3. Ajudas?

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Mical


Acordei aos poucos sentindo uma dormência estranha nas costas de minha mão direita e a sensação de ter comido uma carroça de algodão farmacêutico, pois o meu estômago estava embrulhado demais.

— Ai. — gemi tentando lembrar se tinha enchido a cara na despedida do restaurante em que trabalhara e agora estava atrasada para pegar o meu avião de volta a Rússia.

'' Não. Você não bebeu. '' — minha consciência avisou e de repente me lembrei que já tinha saído do Brasil e visto com os meus próprios olhos o que a desgraçada da minha tia sempre fora. E eu a ignorara tratando isso como se ela fosse apenas uma pobre mulher estressada com a vida ao invés de ser a piranha que realmente era.

— Droga. A minha vida está pior do que o primeiro dia após uma tarde de depilação íntima. — resmunguei ao abrir meus olhos para me dar conta de que estava num quarto de hospital enfeitado demais para os custos que eu não poderia pagar.

— Pensei que já tínhamos passado dessa fase. — uma voz grave e suave soou em tom irônico e ignorei a endovenosa em minha mão para olhar para o lado e vê-lo sentado numa cadeira ao lado da cama.

— Oh. Não. Você de novo? — me sentei encarando o loiro grosseiro da cafeteria que para o meu desespero era provavelmente o médico que estava me atendendo e eu nem mesma sabia o que estava fazendo ali.

O crachá preso ao seu pomposo jaleco branco dizia que o seu sobrenome era Kerensky.

— Seja bem vinda de volta da nave mãe pós efeito dos medicamentos. — tossiu ao ficar de pé me lembrando o quanto era alto e então veio para cima de mim com o estetoscópio vermelho que tinha ao redor do pescoço.

— Hey! O que... — ele parou antes de me tocar.

— A senhorita deu entrada no hospital modelo com uma identificação de família ADC. E está... — meus olhos quase saltaram ante a menção do loirão atrevido que provavelmente era um deles, pois cara de servo é que ele não tinha.

'' Puta merda. Eu arranjei confusão com um amaldiçoado que poderia me mastigar. ''

— Senhor. Estou ótima e já estou... — comecei a me mexer para descer, mas apenas com um gesto de mão fui parada.

— Não tenha pressa. O seu auxilio de direito é gratuito e ainda preciso terminar a consulta e lhe passar o seu dia...

Famílias ADC's tinham o direito a um bom plano de saúde sem custos pelo hospital dos clãs. Assim como as crianças também tinham escolas e bolsas de estudos totalmente custeadas por eles.

— É que eu preciso...

— A senhorita tem uma úlcera não tratada. Sabia disso? As pessoas que a deixaram aqui ontem estão na sala de espera, mas...

'' Como assim eu tenho uma úlcera? '' — já tinha problemas demais para lidar com uma doença comendo o meu estômago.

— Doutor até ontem eu estava perfeita...

— Estava tanto que até tinha saúde para mentir sobre um falso assédio, mas as coisas mudam. Não é mesmo? — soou carregado de mais ironia e fiz a cara de paisagem.

— Eu devo ter exagerado um pouco, mas parte da culpa não era só minha e...

— Vejo que não está se sentindo culpada e muito menos tentada a pedir desculpas por não concordar com a minha opinião sincera. E tem sorte de que a minha ética me impede de mastigá-la por tais insolências. — disse agindo como se tivesse uma vantagem em algo sobre mim.

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