Doutrina

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             A culpa não é dos homens

  Desde cedo somos ensinadas que o homem é o chefe da casa, a autoridade e nunca devemos responder olhando nos olhos. Temos sempre que estar de cabeça baixa para mostrar respeito.  Desde cedo somos ensinadas a respeitar nossos pais, não retrucar, não expor opiniões,  não discordar… Devemos aceitar tudo caladas mesmo que seja injusto.  Porque eles são eles. 

 Desde novinhas, nós mulheres, somos criadas para cuidar da casa. Lava, passa, guarda, cozinha, cuida das plantas, faz o café, torce pro pai não reclamar.. Tudo isso enquanto o irmão está jogado na cama, de perna pro alto, despreocupado.  Nem uma simples ajuda? Não.  Porque coisa de homem é jogar videogame,  falar de mulher, fumar cigarro enquanto joga truco. Tarefas de casa é especificamente para mulheres. 

 Mas por que? O que há de errado em ajudar? - Você se pergunta,  mas sabe que não pode expor esse pensamento em voz alta. Ahh se a mãe te ouvir falar isso… Um mês de castigo fazendo o que você já faz no dia a dia. 

 Após anos suportando isso, chega uma hora que você se revolta.  Você começa a observar o quão injusto é isso. Você observa que seu irmão tem muito mais liberdade que você.  Ele com quatorze anos faz o que bem quer. Dorme fora, sai com os amigos, leva eles para dormir em casa e passam a noite jogando. Se quiser beber, pode. Se quiser namorar, pode. Porque isso é coisa de homem. Ele só tá vivendo a adolescência dele. O que tem de mais? 

 Mas e quando é a sua vez? Mulher não pode sair, porque senão sai falatório na vizinhança.  Mulher não pode dormir na casa das amigas porque elas influenciam a namorar "cedo". Mulher não pode beber porque isso é coisa de puta. E se você questiona isso, apanha.  Apanha dentro de casa e apanha da sociedade. Sabe por que? Por que os pais estão  sempre certos. 

 E você percebe uma enorme diferença no tratamento que dão a você e ao seu irmão.  Ele não precisa lavar nem o prato que come, porque depois do almoço é você quem arruma a cozinha. A cama dele tá sempre desarrumada, mas quando é a sua te chamam de porca. Se você limpa a casa, reclamam que não tá limpa o suficiente, e se você deixa de limpar um dia, você  é preguiçosa.  Dizem que você não vai conseguir um marido porque não sabe lavar um prato direito. 

 Mas por que eu tenho que fazer tudo? Porque se você não fazer, a sua mãe vai.  E você não quer ver sua mãe chegar cansada do serviço e ter que fazer as tarefas da casa. Então você faz. Mesmo com o grito entalado na garganta, a raiva, a revolta, mesmo deprimida, você faz. Porque tudo sobra pras mulheres.  

 E não é culpa dos homens. Somos nós.  Nós aceitamos isso. O sistema nos fez aceitar isso. O homem é chefe da casa, trabalha fora, sustenta a família,  coloca comida  na mesa. É o que dizem. Você tem que aceitar o que ele impor porque você usufrui do dinheiro dele. 

 Mulheres são ensinadas a se tornarem donas de casa. E elas repassam isso pras suas filhas. E as filhas se tornam o reflexo de suas mães  e o ciclo continua.  Até que alguém cansa. Grita. Enfrenta. Revoluciona. É expulsa de casa. Se não tá satisfeita pode sair. A porta da rua é  a serventia da casa. Enquanto morar sob o meu teto vai seguir minhas regras. Pais narcisistas. Você tá errada! Seu irmão te vê como louca, as pessoas te taxam como louca. Você é a decepção da família.  As pessoas te faz acreditar  que você é doente por se rebelar contra seus próprios pais. Pecado, dizem. Você vai pro inferno.  

 Enquanto seu irmão é endeusado. Mesmo ele tratando sua mãe como um lixo, xingando ela por ter esquecido de lavar suas meias encardidas, tratando as mulheres como objeto, ameaçando te bater numa discussão,  te chamando de puta e vagabunda. São os hormônios a flor da pele. Falou da boca pra fora, ele nunca faria isso. E se faz, todo mundo erra né? Mas quando você revida, você é  desequilibrada. E você se pergunta o porquê da sua mãe nunca ficar do seu lado. Ela não pode. Ela não pode porque tem que ficar calada se quiser ter um lugar pra morar. Ela não pode porque o chefe da casa é o marido. Ele é a autoridade.  Ou você segue o enredo, ou você começa uma guerra. E sabemos como termina uma guerra para as mulheres. 

Eles não tem culpa. Você não tem culpa. Quem é o culpado então? 
 
Autoria: Bruna Cristina A. S.

Eu preciso do feminismo, porque...Onde histórias criam vida. Descubra agora