Choro da Meia-Noite

Capítulo 5

Escutei uma batida na porta do meu quarto.

- Filha? Está tudo bem? Você está trancada ai há horas, o jantar já esta esfriando.

Levantei pesadamente da cama, me recostei sobre a porta. Um leve suspiro e então destranquei a porta sem falar nada, voltando para minha posição aninhada em meio a dois travesseiros na minha cama.

- Oh minha filha - Ela disse num tom preocupado - O que houve? Por que você está tão desanimada?

Olhei para ela, sem a menor ideia de como explicar o que estava se passando. O gosto amargo estava de volta na minha boca, um nó se formou em minha garganta. Suspirei novamente tentado dispersar as lágrimas que estavam surgindo.

-Gabriela, eu estou preocupada... dá última vez que você ficou assim.... - Ela concluiu com um temor crescente sufocando o final da frase.

Pisquei em completo choque. Ela disse aquilo como se eu tivesse passado por essa situação antes, mas eu nunca estive desse jeito antes. Ela notou minha expressão confusa e levou a mão na boca muito brevemente, num movimento que quase não pareceu existir, mas invés de completar, passou a mão em suas tranças e sua postura mudou completamente.

-Não importa, minha pequena. Agora me diz o que está acontecendo. Foi tudo bem com sua amiga no cinema? -Ainda parecia preocupada, mas seu tom era muito mais firme.

Suspirei e pensei ter tido um deja vú, o que definitivamente não fazia sentido. Levantei a cabeça novamente e a encarei. Seus olhos buscando respostas em meu rosto desesperadamente. Aquilo era familiar, aquela angústia, a vontade de compartilhar algo com ela, mas a sensação de estar fazendo algo errado, estar dizendo algo que eu não devia. Não fazia sentido, isso nunca aconteceu antes. Nunca precisei esconder nada da minha mãe. Nunca tivemos segredos.

...Segredos....

Lágrimas começaram a descer pelo meu rosto conforme a palavra ressoou em minha cabeça. Minha mãe automaticamente me abraçou me balançando numa posição muito familiar. Ver ela tão preocupada comigo me partiu o coração.

- Mãe, eu estou bem, eu só... -Minha voz cortada por um soluço - Eu não entendo exatamente o que está acontecendo...

-Filha, o que houve hoje? O que houve hoje de tarde...?

Suspirei mais uma vez. Estava óbvio que eu deveria falar para ela.

- Eu primeiro queria pedir desculpas - Ela se afastou um pouco, me fitando com uma expressão confusa. - Eu juro que eu ia ao cinema. Eu saí de casa achando que iríamos para o cinema, mas quando cheguei lá, Ali.... Minha amiga me avisou que mandou o endereço errado e que na verdade íamos do outro lado da rua, em um bar.

Iria citar o nome de Aline, mas não queria que ela fosse associada com toda a situação. Por enquanto "minha amiga" estava ótimo. Ainda mais quando vi sua expressão se fechando.

-Eu juro mãe, não bebemos nem nada. Ela só queria me ensinar a jogar sinuca e eu realmente me diverti muito - Não por causa do jogo, mas ela não precisava saber disso.