VIII

14 3 0
                                    

     Combinei com Bruna de voltar rachando o valor do táxi, afinal eu morava uns três bairros antes do dela e seria melhor do que voltar pelo transporte público. A porta de casa estava trancada e depois de procurar sem sucesso na bolsa, comecei a bater fortemente para ver se alguém que estivesse lá pudesse abrir, eu necessitava tomar um banho e dormir, os olhos já tinham começado a arder com a quantidade de cansaço acumulado no corpo. Olhei para a garagem e meu pai parecia ter saído, minha irmã chegou com o cabelo bagunçados, ofegando como se houvesse corrido para poder chegar ali. Sorri ao entender o que acontecia e que tinha atrapalhado, me desculpei com um sorriso e subi até o meu quarto ainda rindo da situação. Vasculhei o pijama no guarda-roupa e peguei um dos pijamas na terceira gaveta, andei até o banheiro e as pendurei no suporte, entrei no box do chuveiro e após terminar o banho, coloquei minha roupa e voltei para o quarto.

     Deitei na cama pensando sobre as férias da metade do ano que se aproximavam cada vez mais, para minha maior alegria, a parte ruim era que as avaliações vinham conjuntamente. Peguei o computador e comecei a procurar alguns livros na internet sobre psicologia e algumas coisas sobre o luto e a morte, assunto que me interessava bastante nos últimos tempos, gostava de saber como o ser humano lidava com a morte e a perda do objeto desejado, seja ele de fato um objeto ou uma pessoa. Acabei encontrando uns três e coloquei no carrinho, ou seja, iria ficar ali durante um bom tempo até que eu arrumasse um emprego. Coloquei ele do meu lado, me cobri e virei para dormir de fato.

     Naquela manhã acordei com o toque do celular de alguém me ligando, olhei o número e não reconheci, passei por cima do impulso de não atender qualquer número desconhecido, foi a melhor decisão que com toda certeza tomei até aquele momento. Ouvi cada palavra que soltou e não pude acreditar com facilidade que tinha sido chamada em um dos lugares que joguei o currículo, agradeci por ter sido tão rápido e só precisaria levar alguns documentos tornando tudo então oficial. Estava tão feliz que não consegui segurar o grito, o que me fez constatar que já não havia mais ninguém em casa, depois de tomar um banho e ir tomar café, subi correndo até o meu quarto novamente, peguei os documentos necessários, me arrumei e apressei os passos, o quanto antes resolvesse melhor.

     Eu já devia saber, afinal de contas estava na prefeitura esperando ser atendida, o quer era bem normal para operações cotidianas ali, com a senha na mão, sentei em uma das cadeiras mais afastadas das pessoas que ficava no campo de visão da televisão que chamava o número. A cabeça começava a pender do sono quando finalmente meu número apareceu na tela. Passei exatamente duas horas e meias naquele lugar infernal tentando resolver tudo, a cabeça já doía, a barriga roncava com a falta de alimento. Pedi um táxi para voltar rápido sem perder o horário da faculdade.

     Chegando em casa comecei a procurar coisas na escrivaninha, precisava arrumar aquela bagunça, que havia se acumulado por um tempo, urgentemente e marquei no calendário para o sábado, sentei na cama e mesmo com a dor acabei cochilando. Acordei meio perdida, sem saber nem que horas eram mais. Peguei o celular e percebi que estava mais do que atrasada, não chegaria a tempo mais, mandei uma mensagem para as meninas avisando que não iria mais.

✧*:.。. ☾ .。.:*✧

     O nervosismo já começava a atacar e me batia aos poucos leves momentos de ansiedade, mas dessa vez tinha uma conotação boa, por fim eu havia sido chamada. A calça jeans meio rasgada no joelho talvez não tivesse sido a melhor opção para aquela situação, ou muito menos a blusa preta com o emblema de Hogwarts. O caminho inteiro não pude deixar de ver aquele dia com um tom magnifico, o céu parecia brilhar em um azul forte com poucas nuvens, ainda era cedo, seis e meia da manhã para ser mais exata. Tudo tinha o ar de ligação universal, quando cheguei próximo do ponto de ônibus, um gatinho cinza aproximou-se miando tão baixinho que até mesmo eu não teria ouvido. Seus olhos encontraram os meus e baixei a mão devagar tentando não o assustar, fazendo carinho por trás das suas orelhas.

Encontro com a Filha da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora