Capitulo 4

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- Senhorita? - Uma voz suave me fez abrir os olhos. Levei alguns segundos para me sentar e adaptar os olhos as luzes que vinham pela janela. Olhei para o relógio em minha parede: 07h00. Eu não pretendia acordar cedo em pleno domingo, mas... Olhei para criada ao lado da minha cama, segurando uma bandeja e sorrindo. O nome dela era... Marisa. Acho. Eu gostava dela. Era muito simpática e feliz.

Eu só não entendia porque ela estava lá. Eu não havia pedido para servir nada em meu quarto e nem para me acordar cedo. Eu pretendia tomar café com minha família, não sozinha no quarto. Mas não disse nada. Pelo menos não de cara.

- Thomas nos avisou que a senhorita gostaria de tomar café no quarto hoje.- Ela continuou sorrindo.

Ao ouvir o nome "Thomas" meu corpo inteiro despertou.

- Deixe a bandeja na mesa, por gentileza. - Sorri. Um sorriso aberto até demais. - E pode se retirar. Muito obrigado.

Ela fez uma reverência, colocou a bandeja ao lado da mesa, como eu pedi, e saiu sem falar mais nada. Quando a porta fechou me levantei na velocidade da luz, corri para trancar a porta. Me sentei a mesa e observei meu café da manhã. Meu café, sem açúcar, minhas frutas perfeitamente cortadas com granola, duas torradas com geleia de morango, e uma fatia de bolo indiano... Ele finalmente havia conseguido fazê-lo corretamente. Tudo em pratinhos decorados com flores. Incrível como ele sabia até minhas louças preferidas! Levantei o prato principal (das frutas) e peguei o pequeno envelope debaixo dele. Já fazia um ano que não recebia um desse... Era assim que Thomas e eu marcávamos nossos encontros. Será que ele gostaria de me ver?

"Me encontre no Jardim, debaixo da sacada do escritório, às 22:30. É importante!"

A letra dele era linda. Ele era lindo. E mesmo depois de tudo... Eu ainda o amava. Mesmo depois das palavras. Mesmo depois de... tudo. Levei tempo para superar, mas no fundo eu sabia que nunca o havia superado mesmo. O sentimento não havia morrido, só estava dormindo e agora despertava vez ou outra.

Não conseguia parar de sorrir. Levantei e corri até meu closet, me colocando em meio aos meus vestidos e procurando por algo especial. Encontrei minha pequena caixa atrás dos meus vestidos de festa, e a abri para depositar mais um bilhete a ela. Havia centenas deles. Nunca tive coragem de jogá-los fora... embora soubesse que era sensato fazer isso. Não sei quantas vezes já os li. Talvez milhares de vezes.

Guardei a caixinha de volta no lugar e saí dançando pelo meu closet. Já fazia muito tempo que não me sentia feliz assim.

[...]

"Minha história com Thomas começou quando eu tinha 14 anos.

A vida de princesa era muito corrida e havia muita pressão envolvida. Acho que na adolescência as coisas são complicadas para todos e para mim, que nunca tinha descanso, era ainda pior. Aos 14, o psicólogo que meus pais haviam contratado disseram que eu tinha ansiedade e com isso meus pais investiram pesado para que eu melhorasse de qualquer forma. Eu tomava remédios aos montes, tinha insônia e estava comendo demais. Foram meses difíceis, mas tudo melhorou de repente. Talvez não tão de repente. Minha melhora tinha nome e sobrenome: Thomas McCartney.

Me lembro de acordar na madrugada com o coração acelerado e com uma vontade imensa de chorar. Queria um chá para me acalmar e decidi ir até a cozinha ao invés de chamar uma criada. Coloquei minhas pantufas, vesti um roupão e saí do quarto. Pedi a um guarda para me acompanhar até a entrada da cozinha e esperava que houvesse ao menos uma pessoa para me ajudar lá. Quando entrei, vi apenas um garoto em um canto, com livro na mão e um semblante pensativo. Me aproximei dele e toquei seu ombro, para sua surpresa.

- Princesa? Alteza... oi? Quer sim, eu posso... ajudar... Eu... - Ficou tão nervoso que derrubou o livro. Me abaixei para pegar ao mesmo tempo que ele, e nossas cabeças se chocaram. - Meu Deus... perdão... Eu sou um idiota.

A princesaOnde histórias criam vida. Descubra agora