IX

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     Acordei sentindo o coração apertado ainda na visão daquela jovem, senti o calor das lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Os segundos se passaram comigo apenas olhando para o teto, procurando entender o motivo de ter sonhado com aquilo e os animais que pareciam me esperar. Um coelho, um cervo, uma raposa e um urso, todos parados ao redor do fogo. O sol queimando o meu rosto trouxe a coragem e realidade à tona. Levantei da cama, ainda absorvendo a visão do meu quarto iluminado, o computador no lado do travesseiro, o óculos jogado por cima. A casa inteira estava silenciosa, provavelmente os meus pais dormiam tranquilamente em suas camas, a porta do quarto da minha irmã entreaberta significava que saíra.

     Peguei um pão da sacola e passei manteiga, esperei a frigideira esquentar, pressionei o pão, ouvindo o chiado da manteiga começando a derreter. Coloquei um copo de suco que tinha na geladeira e sentei no chão da sala.

— Não devia estar no trabalho?

— Não hoje, a diretora mandou que eu fosse tomar as vacinas.

— Só assim pra tu tomar vergonha na cara, Agatha— saiu em direção a cozinha— Toda vez que falava, tu levou na brincadeira.

— Mas eu não tinha tempo, mãe.

— O que mais se teve foi tempo— arqueou a sobrancelha e lançou um olhar debochado— faltava era vergonha na cara mesmo.

     Revirei os olhos e após me arrumar, pegar o cartão de vacinação, que dava até vergonha, ainda era o mesmo de quando era uma bebê, e por fim colocar o fone de um lado apenas. Me despedi e saí caminhando pela rua, o posto de saúde não ficava tão longe de casa, então a caminhada não foi longa. Quando era mais nova, mainha que me levava, mas tinha parado por algum motivo, acho que provavelmente havia se esquecido.

     Sentei em uma das cadeiras na recepção do posto, esperando que me chamassem. A sala estava lotada de pessoas que provavelmente também estavam indo se vacinar. Nem sei quanto tempo havia passado enquanto esperava, levantei para perguntar a recepcionista quantas pessoas estavam na minha frente ainda.

— Sente lá e espere ser chamada— falou sem nem levantar os olhos do que fazia.

     Ótimo, agora nem paciência eu tinha mais. O telefone vibrou e vi a notificação de uma nova mensagem.

"Bom dia... eu acho"

"Bom dia" respondi enquanto voltava "Aconteceu algo?"

"Sim... não sei bem se falo"

"Não vale, agora tem que falar, é chato fazer a pessoa ficar curiosa e não dizer"

"Sonhei contigo..." mandou cinco minutos depois.

"Acho que não foi tão bom então"

"Foi e não foi"

"Vai contar?"

     A mensagem foi visualizada por ela, e ainda esperei que respondesse até que depois de um tempo, perdi a esperança de receber uma resposta. Voltei a olhar para a entrada da sala onde a mulher iria chamar. Depois disso, não demorou tanto para chegar a minha vez. Não tinha medo de agulhas, porém tinha agonia quando furavam. O que dificultou um pouco que eu relaxasse. No final, passou um pouco de álcool e entregou-me um pedaço de algodão.

     Respirei fundo enquanto voltava para casa. Não tive tempo para pensar em muita coisa, tinha que correr para me arrumar ou acabaria perdendo o horário do ônibus passar. Tomei um banho rápido, me enrolei na toalha e desci as escadas até o varal pra pegar a calça jeans.

Encontro com a Filha da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora