Minha caminhonete parecia dar seu último suspiro quando cheguei ao hotel. Peguei um trânsito terrível, por isso não tive tempo de estacionar aquela coisa e evitar o constrangimento de entregá-la ao manobrista.
Resmungando baixinho, tentei jogar um pouco do lixo que estava no banco para debaixo do assento antes que o manobrista abrisse a porta. Olhei para cima e sorri para o jovem.— Sinto muito, deixei o Bentley para lavar.
— Parece que a senhora fez uma boa troca, madame. Este carro é um clássico.
Ele levantou a mão e ajudou-me a descer do carro. Sorri agradecida porque eu tinha deixado Shiv me convencer a usar salto alto naquela noite. Ele me entregou o ticket e dei as chaves a ele.
Tentei não encolher quando a caminhonete fez um barulho antes de ser levada. A recepcionista me observava pela porta de vidro, então respirei fundo e mantive a cabeça erguida, rezando mentalmente para não cair de bunda no chão por causa daqueles malditos sapatos. O porteiro abriu a porta para mim, mas até mesmo ele me olhou com desdém ao me observar.
A ideia do chile já me parecia uma opção bem melhor. Pelo menos que a comida fosse decente. E que não fosse tão cara. Eu havia acabado de pagar 300 dólares ao hospital para cobrir as despesas mensais do meu pai. Uma maneira simpática de descrever minha situação era dizer que eu estava raspando o fundo do tacho. Sorri para a recepcionista, esperando que minha educação aliviasse um pouco o vexame da caminhonete.
— Oi. Vim encontrar a Duquesa Sverelle para jantar.
— Ela está esperando por você?
A voz da loira doeu em meus ouvidos. Era aguda e anasalada. Por que eles haviam escolhido uma voz daquelas para causar a primeira impressão nas pessoas? Existem inúmeras loiras com corpo de modelo que adorariam ter um emprego como esse. Ela apertou os olhos e me olhou com nojo.
— Acho que sim, afinal foi ela quem me convidou.
A operação simpatia havia chegado ao fim.
— Hã-hã. E qual é o seu nome? — A mulher olhou para a lista à sua frente com tanta seriedade que dava para pensar que aquela era uma lista com o nome de pessoas esperando por um transplante de coração.
— Any Gabrielly Soares.
Eu a observei enquanto ela procurava o nome na lista e então olhava de novo para mim.
— Sou da universidade.
— Entendi. Só um momento.
Ela saiu. Seu cabelo balançava atrás dela como se estivesse andando em um túnel de vento pronta para uma sessão de fotos e fiquei imaginando como ela conseguia fazer aquilo.
A loira voltou um pouco depois, acompanhada por um homem com um olhar entediado. Ele era alto, magro e mais velho, e me lembrava Alfred dos filmes do Batman. Mas sem o menor humor ou a inteligência dele. Ele passou os olhos pelo meu casaco de inverno e fez cara de nojo. Ele morava ali, não morava? Como podia achar estranho usar um casaco de inverno?
— Senhorita… — Ele olhou para mim esperando que eu dissesse meu nome.
— Soares. Any Gabrielly Soares.
— Senhorita Soares, seu nome não está na lista.
— Tenho certeza de que é apenas um engano. — Apertei os olhos para o homem. — Talvez você pudesse confirmar com a duquesa.
— Tenho certeza de que a duquesa teria me informado se ela estivesse esperando mais alguém para o jantar. — Ele sorriu para mim e eu precisei respirar fundo antes de responder.
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Suddenly Royal •Noany• [✔]
FanfictionAny Gabrielly Soares é uma garota que está acostumada a sujar as mãos. Ela faz mestrado em biologia da vida selvagem enquanto ajuda a cuidar de seu pai doente. Logo, não tem tempo para fofocas de celebridades, roupas da moda ou férias em algum paraí...