Preto e Azul

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Nico Di Angelo nunca foi uma pessoa de acreditar em coisas místicas ou no sobrenatural. Como, por exemplo, em fadas do dente, coelho da páscoa, vampiros e lobisomens. Nesses tipos de histórias que os pais insistem em contar aos seus entreter, ou assustar, seus filhos.

Porém esse seu olhar cético sobre tudo e todas as coisas mudou. Quando em um dia enquanto caminhava a esmo pela praia – dia esse que ele se lembraria muito bem, durante muito tempo – uma sexta-feira aparentemente comum, que se deparou com algo inusitado na beira da praia.

Nico sempre repetia para os outros e para si mesmo que só acreditava naquilo que estava diante dos seus olhos. Pois assim o veria e poderia julgar a veracidade da existência.

E lá estava – diante dos seus olhos – uma criatura que ele acreditava firmemente não existir. Dona de diversos mitos e lendas por todo o mundo. Uma sereia.

Um tritão, na verdade. O rapaz constatou ao aproximar-se mais da estranha criatura, que estava envolto numa rede de pesca, estava desacordado.

Mas – como se pressentisse a aproximação – fora despertando a cada passo dado pelo moreno.

O tritão olhou-o de forma assustada. Começando a se debater, tentando inutilmente voltar para o mar, onde era o seu lugar. Mas a rede estava apertando suas nadadeiras, lhe causando dor, ferindo-lhe a cauda.

— Espere. não se mexa. — Nico despertou do seu transe inicial, julgava estar bêbado e estar em meio a algum tipo de alucinação, mas não se lembrava de ter ingerido uma gota sequer de álcool. Retirou um canivete do bolso da sua jaqueta, para o desespero do tritão.

— eu não vou machucar você. — disse de forma firme, tentando passar confiança ao outro, agachando-se próximo a cauda do híbrido.

Se perdendo por alguns instantes na cauda de peixe. Que possuía escamas de um azul escurecido, que refulgiam com os últimos brilhos do sol poente.

O tritão nada disse, apenas o observou cortar os fios que lhe prendiam com certa rapidez, estranhamente não se sentia ameaçado por aquele humano, como deveria ser, como sempre lhe contavam nas histórias.

— pronto. — Nico suspirou. Se jogando na areia úmida.

Ele não de importou nenhum pouco em se molhar com as pequenas ondas que iam e vinham de forma lenta. Os fios da rede eram um poucos grossos e o deixou um pouco cansado.

O tritão moveu seu corpo de forma rápida de volta para a água, ficando a poucos metros de distância do humano, mas o suficiente para a parte de baixo do seu corpo ficar submersa.

Os dois ficaram parados um de frente para o outros. Os olhos negros e os verdes-mar se fitavam em silêncio.

— obrigado. — Nico assustou-se com a voz do outro, não imaginou que ele pudesse falar.

“Mas é claro que ele pode falar” se estapeou mentalmente o Di Angelo. O tritão acabou esboçando um sorriso com a cara de espanto do humano que lhe salvou.

— me chamo Per... Percy Jackson. — o tritão nadou novamente para ficar ao lado do humano, aquela parte da praia estava fazia então não teria problema dele ficar mais um pouquinho ali.

— Nico... Nico Di Angelo. — Nico tentava ao máximo absorver aquele amontoado de informações que recebera num curto período de tempo. O moreno lhe encarava com um sorriso divertido no rosto, nem parecia que a pouco minutos praticamente se tremia de medo.

Fora assim que os dois se conheceram. Passaram a se encontrar no mesmo local, no mesmo horário praticamente todos os dias, a amizade foi crescendo, um sempre esperava pelo outro.



•×•



Estava quase na hora. Nico acabara de terminar de arrumar sua mochila, estava pronto para sair para se encontrar com Percy. Só em pensar que encontraria o moreno um raro sorriso surgia em seus lábios.

Mas a voz de Bianca o fez parar, antes que passasse pela porta, questionando-o para onde iria outra vez no mesmo horário.

— eu vou na casa do Leo. — avisou, mentindo descaradamente. As vezes era irritante a superproteção de sua família para consigo. De qualquer forma já havia dado o aviso para o amigo, Leo, caso alguém perguntasse por ele, Leo o encobertaria. Era fato que o Valdez não o deixaria na mão.

Nico fechou a porta atrás de si —deixando uma Bianca sorridente para trás. mesmo achando o irmão estranho nesses últimos dias, Bianca estava feliz, por vê-lo feliz – O rapaz o passo rumo ao ponto de ônibus, que não tardou em chegar.

Ele poderia muito bem ir andando já que a praia onde sempre se encontravam não ficava tão longe assim da casa onde estava. Mas Nico estava com pressa em chegar ao seu refúgio, foi assim que os dois nomearam o local, o velho píer.

Nico tirou os seus tênis e os guardou. Logo pôs seus pés na areia sentindo a quentura entrar em contato do mesmo. Que foram se esfriando no decorrer que se aproximava do mar. Ele gostava daquela sensação, dos grãos ficando entre os seus dedos, quando seus pés afundavam-se na areia molhada.

O rapaz caminhou por mais alguns metros até chegar no seu “ponto de encontro. ”

A praia – como sempre naquele horário de fim de tarde – estava deserta. A água ficava um pouco gelada naquele horário, as pessoas esqueciam que ainda havia a paisagem para se apreciar.

Nico sentou-se sobre uma pedra ao lado do píer, colocando sua mochila ao seu lado, abraçado aos joelhos passou a fitar o céu, o mar e a ‘linha’ invisível que os dividia. Esperando por Percy.

O vento acariciava seus cabelos de forma cálida, enquanto cantarolava uma música qualquer, temia que Percy não aparecesse naquele dia, como vinha fazendo nos últimos três dias. Mas suas incertezas foram dissipadas quando o Di Angelo notou uma movimentação estranha na água, que ele conhecia muito bem. O rosto do tritão emergiu assim como parte do seu tronco.

Nico esboçou um sorriso e acenou de forma exasperado em direção ao outro. Mas algo estava errado, Percy não esbanjava o sorriso como nas outras vezes que se encontram.

No embalo das ondas - PernicoOnde histórias criam vida. Descubra agora