Os Dizeres da Alma

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Abro os olhos durante a noite, não te vejo, e está tudo bem.

Contemplo o nascer do sol com o cantar dos pássaros no quintal, me olho no espelho do banheiro, sussurro e nego o bom dia, amarro o cabelo, esfrego o rosto e cuspo sangue na pia. Lavo o suor da madrugada que escorreu no rosto e encaro o último brilho do meu olhar cansado preto fosco. Deixo a água do café no fogo, o quente amargo ainda é doce demais pro meu gosto. No quintal sinto o fervor na pele, a dor nas juntas e o vento soprando, é o último resquício das provas que sou humano. Ser idiota, irracional, mais um entre bilhões que acha que é especial, mas não sou? Ou em parte... Contemplar os próprios defeitos é sinônimo de arte. O dia passa, a cabeça dói, a enxaqueca não me mata, não é sinusite, é a saudade que corrói. A noite chega mais rápida que teu sorriso quando eu te contava do dia. Me chamava de idiota inconsequente, mas mesmo assim sorria. Lamuriar a beleza da lua é o mais perto que eu tenho do prazer, passar a madrugada contando as estrelas é o melhor que eu tenho a fazer. Me deito e fecho os olhos, o corpo pesa, os músculos doem e sinto o estalar dos ossos. Abro os olhos durante a noite, não te vejo, e está tudo bem. Te vejo nos sonhos acordado, nas músicas e todo resto que venho recordado. Me sinto bem, bem melhor que ontem, e nem tanto quanto o amanhã, mas rotina corriqueira, me mostra vida flor de lis, pr'eu mero Djavan.

De todas as palavras que ainda direi em teu nomeOnde histórias criam vida. Descubra agora