Capítulo 7

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Passei o dia inteiro com um sorriso no rosto. Felizmente, como o castelo estava eufórico com vinda da Seleção, eu estava temporariamente dispensada dos meus deveres reais. Além disso, ninguém estava ligando muito para mim. Eu era como um fantasma. Na noite passada meus pais mal me olharam durante o jantar: Joshua era o centro das atenções. E para mim isso era ótimo.

Durante a tarde desci até o ateliê real, em busca de alguém vestido que estivesse pronto e me deixasse linda para noite. Lá acabei me deparando com Catarina, que parecia arrasada — os olhos estavam inchados e ela mal levantava a cabeça para olhar por onde andava. Claro, eu não estava feliz por ela estar triste, mas não posso mentir e dizer que minha esperança havia aumentado: talvez Thomas tivesse terminado com ela. Saí do ateliê o quanto antes, mais anciosa ainda.

Às oito horas eu já estava pronta. Chamei uma criada para fazer um penteado em mim e me maquiar. Acho que nunca me senti tão linda em toda minha vida! Mas ter que ficar mais duas horas encarando o relógio quase acabou comigo. Eu não parava quieta no quarto e o tempo simplesmente parecia não passar! Quase gritei de alegria quando o relógio marcou 22h20. Dei uma última olhada no espelho e saí, quase saltitando, para o jardim. Os guardas me conheciam muito bem, é sabiam que eu gostava de caminhar pelo jardim: fosse de dia, noite e até madrugada. Por isso, ninguém me parou e nem me perguntou nada.

O ponto onde Thomas havia marcado não era tão vigiado (durante nosso tempo juntos aprendemos os pontos certos de nós encontrar) e a troca da guarda Real já estava para acontecer, então ninguém nos acharia por ali. Pelo menos por um tempo.

Quando cheguei, ele já estava lá. Passei o dia pensando o que ele gostaria de falar comigo, e cheguei a conclusão de que certamente iria pedir para voltarmos. Mesmo depois de tudo, eu o amava com todas as minhas forças... nunca poderia rejeitá-lo. Mais perto dele, vi o quanto ele era perfeito: a pele sem marca nenhuma, o cabelo bagunçado de forma charmosa, o perfume levemente amadeirado... tudo nele era perfeito. Nem sei como consegui ficar longe dele por tanto tempo.

— Olá! — Eu disse ao me aproximar. Queria beijá-lo e abraça-lo, cumprimentá-lo do jeito que fazíamos antes.

— Olá, Maine. — Meu coração derreteu. "Maine" e não alteza.

— Tudo bem? — Perguntei, meramente por não saber o que dizer.

Ele estava encostado na parede de braços cruzados. A luz da lua era o que iluminava seu belo rosto. Thomas virou a cabeça para o lado e sorriu.

— Eu vou embora do Palácio, amanhã.

O quê? Ele não tinha me chamado para...

— Queria esclarecer as coisas com você. Antes de ir.

— Ir para onde? — Nem sei se minha voz saiu direito. Nem sentindo minhas pernas eu estava.

— Um restaurante de uma certa província ofereceu trabalho para minha família. É meio que uma filial de outros restaurantes. Nós vamos cuidar de um lugar só nosso... É um restaurante 5 estrelas. Quem diria que trabalhar no Palácio me abriria uma porta dessas — ele riu.

— Que província?

— Não vou te contar. É capaz de você dar um jeito e me achar. Eu só queria me despedir.

— Mas e... nós?

— Não tem nós, Maine.

Mas...

— Escuta. Essa Seleção do Joshua me mostrou uma coisa. No fundo eu ainda tinha esperanças de que daríamos um jeito e acabaríamos juntos. Bem no fundo, eu realmente achava isso. Mas, com seu irmão se casando, seus pais logo vão arrumar um casamento para você e... Eu não aguentar ver você com outra pessoa. Imagina ter que cozinhar para o casamento da menina que eu amo? Não, eu não posso.

Ficamos muito meses juntos, mas nunca dissemos "eu te amo" um para o outro. Era primeira vez que ele dizia isso em voz alta. Mas... porque havia demorado tanto?

— Eu preciso te pedir desculpas. No passado, eu não sabia o que fazer. Sabia que não iríamos acabar juntos, de qualquer jeito e achei que quanto mais tempo ficássemos juntos, mais difícil seria nos separar depois. Mas... Não sabe quantas vezes escrevi bilhetes e cartas para você. Quantas vezes fui ao seu quarto durante a madrugada e nunca tive coragem de bater na porta. As vezes três vezes na noite. — Ele riu. — Queria que você me esquecesse. Ou queria ter nascido príncipe de algum país. Queria que pudéssemos ficar juntos.

Ele tirou algo do bolso e me entregou. Eram vários bilhetes e algumas cartas... Que ele nunca me enviou. E agora finalmente estava me entregando.

Mas... não iríamos ficar juntos? Eu nunca mais receberia mais bilhetes daqueles? Eram os últimos?

— A Catarina... sempre gostou de mim. Achei que se ficasse com ela, você me esqueceria mais rápido ou sei lá. Acabei magoando ela também... Eu sou um monstro.

— Sabia que eu poderia acabar com você?

Nós dois sorrimos.

— Você é boa demais para "acabar" com alguém.

Nem tinha percebido que as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Só notei quando instintivamente levantei a mão para limpá-las. Dei uns passos à frente e o abracei com toda minha força, como se isso pudesse resolver tudo.

— Fica comigo, por favor.

— Maine...

— Eu abro mão da coroa. Eu fujo com você. Isso, me leva com você... Não me deixe. Eu preciso de você. — Ele também me abraçava com força. — Não vá, por favor.

— Desculpa. Não posso. Eu... me promete uma coisa?

— O quê?

— Me promete que vai ser feliz?

— Não pode me pedir isso. Se você for embora... como vou ser feliz?

— Eu tenho que ir. Antes que você me faça mudar de ideia. — Ele tentou se afastar. — Maine...

— Não!

— Olha para mim.

Olhei. Ele também estava chorando. E do nada, me beijou. Como senti falta disso! Falta do que toque, do calor que subia por meu corpo, por suas mãos acariciando meu cabelo e... Eu nunca mais sentiria isso outra vez. Isso era uma despedida? Não, não dava acreditar.

— Eu amo você, Maine Orlean!

— Eu amo você, Thomas McCartney!

E sem demorar mais nem um segundo ele foi embora. Finalmente entendi o sentido da expressão "perder o chão". Encostei as costas na parede e lentamente me sentei no chão, abraçando meu corpo. Sempre havia pensado que quando encontrasse o amor, viveria para sempre feliz.

Nunca imaginei que o amor partiria meu coração dessa forma.

A princesaOnde histórias criam vida. Descubra agora