Prólogo

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A xícara de chá agora já fria ainda estava pousada sobre a mesinha, os biscoitos amanteigados antes seus preferidos permaneciam intocados. Suas mãos permaneciam imóveis em seu colo e olhos fitavam o que só ela conseguia enxergar.
O sol já estava alto o suficiente para ser meio dia; seus pés já sentiam o calor os queimando de leve. Algumas horas atrás ela tinha acordado, tomado banho, vestido seu único vestido que coincidiu em ser preto, caminhou até o carro em silêncio e assim permaneceu. Sua avó tinha lhe pedido para recepcionar as pessoas que chegavam, mas tudo que ela conseguia fazer era olhar fixamente para o chão, às vezes elas sentia mãos alisando suas costas ou apertando seu ombro, mas ela não queria conforto, odiava como os outros achavam que isso ajudaria.
Ela ouviu passos, sentiu alguém sentar ao seu lado, não se moveu. Um suspiro, e seus olhos ainda estavam no além. Era o Augustus, seu tio, irmão gêmeo de sua mãe, o melhor amigo dela. Kathy sabia que ele estava sofrendo, mas naquele dia ela precisava ser egoísta, não conseguia confortar ninguém quando tudo dentro dela estava despedaçado. O buraco em seu peito parecia arder em fogo, seus pulmões não pareciam estar funcionando bem. Não parecia certo estar viva, não era certo estar respirando, quando seu mundo agora estava enterrado na areia, sendo comida por vermes. Ela sempre detestou o escuro, sempre odiou estar sozinha e agora esse era seu destino.
Kathy não percebeu quando seu tio a puxou deitando a cabeça em seu colo.
– você já pode chorar, Margarida – sussurrou e foi um suficiente para as lágrimas finalmente descerem quentes e urgentes. Os pulmões que já ardiam sem ar pareciam explodir com os soluços estridentes. Seu corpo tremia de frio e doía sentindo o vazio.
Kathy não se sentia mais inteira e não só um pedaço que se fora, mas como se seu corpo por dentro fosse oco e agora só restasse uma carcaça de barro que infelizmente respirava.



















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