Cap. 12

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PRÓS E CONTRAS DE TER UM EMPREGO NUM TEATRO FALIDO:

Uma lista feita sob consumo de muita cafeína.


PRÓ: Independência financeira.

CONTRA: Ou tanta independência quanto um salário mínimo (pago por um teatro a beira da falência) possa oferecer.

PRÓ: Poder tomar um cafezinho no Entreposto Latte Café todos os dias (não que eu precise de mais cafeína no meu corpo depois de hoje).

CONTRA: Provavelmente vou ser exilada de casa se meus pais descobrirem.

PRÓ: (Mas só se eles descobrirem).

CONTRA: Não vou conseguir conciliar trabalho e faculdade.

PRÓ: Eu não ligo! :)

CONTRA: Não tenho experiencia nenhuma com o trabalho de caixa.

PRÓ: Vou estar em contato direto como profissionais da área que quero ingressar ("como eles vivem?", "o que comem?", "eles suam sob as luzes do palco?", eu vou descobrir tudo isso.)

CONTRA: Eu sinto a desaprovação dos meus pais pairando sobre a minha cabeça o tempo todo.

PRÓ: Eu quero fazer isso! (por mais louco e idiota que seja). 


Larguei a caneta na escrivaninha e dobrei a lista cuidadosamente, guardando-a no bolso da minha calça jeans. Coloquei uma das blusas sociais que minha mãe tinha me dado, fiz uma maquiagem discreta e arrumei meu cabelo. "É quarta-feira, o grande dia!", pensei

Eu tinha acordado uma hora mais cedo que o normal para terminar aquela lista e, também, para manter as aparências.

Se minha casa fosse o mundo e meus pais fossem deus, o que eu estava prestes a fazer seria um pecado punível com uma sentença direta para o inferno, então, eu precisava mais uma vez fazer o único papel que eles sempre quiseram que eu interpretasse brilhantemente: A menininha dos olhos da mamãe, a estudante dedicada, a filha de ouro.

Por isso, naquela manhã, eu me vesti como eles esperavam que eu me vestisse, preparei o café e comi com eles. E, quando meu pai se ofereceu para me levar até a faculdade, eu aceitei. Era uma pena, porém, que eu não pudesse ver o garoto do ônibus, bem no dia que eu estava devidamente vestida como uma estudante de direito.

Era uma pena, também, que meu pai tivesse decidido ser uma boa ideia entrar comigo no prédio da faculdade para ver "velhos amigos" de curso, ou melhor dizendo, os meus professores.

"Sério, pai? Se você quer saber sobre o meu desempenho, seja mais discreto e mande um e-mail!", pensei, mal sabendo que eu não era a sua principal motivação para atravessar os portões da minha faculdade, pela primeira vez em muito tempo.

– Vai ser rápido!  – ele disse quando adentramos o edifício.

Parei um segundo para observar a forma como ele andava pelos corredores, com o seu terno bem passado, ouvindo o barulho que os seus sapatos sociais caros faziam contra o piso. Ele gostava de estar ali, conhecia os corredores talvez melhor do que eu, era o seu habitat natural.

E eu ficaria surpresa se não fosse assim, considerando que meu pai passara quase dez anos da sua vida dentro dos muros dessa universidade. Ele não só adorava aquele lugar, como também era adorado pelos funcionários que ainda se lembravam do seu rosto.

O Garoto do ÔnibusOnde histórias criam vida. Descubra agora