Décimo terceiro dia

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E ele leu. Até amanhecer. Não queria dormir. Mas assim que viu Albus acordar notou que o exemplar da amiga do pequeno príncipe havia sumido de suas mãos, como mágica. Ele tinha certeza que era quinta-feira novamente. Lavou seu rosto. Se beliscou pra ver se estava mesmo vivendo o mesmo pesadelo novamente. Se encaminhou para o café. Passou por dentro do fantasma, o ignorou, simplesmente não o respondeu. Viu a mesma algazarra de todos os dias pelos doces da mesa. Resolveu experimentar todos. Talvez todos aqueles dias de açúcar lhe fizessem ter uma má digestão que o fizesse parar na ala hospitalar. Pelo menos seu dia seria diferente. Lily veio lhe perguntar se queria apostar quadribol. Fingiu que não a ouviu. Rose se postou na sua frente. Não estava zangada por ele ter sido prepotente com o fantasma.

Na verdade Rose havia lhe dito bom dia e o garoto apenas a ignorou. Não tinha coragem de olha-la nos olhos novamente. Não conseguia olhar seu rosto e não poder tocar em seu cabelo. Não conseguia olhar seus lábios e não se lembrar do beijo doce que trocaram. Não conseguia olha-la e saber que Rose simplesmente o odiava. O seu antigo eu, seu eu moldado para ela. Qual eu ele deveria ser?

— Você está bem? – ela lhe perguntou antes de sair para a aula de adivinhação. Scorpius simplesmente concordou com a cabeça.

Viu a amiga e Albus saírem para a aula. Comeu vários doces até que percebeu que não iria passar mal e não iria ter um dia de folga na ala hospitalar. Seguiu seu caminho para a aula. Trombou em Lysander, ignorou sua conversa sobre zonzóbulos pela décima terceira vez. Entrou na sala pedindo licença pela primeira vez. Sentou-se com os dois amigos e escondeu sua cabeça na carteira cansado.

— O que está acontecendo com você? – ela perguntou a ele relando sua mão em seus cabelos. O garoto levou um susto pelo toque repentino e sentiu seus pelos da nuca se eriçarem.

— Seu livro do pequeno príncipe está aí? – perguntou levantando seu rosto a encarando pela primeira vez no dia.

— Como sabe que tenho um livro do pequeno príncipe?

Ele não respondeu, a professora Trelawney estava ao lado pedindo para Scorpius beber sua xícara de café. Tudo se repetiu novamente. Mas ele não se ofereceu para carregar os livros da garota até a sala de Runas antigas como nos dias anteriores. Limitou-se a ir para a aula de poções e tirou com Albus outro excedente expectativas.

— Quero conversar com você. – ela foi enfática quando o viu no almoço com a cara tão inclinada para a mesa que quase a enfiava em sua tigela de salada.

— Não estou com cabeça Rose. Talvez amanhã.

— Tem que ser agora. – ela o puxou e pela mão e Scorpius a olhou intrigado. A garota o levou para uma parte dos jardins. Embaixo da mesma árvore dos dias anteriores que ele havia preparado o piquenique.

— Primeiro, como sabe sobre meu livro trouxa? – Rose estava intrigada. – Segundo, o que está acontecendo com você?

— Isso é importante? Eu sei da jiboia engolindo o elefante, sei sobre a rosa na redoma, mas que ela precisa aguentar algumas lagartas para conhecer as borboletas, sei que quando se está triste é bom ver o pôr do sol e bom é verdade. Gostaria de um pôr do sol agora.

Rose o olhava boquiaberta, o garoto conhecia todos os detalhes de seu livro. Seu livro trouxa favorito, aquele que sua mãe lhe deu antes mesmo de saber ler. Mas como poderia, sendo ele filho de uma família que sempre foi bruxa, que nunca conheceu a vida trouxa.

— Porque está triste ao ponto de querer um pôr do sol? – Rose o tocou novamente.

Será que ela só o tocava quando percebia sua fragilidade? Scorpius se afastou porque não queria que ela sentisse apenas pena dele.

Um eterno déjà-vuOnde histórias criam vida. Descubra agora