Harry acordou sobressaltado. Outro pesadelo. Ele tinha esperanças que eles desapareceriam depois que Voldemort estivesse destruído, mas... Tantas pessoas morreram, todas as coisas que ele presenciou... Sua cabeça precisaria ser esvaziada em uma penseira bem grande para que pudesse dormir uma noite inteira sem ver tudo aquilo em seus sonhos.
- Tá tudo bem, cara? – resmungou Rony, ainda grogue de sono.
- Está tudo bem. Volte a dormir. – Harry levantou da cama de armar que Sra. Weasley colocou no quarto do melhor amigo e decidiu descer para respirar um pouco de ar fresco.
Desceu as escadas em silêncio e encontrou a porta da frente sem muitos feitiços de proteção, o que o fez se lembrar da primeira vez em que esteve n'A Toca, antes de seu segundo ano em Hogwarts. Finalmente a família que considerava um pouco sua voltava á normalidade.
Harry não sabia o que sentir. Não tinha conseguido assimilar ainda o fato de sua vida não estar mais sendo guiada por uma força maior, era tudo muito novo porque a sensação de segurança que os Weasleys voltavam a sentir era algo que Harry desconhecia.
Ele não sabia como agir e estava cansado de ser exaltado como um herói. Tudo o que ele podia pedir era uma vida normal depois de tudo, mas era como se as coisas acontecessem exatamente na contramão de seus planos.
Sentado na grama, Harry fechou os olhos e recordou da primeira coisa fora de seu planejamento sem ter Voldemort como culpado.
Flashback on
- Eu já cansei de ser deixada de escanteio, Harry! Que droga! – já tinha perdido a conta de quantas brigas tinham tido em tão pouco tempo e o moreno não sabia mais o que falar. – Primeiro você decide que precisa ajudar com a reforma de Hogwarts mesmo sabendo que tem várias pessoas lá pra fazer isso, depois você vai depor á favor dos Malfoy, dos Malfoy! O que você tem na cabeça? Eles eram Comensais da Morte, mas você parou a sua vida por três dias para que aquela doninha e a víbora da mãe dele ficassem livres. E agora você vem me dizer que vai ficar a semana inteira na casa da Andrômeda pra cuidar do Teddy? Ela é avó dele, ele vai ficar bem com ela.
- Em primeiro lugar, Hogwarts sempre foi minha casa e você sabe muito bem disso. Eu nunca me negaria de ajudar a colocar aquele lugar de pé novamente. Segundo, eu achei que não precisava te lembrar que a Sra. Malfoy salvou a minha vida...
- Tudo bem, salvasse ela então! Ela nem tinha a maldita marca, mas e o Malfoy? Ele ia matar o Dumbledore! Ele é uma cobra traiçoeira e sem escrúpulos, e mesmo assim você fez de tudo pra limpar a barra dele.
- ELE NÃO TINHA ESCOLHA! – gritou e deu as costas pra ruiva. – Você não sabe de nada, você não estava lá na Torre de Astronomia. Ele estava desesperado. O que você faria? Hein, Gina? O que faria se Voldemort ameaçasse matar seus pais e sua única escolha fosse seguir as regras dele?
- Eu não acredito que você está me comparando com o Malfoy! Eu nunca aceitaria aquela marca! Ele se colocou naquela situação porque quis, ele...
- Ele não teve escolha, o que nessas palavras você não consegue entender? – Harry a olhou, incrédulo por ver que a ruiva não conseguia entendera algo tão simples. – O pai dele era um Comensal, Voldemort usou a casa dele como quartel general. O que você queria? Que ele se entregasse para uma sessão de Cruciatus e depois morresse? É isso? Você queria que ele estivesse morto, Gina?
Gina abriu e fechou a boca algumas vezes antes de respirar fundo e voltar a falar, cruzando os braços:
- O Malfoy é só um dos que tem mais atenção na sua vida do que eu. Sempre tem alguém pra tirar um pedacinho de você, você sempre dá mais atenção pra todo mundo. Achei que depois de matar o Voldemort você finalmente teria tempo pra mim, mas parece que está adorando toda essa atenção. Quem diria que eu precisaria marcar horário pra ficar com o meu namorado. Tem uma secretaria pra isso também? Ou vai contratar uma depois de passar a semana com o seu afilhado? – perguntou, arrogante.
- Teddy é meu afilhado e faz semanas que eu não o vejo. Eu quero ser presente na vida dele, Gina. Quero cumprir minha função de padrinho, foi pra isso que Remus confiou em mim. – Harry bagunçou os cabelos, irritado antes de olhar Gina nos olhos. – Você está sendo egoísta e eu não vou permitir que me faça escolher entre você e Teddy...
- Por que não?
- Porque a minha escolha não seria você.
A resposta sincera foi dita de forma cansada, mas clara o suficiente pra deixar a ruiva sem reação por alguns segundos. Gina descruzou os braços e empinou o nariz.
- Ótimo, porque a minha escolha também não é mais você. – e saiu andando, deixando Harry sozinho com seus pensamentos.
Flashback off
Harry não se arrependia. O fim do relacionamento com Gina se mostrou bom para os dois. Ela já estava com planos de viagens e com muitos contatos com equipes de quadribol, coisa que parecia desagradar Molly. Harry, por outro lado, se sentia mais livre e agora tinha em mente que um relacionamento só valeria a pena se a pessoa o entendesse de verdade.
Já mais calmo do pesadelo e começando a sentir frio, ele se levantou e começou a caminhar de volta para A Toca, mas uma coruja cinza o alcançou antes e pousou, preguiçosa, em seu ombro. A ave estendeu a pata e, assim que o pergaminho foi solto, voou pelo caminho que veio, não presenciando a expressão surpresa do moreno ao ver que o remetente era a Sra. Malfoy.
Caro Sr. Potter
Desculpe por entrar em contato assim tão cedo, mas a saúde do meu filho depende de uma resposta o mais imediatamente possível e só você pode ajudar.
Descobrimos há pouco tempo que Draco tem sangue Veela e, por causa disso, precisa da ajuda de um parceiro de alma para ajudar no equilíbrio de sua magia. Se isso não acontecer até o final da semana, ele morrerá e tudo o que eu fiz para tentar salvá-lo terá sido em vão.
Você é o único que pode salvar meu filho porque foi você que a parte Veela dele escolheu.
Sei que não tenho direito de te pedir nada, principalmente depois de tudo que fez por mim e por Draco, mas é a vida do meu filho que está em jogo e eu faço qualquer coisa para que ele fique bem.
Estamos no St. Mungus e vamos esperar por você.
Atenciosamente
Narcisa Malfoy
Harry leu e releu a carta o máximo de vezes que conseguiu antes de perceber que as palavras já cansavam seus olhos. Seu cérebro estava em pane e seu coração parecia ter parado de bater quando entendeu o que estava em suas mãos. Como poderia escolher entre salvar ou não a vida de uma pessoa? O que aconteceria se sua resposta fosse sim? E Draco, teve alguma escolha ou mais uma vez o destino quis brincar com os dois?
Tremendo, com a boca seca e com milhares de perguntas na cabeça, Harry resolveu voltar para dentro da casa e esperar o dia clarear antes de tomar qualquer decisão.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quando as coisas erradas se tornam certas
FanficEscolhas erradas, segredos guardados, contos de fadas despedaçados, mas ainda assim essa é uma história feliz. Porque as coisas certas sempre podem se perder no meio do caminho.