XIII

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Ísis sorriu ao se lembrar de uma doce passagem da infância, flores na mesa e uma torta de morangos para comemorar seu aniversário de dez anos.
Naquela época ela não sabia o quanto sofreria pouco tempo depois, sendo enviada para um colégio interno longe de sua família, sem o carinho da mãe e os cuidados de Rebeca, o pai nunca fora carinhoso pelo contrário sempre frio e autoritário.

Olhou a sua volta e estava trancada dentro de um quarto escuro, sentiu repulsa por ter se casado com Dimitri, sentia em seu interior que mesmo estando ali por perto, não seria capaz de proteger Melina da crueldade do pai.
Mas, por outro lado talvez se ele se casasse com outra seria ainda pior, ao menos ela iria dar amor a pequena sobrinha, outra mulher poderia rejeita-la e tornar tudo ainda mais difícil.
Ísis se sentia derrotada, mal se casará e já havia sido promovida a prisioneira do marido.

Batidas a porta a trouxeram de volta de seus pensamentos mais profundos.

Entre ela gritou  sem ao menos  levantar de onde estava,na verdade ela já sabia que poderia ser Mércia  levando uma de suas refeições afinal quem mais poderia estar com a Prisioneira do temido Capo da Máfia?

Mércia adentrou o quarto comprovando que sua intuição estava correta, carregava uma bandeja com a refeição do dia.
Ísis  ainda não fazia ideia de a que horas o marido iria retornar para casa trazendo junto com ele sua liberdade provisória.

- Mércia como está Melina? Estou a horas sem a ver e posso dizer que já estou com saudades - ela disse olhando para o nada

- Não se preocupe querida, a menina está sendo muito bem cuidada por Luci,  com todo afeto e carinho que ela merece. - Mércia sorriu

- sabe me dizer a que horas meu marido chega e assina minha carta de alforria ? - ela mexeu na própria comida

- Não demora a chegar acabei de falar com ele já estava caminho de casa. - Mércia a olhou com certa insistência

- Quer me dizer algo ?

-  eu gostaria de fazer um pedido, não me leve a mal, mas tente ser um pouco mais cordial e carinhosa com seu marido.

- Mércia meu marido me deixa trancada dentro de um quarto e você quer que eu o receba com carinho? - ela revirou os olhos

- Sei que não concorda com a vida que ele leva e com o tipo de trabalho que ele tem, mas tudo isto é muito difícil para Dimitri,  assim como você ele não teve escolhas, não acha que ele já foi maltratado e ferido o suficiente ?

- Eu acho que ele tomou gosto por ferir e maltratar, a ponto de não conseguir viver de outra forma. Este pouco tempo em que estou aqui percebi que ele nunca foi se quer ver a filha, como alguém é capaz de não amar o sangue do seu sangue? Nem mesmo meu pai era tão frio. Você quer que ele se apegue a mim Mércia, mas isto nunca irá acontecer, é apenas uma doce ilusão de sua cabeça. - ela disse levando um pouco de salada a boca

Mércia comprovou que não adiantaria em nada tentar mudar a cabeça de Ísis, ela era demasiadamente teimosa.

- Ísis toda vez que tentar apagar fogo com ainda mais fogo haverá um incêndio. Cuidado para não queimar a si mesma e os inocentes. - Foram suas últimas palavras antes de deixar o quarto para cuidar de seus afazeres.

Ísis ficou sozinha com seus pensamentos, Dimitri havia encontrado na escuridão uma maneira de não precisar enfrentar o que lhe fazia mal, o homem Durão não passava de uma carcaça para esconder o menino amedrontado e traumatizado.

Ela previsava o retirar de dentro daquela carcaça, encontrar seu ponto fraco.
Talvez Mércia estivesse certa, Dimitri estava sempre em posição de defesa a espera de um ataque, ele não sabia lidar com outras sensações como a de carinho e acolhimento.
E se ela fosse uma mulher carinhosa ?

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