Cap. 17

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Eu aposto que a maioria das pessoas acham a sexta-feira um dos melhores dias da semana. E quer saber por quê? Porque este é um dos poucos dias do mês em que você não precisa se preocupar com o dia seguinte (A não ser que você seja sabatista).

Sextas-feiras são mágicas e cheias de possibilidades. Ou pelo menos deveriam ser.

Para mim, particularmente, essa parecia uma daquelas sextas em que seus amigos desmarcaram o happy hour em cima da hora e você se vê obrigado a ficar em casa. Ou a semana foi tão complicada que tudo o que você quer é morrer no sofá, ou ainda, contrariando a essência do último dia útil, você tem compromissos importantes no sábado, que por algum motivo sempre começam antes do almoço (sério, onde está a piedade?).

A minha sexta-feira estava muito louca e eu nem precisei passar por um evento místico e trocar de corpo com a minha mãe pra isso.

Tinha acabado de chegar cansada do trabalho e me encontrava estirada na cama encarando o teto, mais precisamente uma mancha de cola remanescente daqueles adesivos de lua, que brilham no escuro. Minha mão direita, que pendia para o lado de fora do colchão, segurava o celular derrotada depois de ter tentado falar com Maia por três vezes e, por três vezes, ter sido respondida pela caixa postal.

Tudo estava dando estupidamente errado.

Maia não apareceu na aula por que ficou doente, então Jimin me mandou uma mensagem cancelando o nosso encontro por que esqueceu que também tinha um compromisso (não sei se para minha sorte ou não), um grupo de garotas do terceiro ano quase me derrubou na saída da faculdade, depois perdi o ônibus e cheguei atrasada no teatro, minha menstruação desceu e eu não tinha nenhum absorvente comigo, tinha esse aniversário tedioso pra ir amanhã e meus pais me compraram um vestido azul horrível.

A única coisa que deixou o dia com um saldo menos negativo foi o meu excelente desempenho na prova de Gillion. Entreguei a avaliação tão rápido que o professor até perguntou se eu estava desistindo, ao que neguei em alto e bom som, afirmando que a nota máxima já estava garantida e que ele não precisava se preocupar.

E, pensando bem, eu ir bem nessa prova era tão absurdo que talvez o universo estivesse tentando equilibrar a balança da minha vida de volta.

Eu sentia meus músculos doloridos sob o colchão, principalmente os do pescoço e ombros. Era uma tensão interminável. Aqueles 400 reais, que agora estavam sob a cama, foram ficando cada vez mais pesados conforme o dia foi passando. Era um sinal da minha consciência, me dizendo que eu precisava entender o que era aquilo, precisava falar com Maia.

"Se ao menos ela me atendesse."

Pensei, irritada. Me sentando na cama, tirei uma foto do dinheiro e enviei para ela junto com um "Preciso falar com você. Agora.".

Soltei o ar de forma exagerada pelo nariz, deitando as costas no colchão novamente. Ainda no aplicativo de mensagens, rolei as conversas para baixo até que meus olhos pararam despretensiosamente na foto do garoto do ônibus. Cliquei na conversa.


Margot: Jimin.

Margot: A Maia já tinha ido aí na casa de vcs antes do sábado passado?


Achava um pouco invasivo começar a conversa daquele jeito, mas de fato, aquela pergunta já vinha rondando a minha mente a algum tempo e, no momento, as circunstâncias eram perfeitas para fazê-la.

O Garoto do ÔnibusOnde histórias criam vida. Descubra agora