Vingança no inferno

Tormento

De volta ao presente, eu tive a certeza de que aquilo se tratava de uma cruel vingança, ela queria me fazer passar pelo que ela sofreu na hora morte só que muitíssimo pior.
Mas como ela sabia que eu a vi cair naquele poço e não a acudi? Me perguntei se ela poderia ter me visto ao longe, da mesma forma que eu a estava vendo... obviamente só podia ser isso.
Ela esperou que eu aparecesse para ajudá-la mas eu nunca fui.
Isso era terrivelmente perturbador.

A luz voltou no local, mas bem fraca, tudo ficou gelado, o ar se tornou úmido e eu e as criaturas assistimos atônitos tudo ruir... O chão e as paredes...e também as mesas e cadeiras... tudo foi a baixo, se desfarelando em forma de terra. Sim, muita terra. 
Nunca vi tamanho desespero, alguns desmaiaram só de medo, algumas minhocas ficaram quase do tamanho do próprio barril. Mas estranhamente eu não sentia medo algum!

Então senti algo viscoso subir no meu pé, olhei e era uma delas... sacudi a pata e ela caiu de costas, então lhe dei um pisão, esmagando-a.
Me senti poderosa, eu podia fazer isso! Ia pisar em quantas pudesse, evitando as bolhas grotescas, e depois tentaria acabar com Liz de uma vez por todas com minhas próprias mãos.
Agora eu sabia que a causa do meu sofrimento era dela, seu espírito imundo me assolara por anos em busca de vingança...

...

Como eram medrosas aquelas criaturas, eu tentei mostrar que era só pisar!

-Viram?! É só pisar! Esmaguem-nas!
E acabava com mais uma, das menores dava pra cuidar...

Mas eles pareciam não me ouvirem, e suas expressões de desespero me fizeram desistir de gritar.
Tudo começou a piorar, alguns cavavam com as próprias patas as paredes de terra que caiam sobre eles, os soterrando... eles pareciam loucos, sem racionalidade.
Meu pé estava todo todo ensanguentado sangue que vinha dos pisões naquelas coisas, um cheiro horrível e sufocante se alastrou, no chão além de sangue, minhocas mortas e vivas, gigantes e cheias de bolhas, muita merda e terra.
Muitos morreram soterrados pelo próprio desespero, outros devorados por minhocas, e outros corroídos pelo pus venenoso de algumas outras...

Até que a voz reapareceu...Estava furiosa.

-Por que não está funcionando com você?! Sua maldita!!! Sinta o desespero, sinta medo, eu quero seu terror, sua dor, sua agonia !!!

Senti um arrepio na espinha. E não ousei responder... Eu olhava a minha volta e só conseguia me sentir mal pelos meus novos amigos mortos, não consegui salva-los...
Meus ouvidos pararam de zumbir e eu finalmente notei que só havia sobrado nós duas alí...

E então, olhando fixamente para ela, notei um pequeno círculo disforme e iluminado surgir em seu rosto, ele era seguido por uma fina linha de luz que brotava de uma das paredes de terra... uma pequena esperança surgiu em meu ser...

Liz me olhava fixamente com seus olhos amarelos mais brilhantes do que nunca, e agora rosnava...
Ela estava sendo sorrateira?

Enquanto eu finalmente corria em direção áquela fagulha de esperança, meu coração acelerou, ... tudo pareceu ficar em câmera lenta, meus movimentos se tornaram pesados e meus pensamentos ficaram confusos e eu ouvia vozes ao longe...
Mas cheguei até alí e assim que senti a terra úmida em minhas mãos, juntei toda força que me restava e comecei a cavar ferozmente.