02 | m o r g a n a

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— O que aconteceu com você ontem à noite, Morgana? – perguntou-me Aidan, levando sua xícara de café até a boca.

       — É verdade, você simplesmente sumiu. – Elisa deu corda — Nos deixou preocupados, e o pior de tudo foi não poder te ligar por causa do seus pais. Seu pai, principalmente.

      — A propósito, eles não desconfiaram, não é, que você saiu? – Aidan se mostrou preocupado.

      — Não desconfiaram.

      — E então?

      — Não foi nada demais. – desdenhei, começando a andar pelo salão. A essa altura da manhã, o Valette ainda estava vazio e meu chefe não tinha chegado — Eu apenas – não consegui conter um sorriso — conheci um rapaz, só isso. E depois, ele se mostrou gentil o bastante para me acompanhar até minha casa.

      — O quê?! – exclamou Elisa, espantada — Ficou maluca?

      — Não, não – tentei corrigir — Não até minha casa, mas próximo, distante o bastante para que ele não me seguisse ou coisa do tipo. Por Deus, eu não sou tão descabeçada assim. E que maravilha que não me ligaram, porque eu estaria com problemas.

      Sobre o meu pai, Elisa e Aidan costumavam me acobertar para que eu pudesse sair a noite. Eles já sabiam como era o clima na minha casa e sabiam, também, até mesmo o horário em que os dois iam para a cama. E Aidan se aproximava um pouco mais da minha janela e dizia: “Venha logo, Morgana, venha!”, mesmo que eu dissesse que não podia. Mas depois, em um ato infantil, mas ao mesmo tempo encorajador, Aidan ameaçava acordar a todos da vizinhança caso eu não os seguisse. Era divertido fazer isso, mesmo que fosse estranhamente perigoso. Eu costumava rir internamente sempre que pensava nisso.

      Sem tocar mais no assunto, eu olhei em volta, tentando me distrair com outra coisa porque pensei que os outros dois ali também fariam o mesmo. Fingi secar alguns copos em cima da pia.

      — E qual era o nome dele? – perguntou Elisa, me tirando do transe — Vamos, diga, diga. – ela pediu de novo, curiosa — Qual era o nome dele? Devemos saber com quem estamos lidando! Devemos saber sobre quem devemos procurar caso ele parta o seu coração.

      Elisa era uma grande amiga, uma daquelas que estava sempre disposta a fazer tudo e qualquer coisa pelas pessoas por quem ela tinha apreço. Era suposto que ela agisse como uma pessoa desconfiada e retraída, que não gostava de ficar no meio de multidões, visto que toda sua juventude se baseou em ser motivo de piadas de mal gosto e bullying. Bem, no fundamental ela usava óculos e tinha muitas espinhas, uma aparência normal que qualquer adolescente poderia ter. E hoje, ela ainda usava seus óculos – ah, sim, porque não é como se estivéssemos em um daqueles filmes em que você deixa de usar óculos simplesmente porque ficou mais velho –, e ainda gosta do seu cabelo cor de laranja cheio de volume e presilhas coloridas, e adotou um estilo de ser apenas seu. Elisa gostava de cores, gostava da vida e era excêntrica.

      — Seu nome era… James Stone. – tentei esconder meu sorriso — Mas isso não é tão importante assim, pois eu não voltarei a vê-lo. Me esqueci de pedir um número de telefone, ou ao menos perguntar se ele… bem, se ele aceitaria sair comigo qualquer hora dessas.

      Ah, sim, os dois não esconderam sua felicidade pelo meu aparente interesse naquele homem, James Stone, mas sinto decepcioná-los, Elisa e Aidan, que não é bem assim que as coisas funcionam. Minha mãe costumava pedir para que eu fosse cuidadosa e eu pretendia continuar fazendo isso, mesmo que permitir que James me acompanhasse até minha casa tivesse soado um tanto… oposto a isso.

AS BORBOLETAS ENTRE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora