Sangue

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No dia seguinte nos aventuramos floresta a dentro.
Haviam animais na ilha, mas a caça era difícil. Nós nos alimentávamos mais de mariscos e frutas. Montamos alguns abrigos, e passávamos boa parte do tempo neles.
Exploramos a ilha algumas vezes, mas nunca nos afastamos muito.

Naquela dia, Ethan havia matado um macaco, despertando a fúria de seus companheiros.
Eles nos atacaram, e nós fomos obrigados a fugir. Momentos mais tarde, voltamos ao lugar
aonde Ethan havia o silenciado, e pegamos o corpo. Junto com o grande peixe que Henry pescara, aquela foi uma boa e satisfatória refeição.

Todavia, estávamos magros,
e a força nos deixava às vezes. Era Alice quem estava pior... Ela quase não agia, passava o dia todo sentada, olhando para o horizonte. Às vezes ela se encolhia, e ficava se mexendo para trás e para frente. Nem mesmo parecia a garota cheia de confiança e louca da faculdade, capaz de vencer qualquer discussão. Ela era muito boa nisso, sim.
Não era uma nerd como Andrew, mas dominava a arte do debate como poucas pessoas.

Eu gostaria de ter visto Alice fazer algum discurso positivista, mas o que se dava era de profunda angústia. Com o tempo, ela começou a chorar frequentemente.

Em uma conversa ela me revelou que seu passado a atormentava. Ela estava falando do seu bebê, o mesmo que abortara. Era filho de Ethan, mas ele jamais saberia. Eles haviam sido namorados por um longo tempo, até que Ethan a traiu. Então, Alice escondeu a gravidez, escolhendo o aborto.

Na praia, em sua insanidade, ela me revelou que fizera isso com prazer; como que se estivesse se vingando de Ethan ao escolher a morte da criança. Mas agora, esse fantasma a atormentava... Suas olheiras estavam piorando, e sua beleza tão jovial adotava um aspecto louco, algo lunático.

Em dado momento, eu ouvi Jacob e Andrew conversando sobre ela. Jacob disse:
— Alice sempre foi doida... Ela pintava essa loucura como uma coisa divertida, mas agora a máscara caiu, e ela está sentindo a desgraça que há em seu cérebro. Aposto que
ela nunca lidou com esse lado de modo maduro, então merece isso.
— Hm... Será? Pode ser.
Ouvindo isso, eu sai das sombras e os confrontei. Enraivecida, eu disse:
— Vocês estão falando merda! Deixem de ser idiotas, seus animais! Ou... Ou...
— Ou o que? — Disse Jacob. — Estamos falando a verdade. Não vê como sua amiga está?
— Seu canalha!
Jacob riu, cruzando os braços.
— Eu não posso fazer nada se você não gosta de ouvir a verdade. Entenda, sua amiga é um desastre, apesar de ser uma gata.

Eu não esperava fazer valer a sugestão da ameaça... Mas fiz. Peguei minha faca de pedra, o cozinheiro fizera uma para cada um de nós, e levantei o braço, ameaçando Jacob.
— O que está fazendo Mary? — Disse Andrew, apavorado.
— Está querendo usar isso em mim? — Perguntou Jacob. — Abaixe isso idiota, você não sabe usar.
— Vá se foder! — Gritei, descendo a faca sobre o peito dele.
A faca se fincou na carne de Jacob, que gritou, e me empurrou.
— Sua vadia! — Ele rosnou.
Eu havia caído na areia, e ele montou sobre mim. Então, começou a golpear meu rosto.

Se estivesse em plena forma física, teria me desmaiado nos dois primeiros golpes.
Todavia, me mantive consciente, enquanto ele desferia verdadeiras pedradas na minha face. O sangue tão logo começou a surgir, inutilmente tentei empurrar ele...

Que cuspiu em mim, e continuou golpeando. Andrew tentou remover Jacob de cima de mim, e acabou empurrado para longe.
— Jacob! Para! — Gritou Andrew. — Você vai matar ela!
Mas foi inútil.
— Piranha, vou te ensinar uma lição! — Disse ele, repleto de ódio enquanto abria minhas pernas.
Se Henry e Ethan não tivessem chegado a tempo, eu teria sido estuprada e morta.

Os dois tiraram Jacob de cima de mim com muita dificuldade, e o repreenderam:
— O que está fazendo porra?! — Berrou o cozinheiro.
— Não grite comigo! — Gritou Jacob de volta.
Os dois estavam prestes a se atracar, quando Ethan interviu.
— Chega! — Disse ele. — Não sejam idiotas, temos que sobreviver!
Abigail, Liza e Alice chegaram a confusão.
Eu estava desnorteada, com fortes dores no rosto. Havia sangue nele, muito sangue. Alice se ajoelhou perto de mim, e me abraçou, chorando. Abigail e Liza cobraram explicações, mas nenhum dos rapazes respondeu.
Então, Henry me pegou nos braços, e me levou até o acampamento. Liza cuidou de mim o dia todo, e eu contei para ela a verdade...

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