O Plano em Ação

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Dahat ouviu o quarto salmo com atenção e ficou aguardando.

Estava parado, com outros moradores e viajantes, na saída do pátio sul do templo das vozes, por onde passavam os sacerdotes músicos com seus instrumentos.

A primeira parte do plano estava em andamento e Dahat queria garantir que não haveria problemas com Ghenab. Enquanto esperava, recapitulou, mentalmente o que havia acontecido até o momento...

O plano fora elaborado com base na rotina diária que envolvia o templo, os guardas e as duas vivendas sacerdotais. Sim, os sacerdotes, em geral, não moravam no templo. Pelo que ele havia entendido, apenas uns poucos sacerdotes idosos, chamados de salmistas, moravam no templo. Estes salmistas, que usavam túnicas negras, eram todos daquelas linhagens especiais que jamais esqueciam de qualquer coisa e, entre eles, um era escolhido para ser o sumo-salmista. Os salmistas, pelo que compreendera de suas pesquisas entre o povo menante, eram os compositores dos salmos e os ensinavam aos sacerdotes cantores e sacerdotes músicos. O sumo-salmista, descobrira, era quase tão importante quanto o próprio Ghur-Behal, senhor do domínio ghurita.

Os sacerdotes cantores moravam na vivenda dos cantores, ao norte do templo, distante do templo umas seis quadras; mais ou menos a metade da distância entre o templo e o portão norte de saída da cidade. Antes de cada cantoria, um batalhão de guardas, vinda dos quartéis junto aos muros da cidade, ia até a vivenda e aguardavam a saída dos sacerdotes cantores, usando as grossas túnicas de cor vermelha, num tom que lembrava o barro. Estes guardas, então, escoltavam os músicos até o templo, passando pelo portão do pátio norte até as grandes portas de madeira do templo. O batalhão, então, saía do pátio e se espalhava pelas ruas próximas ao templo. Quando o salmo acabava, os guardas se colocavam a postos no portão, sem entrar no pátio, e aguardavam a chegada dos cantores para escoltá-los de volta à vivenda.

Do lado em que Dahat agora estava, no portão do pátio sul, acontecia a mesma coisa, mas com os sacerdotes músicos e suas túnicas azuis, num tom esmaecido e acinzentado.

Ele viu as portas de madeira se abrirem e a longa procissão de músicos sair por elas. Vestidos com suas túnicas azuis que cobriam todo o corpo, incluindo a cabeça, eles caminhavam, cada qual com um instrumento musical à frente do corpo.

Nesse momento, o combinado do plano era que Ghenab, escondido nos arbustos do pátio, se juntaria aos sacerdotes, usando a túnica azul e com a flauta à sua frente. Ele deveria ser, portanto, um dos últimos da procissão.

Estava encostado na parede de uma bela casa na esquina e acompanhou com o olhar a chegada dos músicos até o portão do pátio, onde estavam os guardas, de cada lado, aguardando para a escolta até a vivenda dos músicos.

A procissão de músicos e guardas caminhava pela rua e Dahat acompanhava, disfarçadamente, ao lado.

Eram muitos músicos, talvez duas ou três centenas, e vários deles vinham de nações distantes. A variedade de estaturas demonstrava isso, pois alguns eram tão pequenos que só poderiam ser anões e outros eram tão altos que deviam ser meio-gigantes ou gigantes mesmo. Satisfeito, e com um leve sorriso nos lábios, reconheceu a flauta à frente de um dos últimos sacerdotes da longa procissão.

Em pouco tempo eles chegaram à vivenda dos músicos e Dahat se recostou numa esquina pouco iluminada. Oculto pelas sombras ficou observando até que todos os sacerdotes músicos entrassem e o pelotão de guardas se dispersasse. Nenhum incidente, o plano seguia sem complicações.

Contemplou a grande morada por alguns instantes. A vivenda era um grande edifício de três pavimentos, quase sem janelas, sendo que as poucas que haviam permaneciam quase sempre fechadas.

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