Bernardo Salles.
Meu treino havia acabado há cinco minutos e eu estava parado com minha garrafa de água na mão pensando no passado, pensando na ligação que recebi há menos de 24 horas atrás de alguém que jamais esperava.
Alessandra Gonzalez.
A esposa de Pedro meu companheiro e melhor amigo morto há dez anos atrás. Ao ouvir sua voz do outro lado da linha meu corpo paralisou e parecia que estávamos de volta ao dia exato em que Pedro morreu, o dia que nunca superei.
Mas ouvir sua voz não foi suficiente para fazer minhas memórias voltarem em cheio, ao ouvir o nome de Alexia eu puder reviver também naquele momento flashbacks com a pequena garotinha do leão na qual eu amava tanto e me separar dela foi uma das piores dores que também pude sentir.
Naquele dia, naquele mesmo dia eu me amaldiçoei por ser culpado pela morte do meu amigo, eu sabia que eu deveria estar ali, era eu e não ele, eu carreguei a culpa e ouvir Alessandra confirmando isso me fez entender que a partir daquele dia nunca mais eu seria o tio da Lexi, nunca mais eu poderia levar ela para ir ao zoológico, nunca mais veria o Pedro novamente. Nunca mais.
"A culpa é sua! Ele poderia estar em casa há horas com a nossa filha descansando, mas estava aqui no lugar que era para você estar! Você é irresponsável!"
Apenas isso rondava a minha mente a cada palavra dita por Alessandra quando me contou que Alexia havia completado 20 anos estava fazendo faculdade de Direito, e que conseguiu uma vaga tão concorrida na capital de São Paulo aonde sou delegado há 7 anos. Ao ouvir falar de Alexia meu coração ficou feliz ao saber que ela cresceu e estava feliz conquistando seus sonhos, a nossa Alexia se tornou uma mulher.
Eu só não sabia como reagir a tudo aquilo naquele momento, eu não tinha ao menos palavras para responder. Quando Pedro morreu Alessandra se mudou para o interior com Alexia logo em seguida, no outro dia era seu aniversário e todos nós estávamos destruídos, ainda sim tentei ir até a sua casa e levei um leão de pelúcia para entregar a ela, mas Alessandra jogou em minha cara que ela não queria sair do quarto porque só sabia chorar e pedir pela presença do pai, e mais uma vez eu era o culpado.
Dali para frente me afastei totalmente de sua família, nunca mais tive a oportunidade de ver Alexia, 3 anos depois eu me tornei delegado e prometi que iria prender bandidos como aqueles que provocaram a morte de Pedro. Eu ainda estava em êxtase com seu pedido.
Alessandra queria que eu pudesse acolher Alexia por algum tempo na capital, para que ela não perdesse a vaga no escritório de advocacia, eu não tinha remorso de Alessandra e só Deus sabia como sentia falta de Alexia, eu não precisava pensar muito para aceitar aquilo em nome da minha amizade com Pedro e de todo meu carinho por Alexia.
– Ei Lion, não precisa pular em cima de mim garotão! — Falo brincando com meu dog ao entrar em meu apartamento.
Por mais que dez anos tivessem se passado as memórias com Alexia nunca haviam sido esquecidas, e então coloquei o nome do meu husky siberiano de Lion, no fundo em homenagem a ela.
Ao entrar em meu apartamento Lion me segue até o quarto e pula na cama se deitando enquanto sigo para o banheiro, no meu celular haviam centenas de mensagens de Ashley me pedindo para ver o Lion e que queria me visitar para ficar um pouco com ele.
Há 3 anos quando adotamos ele juntos, já estávamos no pico do fim do nosso casamento de quase 7 anos, seu ciúme e possessão exacerbados me tiravam dos trilhos e a total paciência, por algumas vezes ela prometeu mudar, mas com o tempo percebi sua arrogância e ambição em tudo, Lion foi uma das nossas últimas oportunidades de se reaproximar, no fim ela foi embora, mas Lion ficou como meu mais novo companheiro e amigo nas noites silenciosas e calmas.
Eu não sabia se Alexia gostava de cachorro ou ao menos tinha algum, mas se podia lidar com um leão poderia lidar com um cachorro.
Era tão novo o fato dela estar se mudando para cá em algum tempo, eu não sabia se muita coisa mudaria, no fundo achava que não, pois minha vida se resumia ao trabalho, e a vida de Alexia se resumiria ao trabalho e a faculdade, teríamos bastante tempo para conversar sobre tudo que ela quisesse e sermos amigos como há dez anos atrás, eu não sabia se Alexia me culpava também pela morte do seu pai, mas se isso fosse o caso eu respeitaria sua decisão, afinal, eu sabia também que a culpa era minha, se ela sentisse raiva de mim como eu também sinto até hoje, ao menos eu a teria por perto por algum tempo.
E além de Alexia, Ashley e todo o resto o trabalho estava tomando conta dos meus neurônios a cada dia, ainda mais depois que um mafioso prometeu vingança a mim sobre a morte de um dos seus filhos traficantes.
Eu não me importava muito, pois no fundo não tinha medo, eu sabia dos riscos do meu trabalho como sempre soube quando era policial, eu sabia que poderia morrer, ou ficar ferido em cada operação, eu também sabia bem como essa vida era toda uma loucura, mas eu escolhi isso e valorizada muito. Eu tinha orgulho do meu trabalho e de cada bandido que prendia e colocava atrás das grades.
As ameaças de Dom não me afetavam nem um pouco.
Depois do banho saí para cozinha para comer algo e passei no quarto aonde seria de Alexia, amanhã Lurdes faria uma limpeza geral e o deixaria perfeito para a chegada dela. A única mulher que convivi junto foi Ashley e mais nenhuma, é claro que nosso contato seria apenas estar debaixo do mesmo teto, pois não tinha quase nenhuma expectativa de muita amizade com ela.
Eu não sabia qual era a Alexia que estava para chegar, se me odiava ou me perdoava, dez anos se passaram e nunca mais nenhum de nós foi o mesmo. Disso eu tinha total certeza.
Não éramos os mesmos.
Olá amores! Peço que vocês votem e comentem bastante! Beijos e até breve. ♥
VOCÊ ESTÁ LENDO
Querido Delegado [Degustação - Disponível na Amazon]
RomanceCom seus recém chegados 20 anos, Alexia Gonzalez conseguiu uma tão sonhada vaga de estágio concorrida, aonde lhe proporcionaria continuar sua faculdade de Direito e conhecer novos ares, pessoas e lugares. Morando no interior de São Paulo a linda mor...