mandou a gente entrar para se despedir. Ele nem parecia morto naquela roupa, com a bandana e o topete penteado e o pouco de barba que estava deixando crescer. Será que teria desistido se não tivessem mandado ele tirar a barba? Não dá para saber.

Eu cheguei perto e o cheiro era horrível. O Krys segurou minha mão e a Any me abraçou com força, eu vi as lágrimas dela caindo na blusa branca do Josh. Parecia que ele ia acordar a qualquer momento, dar uma risada e falar "Era pegadinha, gente! Vocês acreditaram!" E ele e Noah iam rir da nossa cara e tudo ficaria bem. Nada ficou bem.

Uma hora depois (ou duas, não sei), Josh estava em um caixão preto enterrado debaixo da terra.

É disso que eu me lembro.

Causa mortisOnde histórias criam vida. Descubra agora