10. 𝗢 𝗖𝗔𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢 𝗤𝗨𝗘 𝗝𝗔 𝗙𝗢𝗜 𝗘𝗦𝗖𝗥𝗜𝗧𝗢

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[JOE]

— Então você desconfia que a Nação do fogo por fim seja quem orquestra esses acontecimentos, bem debaixo dos nossos olhos? — eu nunca estive daquele lado das terras élficas, as ruínas começavam a ser predominantes e o caminho cada vez mais íngreme e vertical e os elfos da floresta caminhavam ao lado de suas montarias e o draconiano ficava para trás, ainda sob o domínio destes. Halghar estreitava os olhos, ao olhar para trás, na declive vista, o brilho das estrelas começava a sumir com o amanhecer que estava próximo e o fogo de River Nest se extinguia.

— Outro grupo nosso está levando os habitantes de River Nest de volta para a cidadela, o fogo em breve será extinto e todos poderão reconstruir suas vidas, mesmo que sem entender o que realmente aconteceu. Nem todos possuem a dádiva das dobras elementais ou nascem na aura espiritual, muitos são apenas meros humanos. — o elfo parecia não querer continuar o assunto, suas palavras tinham a calmaria e a sabedoria de muitos anos como eu podia perceber.

— E a Nação do Fogo usa isso ao seu favor. — comento em uma forma de instigá-lo a falar mais, deixando claro que não deixaria o assunto tão fácil assim.

— Suas palavras podem soar uma acusação, Joelsen. — o feérico para, os olhos claros e firmes, o semblante indiferente, ele devia aparentar seus quarenta anos e historicamente, deveria ter centenas a minha frente — Não devemos levantar suspeitas desnecessárias, mas sim. A Nação do Fogo nunca concordou com todos ideais os quais vivem.

Assinto em silêncio. De repente, eu parecia jovem demais, era como se eu tivesse sido arrancado de toda uma história, como se houvesse vãos de uma trajetória a qual eu não conseguia encontrar as pontas. Até então, não havia encontrado alguém igual a mim, um elfo da floresta, eu sabia da existência, mas não sabia de todo o resto, não sabia o bastante. Eu só era mais uma peça perdida no tabuleiro que acreditara que Grosvenor havia sido tudo.

— Eu...

— Vamos parar aqui. — a ordem de Halghar faz com que todos atrás de nós parassem imediatamente, a floresta crescia ao nosso redor e ali, no espaço entre as enormes árvores as quais as copas nos cobriam, o povo da Floresta começava a se alojar. Enquanto o draconiano era amarrado a uma árvore, os demais saiam para levantar toca e abrir espaço para a fogueira, logo o acampamento era improvisado. Estava amanhecendo e eu deveria voltar para Konstalov, eu teria que levar respostas a Yoland e eu mal sabia o que deveria fazer, mas são nos demorados minutos de silêncio e um burburinho mental, que Halghar finalmente direciona suas palavras a mim.

— Conte-me sua história, jovem.

Eu nunca havia contado a minha história, tudo que sabem de mim, é exatamente o que precisam saber, mas ali, em meio aos Elfos da Floresta, pela primeira vez em quase cem anos, senti que estava próximo daquilo que perdi, daquilo que busquei. Senti que eu podia ser ouvido.

— Nasci há 84 anos nas terras de Grosvenor, ao sul do Reino da Terra. — respiro profundamente, Halghar indica para que eu me sente em uma rocha improvisada como banco, as nossas costas, três elfos levantam uma cabana alta, criando hastes para mantê-la de pé — Não conheci minha mãe, mas estive com meu pai durante anos nas terras dos Grosvenor, os antigos Elfos da Floresta. Ele dizia que foi necessário deixá-la para trás, que algo maior que nós a perseguia e que dar um passo adiante, era por sobrevivência.

Alguns elfos se juntaram a nós, um deles que tinha cabelos cor de feno, sentou-se, as mãos juntas entre as pernas enquanto ouvia com atenção, o sol erguia-se no céu cada vez mais e o som dos pássaros fazia música entre minhas palavras.

— Nosso povo vivia nas florestas mais densas, como vocês vivem hoje, nós cultivávamos, cuidávamos. Era nosso dever proteger a natureza e o que os Espíritos ditavam. Nos meus doze anos, sofremos uma invasão, não lembro o que ocorreu de fato, eu era jovem demais para entender. Todos lutavam bravamente, alguns gritavam "AS FEITICEIRAS", outros pediam para que todos recuassem, mas eu não entendia onde o fogo se cruzava.

Faço uma pausa, encaro diretamente o fogo que parecia transparente em meio os raios solares que ultrapassavam os troncos das árvores, mais além da floresta anunciando o dia.

— Eram as feiticeiras, foi o que muitos disseram. Elas queriam algo que havia sido tirado delas, mas o que os elfos poderiam roubar delas? Lembro-me da guerra. Não me lembro de vidas, vidas além da minha, por que quando me esgueirei por cima dos corpos, só conseguia enxergar vida em meus movimentos.

"Nesse dia eu deixei Grosvenor e tornei-me um viajante. As terras de ninguém me alimentaram por muitos anos, assim como as terras de realezas. Foi quando finalmente eu soube de Konstalov e o quão valioso eu poderia ser para eles. Konstalov, a terra dos Alto-elfos, era como na história que meu pai havia me contado, uma terra de nobreza, palácios e grandes guerreiros. Naveguei os mares por muitos anos até finalmente alcançá-lo, quando em Konstalov, eu era visto como um bastardo, não fazia parte da realeza dos Alto-elfos, isso ficava estampado em minha imagem, mas nenhum outro era tão ávido em provar seu valor."

Halghar piscava pouco enquanto mantinha seus olhos em mim concentrados em cada palavra do que eu dizia.

— Passei em todos os testes, enfrentei os melhores guerreiros da Guarda Real, submeti-me a hierarquia e ainda tenho olhos que me perseguem por todo o Palácio, mas sabem quem eu sou. E então, depois de anos, soube que meu povo havia renascido, eu mal podia acreditar que estavam tão perto ou como haviam retornado, mas os boatos vinham, as pistas surgiam vez ou outra. As marcas de que estavam vivos estavam ali.

Encaro o chão, nós se formavam em meus punhos cerrados.

— Mas eu preferi a segurança de Konstalov a ser fadado a guerra novamente.

— E então você nunca soube o motivo da queda de Grosvenor.

— Eu estava seguro, eu estou seguro em Konstalov. Tornou-se o bastante. — os olhos de Halghar fitam-me durante minutos silenciosos e passíveis de calmaria até que dissesse algo.

— Somos mais que cultivadores e protetores do Mundo Espiritual, Joelsen. Nós lemos as estrelas, nunca vamos nos indispor aos Espíritos e aos movimentos da história que os planetas desenham no céu, — o olhar do elfo ergue-se perdido nos céus, ele tinha uma aura tão intensa. Era como banhar-se sob uma corrente de água fria que lava seu corpo e em instantes, segue em sintonia constante — até que os Espíritos nos digam como intervir.

— Eu preciso dele. — indico ao draconiano ainda amordaçado e amarrado a uma árvore, ele parecia mais calmo agora, mas não menos irracional.

— Dois de nós lhe guiarão com o draconiano até a passagem para Konstalov, como um mero ato de paz. Quando o conselho de Konstalov lhe submeter aos detalhes dessa missão, Joelsen, diga o quanto esse humanoide se sujeitou a incendiar a cidadela de River Nest e manipulou os Kobolds. Mais sinais surgirão e o Dia está traçado.

Então era isso? Havia suspeitas provocadas pra cima da Nação do Fogo, mas eu devia esperar?

A verdade é que eu havia andado pelo outro extremo poucas vezes e pouco sabia sobre eles, mas nunca ignorei o poder soberano que o Rei do Fogo possuía. Havia entrelinhas nas palavras de Halghar, coisas que eu não consegui entender naquele instante, mas eu estava disposto a confiar no meu igual.

Halghar sorri pouco expressivo, um elfo de cabelos negros, curto e arrepiado, surge ao seu lado guiando as rédeas de um cavalo. Era Alastor.

— É a sua deixa, meu caro.

Meu alazão relincha animado em resposta e eu assinto.

No final da tarde descíamos pela colina, desta vez contornando River Nest de volta a Konstalov, no entanto, Melina ainda não havia retornado e poucos detalhes eu tinha sobre seu paradeiro e como seguia sua missão, pareceu no fim que ela tinha recebido ordens pessoais de Yoland logo quando nos separamos. Ele não ficou satisfeito em recepcionar os Elfos da Floresta, muito menos em saber que tudo havia sido trabalho de um draconiano manipulando Kobolds por nossos arredores, soldados da Guarda Real levaram nosso prisioneiro para um futuro interrogatório e eu sabia, mais do que nunca, que Yoland não confiava em mim.

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⏰ Última atualização: Jun 29, 2020 ⏰

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