Querido Delegado [Degustação - Disponível na Amazon]

Capítulo 1

Alexia Gonzalez

Minha mãe era minha maior incentivadora. Ela sempre me dizia que eu tinha capacidade para conquistar tudo que desejasse e estivesse ao meu alcance, e que nenhum sonho era distante demais que pudesse ultrapassar os limites céu.

Meus olhos brilhavam perante a tela do meu notebook.

Há duas semanas atrás eu claramente diria que isso era loucura e que eu nunca conquistaria essa vaga nesse renomado escritório de advocacia na capital de São Paulo. Eu estava com a boca aberta e paralisada. Cursando Direito há apenas um ano e era completamente apaixonada por esse curso, eu não queria apenas ser uma advogada, mas uma juíza ou delegada, e puder colocar atrás das grades bandidos.

E mesmo sem acreditar, eu havia conseguido conquistar essa tão concorrida vaga, era apenas o início de todas as conquistas que viriam pela frente, eu sabia.

Eu estava tão feliz que não havia tido tempo para pensar em como eu iria para a capital de São Paulo morar e estudar sem ao menos ter aonde ficar.

Burra!

Rapidamente uma enxurrada de desânimo me tomou por inteiro quando percebi que a vaga estava ali em minhas mãos, mas a oportunidade estava longe de virar realidade, pois a minha realidade era muito diferente da que eu imaginei.

Quando me inscrevi e enviei meus currículos não fazia ideia de que poderia ganhar a vaga nem em um milhão de anos, era apenas um simples teste onde eu veria que não consegui e simplesmente continuaria minha vida e sonhando com os pés no chão.

Eu contei a minha mãe sobre isso e ela ficou feliz em saber que eu estava me esforçando para alcançar meus objetivos, mas tenho certeza que assim como eu ela nunca imaginaria que essa vaga fosse ser minha, afinal, não tenho como ir para a capital sem lugar para ficar e me estabilizar, e nem dinheiro para alugar um local.

Minha mãe Alessandra era a pessoa mais forte e incrível do mundo, mesmo depois da morte do meu pai ela continuou firme cuidando de mim e nunca se deixando abater por nada, logo nos mudamos para o interior para morar com meus avós aonde estamos até hoje.

Minha vida é completamente rotineira como vida de gente do interior, faculdade, casa e às vezes eu frequentava à igreja.

Me fazia bem estar um local assim aonde eu poderia estar mais próxima Deus e no fundo, também me sentia mais próxima do meu pai.

E pelo menos ali a dor de perder ele era amenizado quando eu tinha certeza que ele estava junto de Deus olhando por mim, mesmo com sua morte trágica e precoce, mesmo que para mim ainda parecesse injusto ele ter morrido tão novo e tão cedo, talvez meu coração realmente nunca fosse aceitar sua partida, e eu lembro claramente do dia que ele se foi sem me dar um adeus.

Mas me lembro melhor ainda que eu era apenas uma menina de 9 aninhos que iria completar meus dez anos e esperava ansiosa o outro dia para comer bolo e comemorar com meus pais aquele dia especial, que se tornou um pesadelo durante todos esses anos, pois não conseguia comemorar meu aniversário sem chorar e lembrar dele, e só Deus sabia como naquela noite eu estava ansiosa para que ele chegasse em casa e ficasse comigo.

Mas ele nunca chegou.

Me assusto quando minha mãe abre minha porta abruptamente.

– Alexia? Você já não deveria estar dormindo? Amanhã têm aula! — Fala.

Eu ainda estava vidrada na tela do meu notebook e com meus pensamentos que nem percebi que já estava tarde.

– Sim mãe, é que...eu estava vendo sobre o resultado do estágio, aquele que te contei.

– Sério? E qual o resultado? — Pergunta entrando no meu quarto.

– Mãe... A vaga é minha. — Falo sorrindo e ela me abraça.

– Eu sempre soube que você iria conseguir querida! Sempre soube! — Fala me dando um beijo na testa.

– Mas...eu não tenho condições de ir, a senhora sabe. — Falo e minha voz embarga.

– Alexia, olhe para mim — Fala levantando meu rosto. – Nós vamos resolver isso juntas.

Eu a abraço de volta e por alguns segundos consigo sorrir.

Resolver juntas, mas como?

– Eu estou muito orgulhosa de você! Minha menina linda cresceu e se tornou uma mulher linda, estudiosa e competente. — Fala. – Agora descanse querida, pois você precisará de muita energia para o futuro. — Fala por fim.

Rapidamente eu consigo confiar em suas palavras, meu coração se aquece e quando minha mãe sai do meu quarto sinto o misto de felicidade e ansiedade me invadir. Eu não sei como tudo irá se resolver, mas eu sei que sim, irá se resolver.

Meu corpo mesmo cansado e pedindo descanso sabe que terei que lidar com a ansiedade de tudo que está acontecendo, já não é novidade para mim passar noites em claro além da faculdade martirizando minha mente com pensamentos sem sentindo e lembrando repetidamente a noite da morte do meu pai como se tivesse sido ontem, hoje, como se fosse acontecer de novo amanhã, e mais uma vez perco o controle dos meus pensamentos e sentimentos que chegam sem permissão e fazem cada célula do meu corpo responder com crises de choro repentinos e um medo fora do normal.

Eu sabia bem o que enfrentava e por algum tempo aprendi a lidar com isso ao invés de apenas confrontar o medo sem razão, aprendi a conviver com ele e saber meus limites.

Mesmo confiando nas palavras da minha mãe eu estava com medo do que poderia vir, e se a gente não conseguisse resolver? E se tudo desse errado? E se eu perdesse a vaga? Eu estava sim com medo e era impossível não pensar nisso.

Antes de ao menos tentar dormir me levanto da cama e saio do meu quarto vagarosamente observando tudo escuro e silencioso, eu estava indo em busca de algo que me pudesse fazer dormir sem pensar no amanhã e no futuro incerto, peguei minha cartela de calmante e um pouco de água, pegando um comprimido e tomando.

Minha mãe sabia bem do que enfrentava e me dava total apoio e seu consolo, até hoje me impressiono com toda sua força para lidar com tudo, mas eu não tive toda essa força.

Voltei para o meu quarto e me deitei na cama abraçando meu corpo cansado e minha mente em turbilhão, eu não queria ter uma crise, eu não queria, só queria dormir e acordar no outro dia disposta a enfrentar mais um dia.

Fiz uma pequena oração pedindo à Deus que acalmasse meu coração ansioso e que cuidasse de todas as coisas que viriam pela frente, do futuro e que eu nunca, apesar de tudo permitisse que meus sonhos morressem dentro do peito.

Com a confiança de que sempre tudo ficaria bem.

Olá meus amores, espero que tenham gostado do primeiro capítulo, vêm muita coisa pela frente! MUITA!

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