Capitulo 2

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Foi um dia cansativo.

Sinceramente, para alguém que não iria ser rainha, eu tinha compromissos demais. Aulas demais. Entrevistas demais. Eu era a garota mais vista, notada, a mais linda, a mais copiada e invejada de Orlean. E essas não eram palavras minhas. Eram da imprensa. Eu era a garota que todas se inspiravam, que todas desejavam ser. Você pode chamar de sorte, pois eu chamo de tremendo infortúnio. Uma grande infelicidade. Se eu fosse o oposto de perfeita, seria criticada por meses e meu mau comportamento seria visto como fim do mundo.

Certa vez eu estava no meio de uma gravação do jornal de Orlean, e no intervalo comecei a conversar com Joshua. Ele me contou uma piada que me fez rir como doida e bem hora que o jornal voltou ao ar. O apresentador me perguntou a graça, pois a câmara havia focado bem em mim na hora e em rede nacional me vi obrigada a contar uma piada totalmente sem graça. Resultado? Meus pais me deram uma bronca tão grande que não sorriram para mim por duas semanas depois do acontecido. E até fizeram uma matéria sobre minha gafe. Nunca me esqueci disso.

No meu quarto, jogada na cama, eu tentava ler um livro. Não gostava de ter criadas comigo. Posso muito bem me virar sozinha. Não preciso de alguém para me vestir ou pentear. Além do mais, não gosto que ninguém mexa nas minhas coisas. Meu quarto era enorme, tinha um closet gigante e um piano em um dos cantos. A maioria dos móveis eram brancos com a acabamentos dourados e o papel de parede era lilás. Havia uma estante com muitos livros. Eu gostava muito de ler. Especialmente, sobre o mundo lá fora. Gostava de ler histórias de meninas normais... e pensar como seria se eu não fosse princesa.

Eu gostaria de ser médica. Mas não qualquer médica. Uma médica voluntária. Nosso país oferecia uma assistência especial na área médica, onde gratuitamente ofereciamos consultas, exames e cirurgias. Enquanto todos os países cobravam pelos serviços, nós oferecíamos tudo de graça, desde que a pessoa provasse uma baixa renda (fosse abaixo da casta 4) e fosse morador de Orlean. O México caminhava nesse mesmo projeto, mas nós ainda éramos o único país com essa facilidade. Eu amava medicina, e a ideia de que nosso corpo escondia muitos mistérios que podíamos descobrir. Imagina poder trabalhar ajudando quem não podia... ajudando-os a recuperar a saúde e a vitalidade. Fazendo o bem dessa forma tão linda.

Também havia a possibilidade de ser médica em um campo de batalha. Um médico que saía para com as tropas de um país para auxiliar os feridos na guerra. Apesar de ser arriscado, também era uma causa nobre.

Eu amava a ideia. Mas só podia ler a respeito. Meus pais jamais permitiriam algo assim.

Fechei meu livro e rolei na cama. Eu realmente trocaria todo conforto do Palácio por uma vida que talvez nem fosse tão fácil assim? Sim, trocaria. E nem precisaria pensar muito. A vida no Palácio era muito boa, mas eu conseguia ver mais contras do que prós. Havia conforto, e muitas regalias com roupas, comidas e jóias... Mas eu tinha muitos compromissos, tantos que as vezes mal podia aproveitar o conforto. Tinha que ficar "travada" na maioria das vezes, diante de todos para passar a imagem de perfeição, e mal podia ser eu mesma. Tinha muitas roupas e acessórios, mas na maioria das vezes era a conselheira quem ditava como me vestiria, de acordo com a ocasião. Não podia sair desacompanhada: se eu desse um passo fora do Palácio, ao menos 15 guardas iam comigo. O que me fazia parecer uma criminosa, e não uma princesa. Nem com quem me casaria era decisão minha!

Há muito tempo desisti de pedir certas coisas para minha mãe. Como investir na carreira de médica. Meu amor por essa profissão começou através da minha tia. Elizabeth Orlean. Meu tio, Erick, era chefe do exército real e a conheceu em meio ao campo de combate em uma guerra. Ela ajudava os feridos na guerra, e após o término da guerra, ele a procurou por meses até encontrá-la em sua província. Eles se casaram, tiveram o Logan e ela voltou para o campo de batalha, ajudar no que podia. Meu tio desaprovava isso, mas nada a segurava.

A princesaOnde histórias criam vida. Descubra agora