Lembranças no litoral

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Juntos, sentados lado a lado. A dupla admirava belo fenômeno natural. Tão comum – mas ainda assim belo – que poucos davam a devida atenção.

Percy vez ou outra fitava, de soslaio, o vento que de forma tímida brincava com os cabelos negros de Nico. Que insistia em tira-los da frente do seu rosto, mas o vento tornava a coloca-los novamente.

Era uma cena engraçada para Percy.

Depois de alguns minutos em silêncio pleno, o tritão enfim sorriu com as lembranças que lhe vieram, momentos vividos com Nico nesses últimos dias. De como, quando o rapaz lhe havia trago uma coisa chamada chocolate. Ele nunca havia comido algo parecido, era tão doce e bom. E a forma que derretia em sua boca o fascinava.

Lembranças de como Nico lhe encheu de perguntas quando eles se encontraram pela segunda vez ali mesmo. Claro, Percy adorou responder todas.

Lembranças das histórias que Nico contava sobre como eram as cidades. Ele era tão diferente dos humanos descritos nas histórias, e dos que ele observou enquanto estava submerso.

Lembranças de quando o Di Angelo o levou para fazer um pequeno passeio pela cidade, foi o mais longe que Percy havia estado do mar em seus dezoito anos de vida. E foi mágico, as luzes, era tudo um pouco barulhento demais mas logo ele se acostumou, os cheiros eram diferentes também. O Di Angelo lhe ofereceu outra iguaria, um sorvete azul. Percy não adorou só pelo fato de ser azul. Era bom, gelado e doce. Perfeito! Para um humano era uma coisa completamente normal, por isso Nico estranhou, e até achou graça, das caras e bocas feitas pelo moreno. Mas no fim ele entendeu... Percy nunca havia comido algo parecido.

Isso foi na terceira vez que o tritão havia se “transformado. ” era a primeira vez que passava por tal experiência, que para ele fora tão estranha quanto andar, mas Nico estava lá para ajuda-lo. Lembranças boas que aos poucos retiravam-lhe a coragem para lhe falar. E Nico respeitava seu silêncio, continuava ali sentando ao seu lado.

Percy cravou as mãos na areia úmida, e ainda quente da praia com os olhos ainda fixos no horizonte já totalmente escurecido. Perdeu-se em seus pensamentos, e acabou não vendo os últimos raios de sol sumirem no horizonte.

Sentiu um formigamento, um aquecimento subindo da sua barbatana até parte do seu tronco. Como se cada célula do seu corpo se colidisse uma com a outra. Soltou um resmungo baixinho, atraindo a atenção do Di Angelo. Que se levantou caminhando até sua mochila, que estava a poucos metros dali, assim que viu as barbatanas do amigo se retraírem e começaram a encolher.

Retornou com uma bermuda em mãos. À tempo de ver a cauda do moreno se bifurcar, e as escamas no mesmo processo das barbatanas encolherem-se de forma lenta, dando lugar a uma pele morena. E timidamente as pernas de Percy surgiram.

O moreno arrumou a toalha, escondendo seu sexo. E pegou a bermuda que Nico estendida com uma mão, enquanto com a outra tampava seus olhos. Aquilo fez Percy sorrir.

Percy mexeu seus dedos timidamente, assim os pés, sentindo-os. Ainda era estranho para si usar daqueles dois membros.

Nico o ajudou a se levantar, estava com os olhos fechados respeitando a ‘privacidade’ que aquele momento pedia.

Percy vestiu-se da bermuda, e tentou inutilmente tentar fechar a braguilha.

— não está fechando. — o moreno balbuciou, ainda sentia os braço do Di Angelo ladearem seu corpo.

Percy continuava mais alto que Nico, mesmo sem a grande cauda.

— eu disse: você está mais forte. — Nico falou baixinho, e Percy o encarou com os olhos semicerrados. — não gordo ok!? Forte... É... Músculos. — foi a vez dele corar.

Percy, sorrindo, conseguiu subir a braguilha pela metade.

— existe algum tipo de academia submarina? — Nico se viu perguntando. Uma pergunta idiota depois de proferida, pensou ele.

Percy pela primeira vez naquele dia deixou escapar uma risada. Risada que Nico tanto sentia falta. Resolveu não responde-lo pois deduziu que o mesmo já teria encontrado sua resposta.

— então... — Nico falou depois de alguns segundos, ambos permaneciam em pé e em silêncio. — você vai querer caminhar, ir a algum lugar? — nos últimos meses em que vinham se encontrando, eles adquiriram o hábito de caminhar pela orla, e as vezes iam além.

Percy mordeu o lábio, e fitou o chão pensativo. Ele não estava com ânimo para isso, como nos outros dias, preferia ficar ali mesmo. Curtindo os últimos momentos, o lugar e a companhia.

E assim ele propôs:

— hum... Podemos. É... Só ficar aqui mesmo? — o moreno pediu. Mesmo que a vontade de caminhar ao lado do moreno, enquanto conversavam aos montes, fosse gigantesca. Nico não negaria o pedido, ainda mais com aqueles olhos esverdeados fixos em si.

No embalo das ondas - PernicoOnde histórias criam vida. Descubra agora