Capítulo 1

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Verdade seja dita: havia milhares de escadarias naquele Palácio! Quatro andares e centenas de escadas! Já havia falado com meus pais para que instalassem um elevador, igual ao que havia no Palácio real da China: isso nos pouparia tempo e esforço! Mas minha mãe havia dito que não precisávamos de extravagâncias desse tipo no Palácio de Orlean. Eu poderia insistir, mas francamente não gosto de prolongar assuntos. Então, dei o assunto por encerrado.

Havia saído somente para pegar um ar no Jardim, o único lugar onde eu me sentia livre. Na verdade, nem tão livre. Por mais grande que fosse o jardim real, os muros poderiam ser vistos de longe. Eram enormes e impossíveis de serem escalados, quebrados e não havia nada que pudesse danificá-los. Isso sem contar os guardas que o cercavam por dentro e por fora. Eu odiava aqueles muros com toda minha força. Mas infelizmente eles estavam comigo desde o meu nascimento, e ficariam comigo até a morte. Porque eu era Maine Orlean, princesa de Orlean e princesas não saiam de seus palácios. Em alguns casos, nem na morte.

Na Inglaterra, país da minha mãe, a família real tinha um cemitério embutido nos fundos do palácio para família real. Francamente, ser da realeza era um pesadelo em todas as nações.

Chegando ao quarto andar, parei no corredor e tentei adivinhar onde minha família estaria. Não estariam em seus respectivos quartos nesse horário, ainda era 17h23. Talvez no escritório ou na sala de chá. Das centenas de portas, eu não tinha paciência de procurar uma por uma, então me direcionei ao primeiro guarda que encontrei (era fácil encontrar um, já que as rondas eram de 5 em 5 minutos).

- Onde estão meus pais?

- Na sacada principal, alteza.

Blá. Eles nunca deixavam o "alteza".

Caminhei com passos largos pelo corredor. Estava de calças, então me preparei mentalmente para ouvir um sermão da minha mãe, que abominava calças em mulheres. Mas não havia nada que eu gostasse mais que um look básico: camisa branca, calças jeans pretas e botas baixas. Exatamente como estava agora. Virei o corredor e pude ver as portas de vidro que levavam a sacada principal, observei meus pais sentados a mesa com Joshua. As criadas se retiravam com as bandejas e os chefes saíam apressadamente atrás delas. Meus pais já haviam decidido o jantar de hoje, com certeza.

Na fileira perfeitamente organizada de criadas e chefs, dos quais eu nunca lembrava o nome por serem muitos, o último era um conhecido meu. O chef mais jovem da cozinha. Tudo o que sabia havia aprendido com a família, que há duas gerações trabalhavam no Palácio. Estava vestido com o uniforme dos chefs, os cabelos pretos estavam por debaixo do chapéu e o rosto emoldurava o mais lindo sorriso, e o mais belo par de olhos claros que já tinha visto. Quando ele notou minha presença, baixou o olhar e fez uma reverência, como todos os outros.

De certa forma, eu havia superado. Não parei no corredor, meus olhos não encheram de lágrimas, não vacilei nenhum passo, não dei meia volta... Não fiz nada do que já havia feito antes. Mas meu coração... ah, que coração teimoso! Tornou novamente a disparar. O que isso podia significar? Eu torcia para que fosse uma espécie de problema cardíaco e somente isso. Mas no fundo, sabia que infelizmente não era. Eram resquícios de sentimentos. E ao contrário dos problemas cardíacos, para isso não havia tratamento que resolvesse. Disfarçadamente respirei fundo.

Simplesmente passei por eles.

- Olá, querida. - Minha mãe, Scarlet, sorriu. - Calças?

Não falei?

- Sente-se conosco. - Meu pai, Nicolas, me serviu uma xícara de café enquanto Joshua se levantava para puxar a cadeira para mim. - Açúcar?

- Não, obrigado. - Fiz um aceno com a cabeça. Nada de chá para mim. Só café. Forte e sem açúcar. - Sobre o que falavam?

A princesaOnde histórias criam vida. Descubra agora