Cap. 10

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Levou vinte minutos inteiros para eu botar tudo para fora, em voz alta. Talvez aquele tenha sido o maior monologo da história, mas eu não me importei.

Nota mental para si mesma: olhar no Guinness Book se existia uma categoria para monólogos terrivelmente longos.

Jimin pareceu surpreso, no começo, quando eu revelei que o motivo da minha cara de perdedora horas mais cedo era a minha relação com os meus pais e não o fato de eu ser uma amiga realmente ruim. Mas, conforme eu fui avançando no meu depoimento, a feição do garoto do ônibus passou de curiosidade para algo entre a compreensão e a empatia. Ele estava realmente ouvindo. Eu acho.

E eu contei quase tudo.

Se a minha carteira estivesse no meu bolso provavelmente teria sentido ela queimar minha pele através do tecido. Mas ela não estava, o que não me impediu de lançar um olhar para a minha bolsa e pensar na foto que eu carregava comigo, dentro da minha carteira, quando eu omiti:

– Isso é tudo. Sei que falei demais, mas foi você quem pediu. – falei com um sorriso. Tem coisas que não dizemos a estranhos, principalmente se é algo que nem sua melhor amiga sabe, mesmo que o estranho seja muito convincente (de muitas formas).

– Ufa, né? Foi bom desabafar? – ele virou -se completamente de frente para mim, se sentando exatamente como eu estava. – Vamos respirar?

Eu tinha certeza que já estava fazendo isso desde o princípio. Mas quando Jimin pegou uma das minhas mãos, pareceu totalmente necessário que alguém me ensinasse a respirar de novo.

Ele inspirou profundamente e soltou uma respiração com um alívio exagerado que me fez rir, dada a dramaticidade daquele ato. Então eu me permiti fazer o mesmo em seguida.

Virei meu rosto em direção a paisagem e respirei mais uma vez.

– Então, qual a sua sugestão para mim agora? – Perguntei.

– Sugestão de quê?

– Do que eu deveria fazer. Não é sempre assim? Você conta algo pra alguém e ela supostamente te dá um conselho?

– Oh você realmente não quer ouvir o que eu tenho a dizer sobre isso. E eu não sou bom com conselhos, pergunte ao Jungkook.

Assenti lentamente. Mas então o garoto do ônibus voltou a falar:

– Sabe... – disse de repente, me encarando. – Eu entendo pelo que você está passando, eu estava numa situação mais ou menos como essa a uns dois anos atrás. Eu não queria decepcionar os meus pais também, ninguém quer isso eu acho. Eu estava me sentindo tão perdido quanto você. O meu pai é um homem do campo, quer dizer, toda a minha família é – ele parou por um momento encarando o chão antes de dizer: Eu sou. E Dança não é um curso muito másculo na visão deles, entende? Eles não são ignorantes, de forma alguma, mas no quesito artes, são pessoas bastante simples. Eles têm visões de mundo proporcionadas pela realidade do campo, são produtores de médio porte, esse é mundo deles. Mas não era o meu.

– Deve ter sido complicado.

– Ainda é. Mas essa é uma conversa a parte. – Ele chegou um pouco mais perto. – Na época, foi um dos meus irmãos que me abriu os olhos, foi difícil ter que ouvir aquilo vindo dele, mas hoje eu meio que concordo.

Oh, então foi o irmão dele... Não pude evitar pensar que, se eu tivesse tido uma oportunidade dessas, as coisas para mim poderiam ser diferentes hoje.

Jimin olhou diretamente pra mim.

– Eu não quero parecer desagradável com você dando a minha opinião, acabei de te conhecer, sabe?

O Garoto do ÔnibusOnde histórias criam vida. Descubra agora