Após o término do segundo canto, Dahat largou a pena, saiu da estalagem e desceu às ruas de Menan, procurando algum lugar para comer. Não suportava mais o pão duro e o guisado ralo do Lar dos Caravaneiros.
Durante o canto, da janela do quarto, ele esteve observando como todo o povo, e também os estrangeiros, respeitavam as cantorias.
O salmo, cantado a partir do grande templo das memórias, que ficava bem no centro da cidade, alcançava cada recanto com facilidade. As grandes e altas sacadas, em forma de concha, atingiam todas as direções, já que o templo era circular e cada uma das sacadas era repleta dos sacerdotes, algumas delas somente com músicos e seus instrumentos e as outras repletas apenas de sacerdotes cantores.
O silêncio e a reverência reinavam em todos os lugares durante os cânticos, pois os guardas, portando as armas comuns de combate, como espadas e lanças, e também as incomuns armas de flechas, mantinham a ordem em todos os lugares.
Aquela incomum arma, chamada pelos menantes de arco cruzado, era composta de um arco comum atravessando uma base rígida. Esta base possuía um dispositivo de disparo que, após acionado, disparava a flecha aos ventos e ai daquele que por ela fosse atingido. Realmente uma potente e precisa arma não encontrada em outros lugares.
Como Dahat já havia observado, as torres de guarda possuíam a mesma arma, porém em versão muito maior. E, para erguer e armar uma única daquelas grandes flechas, era necessário o esforço de vários soldados.
Agora, com o fim do segundo canto, crianças andavam pelas ruas levando, enrolados em tecidos coloridos, tigelas e potes cheios de comida para seus pais onde quer que trabalhassem, geralmente no mercado e nas regiões vizinhas e, também, nas ruas dos artífices e artesãos.
O cheiro de comida quente, recém preparada, se espalhava pelo ar, sobrepujando o comum fedor dos dejetos das montarias das muitas caravanas.
Dahat encontrou uma taverna com certo ar mais nobre e entrou, certo de encontrar uma comida bem melhor que a da pobre estalagem onde estava hospedado.
Foi atendido pelo taverneiro e logo sua refeição seria entregue. Um guisado de carneiro e uma taça de hidromel por dois pesos de cobre ou dez pesos de chumbo. Praticamente o mesmo preço que ele pagava por cada dia, com duas refeições incluídas, no Lar do Caravaneiros. E como eram horríveis aquelas duas refeições!
A vida é assim mesmo. Boas coisas têm seu preço e o valor que ele receberia pelo Coração Vermelho seria contado em pesos de ouro e prata e não em pesos de cobre e chumbo.
Enquanto comia e bebia, pensava nas tarefas que teria de cumprir antes de poder aliviar do Sumo Salmista o peso da preciosa e famosa pedra, o Coração Vermelho de Ophidir.
Menan era uma cidade próspera. O behal, ou senhor, de Menan e todo o domínio ghurita fazia bons negócios, principalmente alugando os serviços dos sacerdotes salmistas para os behalis das grandes cidades e nações vizinhas e distantes.
Segundo ele havia se informado, havia linhagens de famílias menantes que possuíam uma habilidade não encontrada em outras raças: pessoas que jamais esqueciam de qualquer coisa! Que habilidade incrível e tão surpreendente, ao seu ver, quanto as Mães Superiores de Motsan, que tinham filhas sem a participação masculina.
Pessoas especiais tinham alto valor. Alguns eram especiais por serem diferentes, como acontecia com os gigantes guerreiros nephalitas, os guerreiros mais poderosos da terra; os homens fortes das tribos masthates, capazes de erguer uma carroça carregada sobre os ombros, e os sacerdotes salmistas menantes, chamados de guardiões das memórias em outros domínios.
Outras pessoas eram especiais por suas habilidades. Assim eram os bestiários ghabitas que domavam thergs, aqueles imensos felinos de dentes longos, e os armeiros e ferreiros anões de Hadnor, artífices das mais impressionantes armas. Ele mesmo e seu amigo Ghenab eram, também, especiais de certo modo e bem remunerados por suas habilidades
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Os Quatro Cantos da Terra
FantasyA nova missão de Dahat e Ghenab é roubar o Coração Vermelho de dentro do Templo da próspera cidade menante. O jovem ladino Dahat terá de preparar o maior de seus planos. O eufórico Ghenab conseguirá seguir o plano à risca? Enquanto a aventura da dup...