As três horas que consegui dormir aumentaram ainda mais o ódio que eu sentia pelas manhãs. Todas as minhas coisas estavam amontoadas nos carros que esperavam do lado de fora e eu estava pelo quarto procurando por alguma coisa que estivesse me esquecendo. Minha roupa era bonita, ainda que casual — eu usava calças jeans, botas e uma camisa confortável com um cachecol grosso —, pois eu sabia que a imprensa estaria a postos para tirar fotos. Shivani estava em pé ao lado da porta segurando meu novo casaco preto e com os olhos um pouco embaçados. Lágrimas àquela hora da manhã me assustavam.
— Estou com o seu casaco. — ela fungou e eu olhei para ela com os olhos arregalados.
— Ah, não.
— Você vai precisar dele.
Olhei para ver como estava o tempo e estava nevando do lado de fora. Ela fungou de novo.
— Você não vai querer ficar doente bem quando chegar lá.
— Shiv, não faça isso. — Sacudi a cabeça, paralisada no lugar.
— Eu sei que você não gosta de despedidas, por isso só vou te dar isso e então vou voltar para o meu quarto. — Fungada. Soluço.
— Ah, espera, assim você acaba comigo. — Senti a pele em volta de meus olhos se apertar e pisquei rapidamente.
— Vou sentir sua falta. — Ela empurrou o casaco para mim.
— Você vai vir me ver neste verão, não é? — Eu não peguei o casaco. — Isso não é um adeus.
— Mas vou sentir falta da sua cara mal-humorada de manhã e de você conferindo a louça que eu lavei. — Ela fez um beicinho.
— Bert também fica mal-humorado de manhã, você vai ficar bem.
— Não fico, não — resmungou ele.
— Certo. Nem um pouco mal-humorado. — Sacudi a cabeça. Shiv desistiu de esperar que eu pegasse o casaco e abraçou-me assim mesmo. Eu a abracei de volta, sabendo que levaria um bom tempo para vê-la de novo. Ninguém mais me entenderia da maneira como Shivani me entendia. Eu a apertei com um pouco mais de força e então a soltei.
— Vou mandar uma lembrancinha para você. Talvez um daqueles anõezinhos fazendo cocô na grama. — Abracei Bert também e ele virou-se rapidamente e saiu andando. As vans das emissoras de TV que não haviam me deixado em paz nos últimos dias ainda estavam ali, os jornalistas estavam em pé na calçada, com câmeras e microfones.
— Any! Any! Você está animada em ir para Lilaria pela primeira vez?
— Vai morar em Lilaria?
— Você e o Príncipe Noah têm alguma coisa?
— Any Gabrielly! Como se sente sendo uma duquesa americana?
Não consegui conter minha risada quando ouvi o último comentário e olhei para o jornalista.
— Duquesa americana?
— Nossa própria realeza! O que você acha? — Ele parecia eufórico por eu ter achado seu comentário engraçado.
— Eu sou uma aluna de pós-graduação.
Balancei a cabeça e fui andando até a porta do carro. Era estranho o fato de eu já ter me acostumado a ter um motorista. Apesar de minha caminhonete estar caindo aos pedaços, sentia falta dela. Bert e Shivani iriam usar a caminhonete para levar o restante das minhas coisas para a casa de meu pai, e então a deixariam por lá.
A viagem até o aeroporto foi surreal. Passamos por alguns lugares que fizeram parte da minha vida nos últimos dez anos, construções que eu parecia conhecer desde sempre. Vans cheias de repórteres e câmeras nos seguiram a uma distância aceitável, felizmente. Eu detestaria que eles fotografassem as lágrimas que escorriam de meu rosto.
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Suddenly Royal •Noany• [✔]
FanfictionAny Gabrielly Soares é uma garota que está acostumada a sujar as mãos. Ela faz mestrado em biologia da vida selvagem enquanto ajuda a cuidar de seu pai doente. Logo, não tem tempo para fofocas de celebridades, roupas da moda ou férias em algum paraí...