O som do baque das pesadas gotas de chuva são substituídas quase instantaneamente pelo ruído de várias conversas misturadas quando entro no bar, o cheiro amadeirado junto com o aroma alcóolico do ambiente logo chega às minhas narinas. O pequeno e manchado espelho pendurado na parede com pintura descascada ao meu lado me dá a oportunidade de encarar meu próprio reflexo.
Meus cabelos estão tão arrumados quanto uma mulher que trabalha oito horas por dia poderia arrumar, detecto olheiras tatuadas na região de baixo de meus olhos. Suspiro. Hoje é só mais um dia péssimo junto de muitos outros, superarei isso.
Está mais cheio do que eu esperava, este é o bar mais escondido que pude achar pela cidade, é tão pitoresco que temo não conseguir nada mais que um shot de tequila barata e, se der sorte, algum refrigerante, ainda assim, tem mais de vinte pessoas ocupando os assentos. Inclusive um "DJ", como dizia o folheto colado à porta, o que consiste em, basicamente, um garoto de não mais que dezessete anos com seu celular em mãos e uma caixa de som. Sento-me no banco mais afastado e encaro o pequeno papel plastificado com alguns nomes de bebidas que nunca vi na minha vida. Logo o barman magricelo com um sorriso de quem obviamente não queria estar ali vem até mim.
— Posso te ajudar?
— Traga algo forte e barato, por favor. — Seu sorriso cai quando percebe que, igual a todos os outros fregueses, eu não tenho muito dinheiro. Ele murmura um "tudo bem" e logo um copo com um líquido âmbar está sendo posto em minha frente. Encaro-o.
Se eu conseguir ao menos levar isto à minha boca, seria a primeira vez que eu beberia algo alcoólico, mesmo aos vinte e sete anos. Vamos lá, Olivia, não deve ser tão difícil. Levanto o copo e, lentamente, quase como se ele pudesse me machucar, levo ao meu nariz. O intenso cheiro amadeirado sobe tão forte que começo a tossir. Definitivamente, não.
— Esse lugar está vazio? — Uma voz rouca alcança meus ouvidos.
Não ouso tirar os olhos da minha bebida.
— Sim.
O barulho da cadeira se arrastando pelo chão se cessa quando ele se senta ao meu lado. Consigo sentir sua presença. Meu nariz, que antes ardia com o fedor de álcool, agora sente o aroma almiscarado que emana dele.
— Está enchendo rápido, hein?
O "pois é" sai tão baixo que temo que ele não escute, o que não me incomoda, a última coisa que quero hoje é conhecer novas pessoas.
— Dia ruim?
— Sim. — Semana ruim, mês ruim, talvez até ano ruim.
— Você só fala isso? — Seu tom é brincalhão.
— Não. — Levanto meu rosto e o encaro.
Todo o barulho que antes fazia meus ouvidos doerem se vai enquanto olho o homem sentado ao meu lado. Não são seus cabelos castanhos perfeitamente cortados fazendo contraste com sua barba barba por fazer, ou sua blusa branca de botão que faz seus músculos ficarem evidentes, nem mesmo o relógio imenso preso em seu braço que me chamam atenção. São seus olhos: Um par de olhos impressionantemente cinza, tão profundos e claros que me fazem me perder lá dentro.
Não tenho tempo de desviar minha atenção e fingir que não estou absurdamente presa em seu rosto, logo vejo seus lábios levemente rosados se curvando para cima e sua mão se estendendo para mim. O choque que sinto quando a aperto não tem nada a ver com o clima do lugar.
— Muito prazer, sou Grey. —Grey, assim como seus olhos. Só percebo que soltei uma risada quando noto a curva em sua boca aumentar. — Está vendo? Não fazem nem minutos que estou sentado ao seu lado e já te fiz sorrir.
— Não estou rindo por sua causa. Só lembrei de algo engraçado.
Ele dá de ombros, seus olhos me dizem que não acreditam em uma palavra do que eu disse.
— Estou falando sério. — Digo, quase em autodefesa.
— Tudo bem se não quiser admitir que eu melhorei seu dia. — Ele dá de ombros de novo. — Apenas acho meio presunçoso de sua parte.
O sorriso largo em seus lábios contagia o meu.
— Você é o único presunçoso aqui, apenas estou dizendo que não ri por sua causa. — Seus olhos me encaram tão profundamente que quase travo na hora de falar.
Sou uma grande mentirosa, mas não admitirei que estou sorrindo por um cara que nem conheço.
— Então vamos fazer o seguinte... — Ele se aproxima ainda mais de mim, nossos braços apoiados no balcão quase se tocam. — Se eu te fizer sorrir nos próximos cinco minutos, você vai ter que dançar comigo bem ali.
Seu dedo longo aponta para um espaço reservado para quem quer dançar, bem ao lado do adolescente com a caixa de som.
— Não sou boa em dança.
Ele franze a boca. — Então não perca.
Uma onda de coragem toma o meu corpo, o pior que pode acontecer é eu precisar dançar na frente de todos em um bar razoavelmente cheio.
— Grey, hein? Assim como seus olhos.
Sua risada fraca me diz que não é a primeira vez que te dizem isso.
— Na verdade eu deveria me chamar Matteo, mas logo que nascemos e minha mãe viu meus olhos, ela escolheu esse nome. Não tem nenhum significado além disso.
Franzo as sobrancelhas.
— Nascemos?
— Tenho uma irmã gêmea, Greta. — Ele sorri ao dizer seu nome. — Mas acho que não deveria estar te confidenciando coisas sobre a minha família, digo, você nem aceitou ser mãe dos meus filhos ainda...
A brincadeira sai com tanta facilidade da sua boca que sinto vontade de rir, e só percebo que ri de verdade quando seus olhos se expandem e ele sorri.
— Você me deve uma dança, senhorita.
Não tenho tempo de negar antes que ele corra até o garoto do som e sussurre algo em seu ouvido. Logo ouço seus passos apressados enquanto uma batida que reconheço como Beautiful Day, da U2, começa a tocar.
Noto alguns olhares em nós, nele, enquanto ele me puxa para a pista. Sua boca canta baixo e desafinadamente em meu ouvido, não consigo me conter e gargalho para ele. Suas mãos chacoalham meus ombros, uma ordem explícita para eu me soltar. Antes que eu perceba, estamos dançando junto de muitos outros casais. Suas mãos, mesmo subindo e descendo por minha cintura, percorrem um limite seguro pelo meu corpo, sou grata por isso.
Quando a música termina, sinto sua mão me puxando de volta aos nossos lugares, minha barriga dói e percebo que essa foi a primeira vez em semanas que soltei uma gargalhada sincera.
Me assusto com os gritos masculinos que ecoam pelo lugar.
— Futebol. — Grey explica.
Homens com blusas de time se amontoam em um canto do bar, atentos à televisão.
— Isso aqui vai ficar perigosamente cheio mais tarde. — Digo.
— Acho que deveríamos ir para outro lugar.
Entendo exatamente o que ele está sugerindo. Concordo.
— Por que não?
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Convince Me
RomanceUm caso de uma noite com um atraente desconhecido que conheci em um bar não deveria dar em nada, certo? Os cinco testes de gravidez positivos à minha frente dizem o contrário. Grávida. Mas estava tudo bem, eu passaria numa clínica e acabaria com...