III

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     Sabe o exato momento em que percebeu que você acabaria bem ferrado enquanto conversa com alguém? Eu sentia exatamente isso às quatro e meia da manhã. Passamos a madrugada toda conversando, tentando abranger os aspectos possíveis da vida humana e suas coisas mais banais, falando pouco sobre as coisas da nossa vida, obviamente que eu estava deixando alguns aspectos de lado, ainda era muito cedo para tudo realmente. Olhei para o lado de fora e consegui ver o nascer do sol, prestei atenção nas suas cores e no cantar dos pássaros que embalavam o acordar e movimentar da cidade. Acordei um pouco mais tarde no domingo, até por ter ido dormir por volta das sete e meia, minha cabeça latejava e eu sentia o meu corpo mole como se estivesse doente. Ignorei isso durante um tempo, ou seja, o tempo necessário para fazer o trabalho da faculdade e estudar um pouco, tinha negligenciado durante a noite da sexta-feira e o sábado.

     Minha cabeça não melhorava de forma nenhuma, mesmo quando coloquei os óculos e desliguei um pouco a tela do computador. Mandei uma mensagem para Lisa perguntando se ela iria para a aula na segunda, pois se não estivesse me sentindo melhor, precisaria ficar em casa. Para minha sorte, as atividades poderiam ser entregues no portal ou no e-mail dos professores, como última alternativa. Na segunda, levantei ainda doente, arrumei a cama, depois que me ajeitei, andei até o ponto de ônibus. O céu daquele dia parecia me acompanhar, um tom cinza alastrado até onde os meus olhos podiam ver, os passarinhos ainda cantavam, alguns permaneciam no topo das árvores e outros voando pelos céus. No caminho, um cachorrinho correu em minha direção e começou a pular na minha perna, seu pelo preto brilhante parecia reluzir, a linguinha para fora só o deixava ainda mais fofo, abaixei e fiz carinho na sua orelha descendo até seu rabo durante alguns minutinhos que pude ficar ali.

     Quando consegui chegar na parada, o ônibus vinha chegando no mesmo horário, subi feliz por morar perto do terminal, pois sempre ia sentada na ida para os lugares. Coloquei os fones de ouvido, peguei o livro que havia colocado na bolsa e comecei a ler, meu belo costume de leitora era viver com ao menos um livro na bolsa, independente de poder ler ou não, tinha que estar sempre prevenida. Deixei a combinação perfeita dele com a música que tocava nos meus ouvidos levar-me para o mundinho particular, o que não era tão perigoso, já que esse ônibus parava diretamente na integração da cidade e só lá é que eu teria que tomar mais cuidado para não passar da parada certa.

     O transporte público da região metropolitana não era tão legal, demorava e por muitas vezes os que precisavam usar, iam em pé empurrados contra a porta, morrendo dentro. O que me alegrava quando conseguia descer, chegando na faculdade fui de encontro as meninas que estavam sentadas na cantina conversando, olhei para a hora no celular e aproveitei para responder a mensagem de Cass que pendia desde aquela manhã mais cedo, acho que ela devia trabalhar ou algo do tipo, por que a mensagem havia chegado para mim de cinco e meia da manhã. Subi as escadas correndo depois de chamar as meninas na cantina e subir para a sala.

— Finalmente, qual é a sala hoje?

— Não tenho a mínima ideia— respondi enquanto procurava a sala.

     Bruna usava um vestido florido preto com as rosas vermelhas que fazia com que a cor de sua pele negra se destacasse, o cabelo preso em um rabo de cavalo e o óculos de um tom rosa claro quase transparente no rosto, não conseguia enxergar sem ele. Lisa estava com um short jeans claro e uma blusa preta mais folgada amarrada do lado. Precisei manter uma certa distância o dia todo, não queria que elas acabassem doentes também.

     A aula foi chata, não conseguia respirar apropriadamente por causa do ar-condicionado e ficava o tempo quase todo saindo para ver se passava a dor de cabeça, o professor falava e na minha cabeça um gato parecia correr atrás de um novelo de lã, repetidamente, encostada na janela levando um vento, torcendo que isso fizesse com que as minhas ideias clareassem. Esperei apenas a chamada para poder ir embora pra casa.

Encontro com a Filha da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora