01 | m o r g a n a

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Me lembro da primeira vez que o vi no Valete, durante uma sexta alaranjada e calorosa, me lembrando, também, do verde dos seus olhos se misturando ao fogo do céu. Eu estava fazendo de novo: estava pensando nele.

Voltei a mim. Com a cabeça encostada no vidro do carro, sentindo apenas um pequeno fio de ar fresco entrar pela janela meio aberta, eu observei o céu noturno em silêncio. Também observei como a cidade de Irvine se transformava em um sonho bonito, cheio de cores e direções infinitas que poderiam te levar aos mais variados lugares da Califórnia se você quisesse. Bares, clubes, pubs e restaurantes enchiam as ruas de carros, e seus interiores se enchiam de vida, conversas e risadas.

Infelizmente, nunca fui capaz de ir muito longe, apenas naquela vez em que Elisa, Aidan e eu fomos para Santa Mônica depois de uma festa e mergulhamos na água fria do mar, sentindo a espuma em nossos corpos como se fosse algodão. Eu adorava tais aventuras, mas elas eram quase (sempre) super secretas, por isso eu peço que não contem a ninguém, pois o meu pai não pode saber.

- Será que vão chamar a polícia de novo? - questionou Elisa, desconfiada.

- As festas do Zack são tranquilas. - falei, desencostando a cabeça do vidro.

- Soube que mês passado, na casa do Vincent - Elisa contava -, tudo só não acabou mal porque os pais dele chegaram. Por Deus, até parece que o Vincent é alguma criança que precisa que os pais interfiram na sua vida para que ele não a destrua. - completou ela, decepcionada. Éramos todos adultos, por isso sua decepção.

Durante algum tempo, a caminho de uma festa no centro de Irvine, Elisa se manteve ocupada retocando seu batom e arrumando seu cabelo com a ajuda do retrovisor lateral. Ela gostava de um pouco mais de volume, enquanto eu apreciava o estilo dos anos 60, como se as mulheres da época estivessem usando perucas extremamente alinhadas e elegantes.

Eu não estava animada para aquilo, mas não poderia recusar um convite para fazer algo que meu pai certamente desaprovaria se soubesse. Bom, isso é o que acontece quando você tem um pai extremamente conservador (maluco) que só não te mantém presa dentro de casa porque sabe que poderia ser preso caso fosse denunciado por cárcere privado. Na minha cabeça isso nunca fez sentido. Qual era o medo dele, de verdade? Eu pensava nisso quase sempre quando estava fora de casa.

- Apenas não exagere na bebida, meninas.

Na direção, estava Aidan McCloud, um amigo do colégio, um amigo em comum entre Elisa e eu. Nós três estudamos juntos desde o fundamental, mas nos conhecíamos desde a infância. Hoje em dia, no entanto, Aidan poderia ser chamado orgulhosamente de 'universitário', um daqueles que frequentam festas e possivelmente usam drogas - ora, Aidan, não tente esconder isso de mim, não é como se eu fosse te julgar. De nós, ele e Elisa foram os únicos a seguir uma carreira.

Era um terreno baldio, afastado das demais construções de Irvine e relativamente distante de Violet's Garden, o bairro em que eu morava. É claro que tudo era improvisado, mas era tudo extremamente muito bem organizado.

As luzes coloridas ofuscavam a minha visão. Seus tons de roxo e azul alternavam hora ou outra para vermelho e laranja. No escuro, minha mente delirante me pregava peças e me deixava confusa, me fazendo acreditar, às vezes, que o que eu via era real. Eu o via no escuro, me chamando de longe para uma conversa amigável e demorada. Seus olhos verdes flamejavam em um tom esmeralda e seu cabelo brilhava como se fosse ouro. Porém, é verdade que ele não estava ali, mas também é verdade que comecei a vê-lo em todos os lugares sem que me desse conta.

"Morgana", alguém me chamava. "Morgana". "Ei. Ei!". Aidan McCloud estalava os dedos na frente do meu rosto. Eu pisquei e virei o rosto em sua direção: - Hm? O que foi, Aidan?

AS BORBOLETAS ENTRE NÓSOnde histórias criam vida. Descubra agora