Villanelle teve bastante tempo antes de chegar em Cygnus para estudar cada detalhe das orientações escritas por Konstantin – como se fosse realmente fazer tudo como ele mandava – antes de queimá-las por precaução. No dia estabelecido, apresentou-se como voluntária para lutar contra o império Ocidental, todo aquele teatro de devoção à coroa. Recebeu alguns dias de treinamento de combate, e sentiu-se um pouco ridícula por precisar fingir que de nada sabia sobre luta corpo a corpo, espadas, escudos e flechas.
Estava empolgada pela organização lhe confiar tamanha honra, iria divertir-se muito, sem dúvida. Em alguns momentos angustiava-se quando a chama da lembrança da última vez em que esteve num castelo se acendia, mas não demorava para empurrar essa memória para o fundo do baú que era sua mente, mal pensava nisso, dizia para si própria.
Em todo o processo sentiu-se confiante, mas, enquanto marchava em direção ao campo de batalha, ritmada pelos tambores, sentia-se frágil. Ela era uma predadora, dissimulada, ardilosa, manipuladora e, às vezes, sedutora com sua vítima. Sempre no controle, e era assim que gostava. Seu par na dança da morte era sua ingênua – ou até combativa – presa. Poderiam tentar o quanto quisessem, mas era Oksana quem sabia como tudo terminaria. Era Oksana que detinha todas as decisões.
Mas não naquele dia. Ela não podia mais ser Oksana, não por enquanto.
Caminhando em fileiras, coberta de malha de aço, protegida por uma armadura precária e um escudo de madeira, os quais eram fornecidos para garotas em seu posto, sentia-se só mais uma. Um lembrete que era ninguém, sempre fora.
Seus pares pareciam temerosos e animados: para muitas daquelas jovens provavelmente seria o momento mais empolgante de suas patéticas vidas. Se sobrevivessem, é claro.
Estava perdida nesses pensamentos quando um cavalo negro passou trotando ao lado de seu ombro. A amazona nele montada com uma perna de cada lado – algo ousado para uma mulher – usava uma espécie de calça sob um vestido azul escuro, no tronco por cima do tecido a armadura cintilava no mesmo tom, assim como o elmo em seu colo e o escudo que segurava. A parte externa das mangas era bordada com metais que pareciam escamas, presa à cintura a bainha com detalhes dourados de uma espada com a empunhadura ornamentada por um cisne em relevo. Por um segundo, Villanelle teve o vislumbre de ser alguém que já amara – ou o que conhecia como amor –, talvez pelos compridos cachos negros cobrindo as costas, presos para trás por tranças na lateral da cabeça. A semelhança era inegável, mas sem dúvida se tratava da princesa regente. Ela passava pelas fileiras conversando e motivando seus soldados.
Villanelle achou a atitude um pouco ridícula. “Sim, vamos incentivá-las, avante para morte”, pensou. Mas quando a princesa se virou, perdeu a linha de pensamento, e por longos segundos tudo o que fez foi comtemplar o rosto de Eve. Seu transe foi interrompido pela própria amazona dirigindo-lhe a palavra.
- E você minha jovem, qual o seu nome? – O sorriso era encantador.
- Villanelle Lilith Lancaster. Das terras entre lagos do sul, minha princesa. – Villanelle a via de baixo, o que aumentava a grandeza daquela figura. Quase esquecera-se de fazer o sotaque condizente, mas isso era uma das habilidades das quais mais se orgulhava. Claro, quando se quer assassinos competentes não se pode treiná-los somente na arte de matar, conhecimento é uma das armas mais usadas.
- E está servindo ao reino de livre e espontânea vontade, eu espero.
- Meus pais e irmãos morreram na invasão, quero vingá-los e servir à senhora, sinto que é meu destino. – Achava-se uma atriz excepcional, o que era verdade.
- Agradeço de coração o seu alistamento. Saiba que se morrer hoje irá para o mesmo paraíso de seus pais, mas espero tê-la conosco por muito mais tempo, Villanelle. – Ofereceu um último sorriso e seguiu trotando.
Não poderia negar que estava surpresa de ter a presença da soberana em pessoa num campo de batalha, ainda mais tratando-se de uma dama, realmente estava gostando desse lugar. Só não tinha certeza de que as palavras motivacionais recebidas tinham sido realmente motivadoras, a princesa tinha um jeito peculiar de se expressar.
No topo de uma colina o tambor emudeceu-se, as tropas pararam, e naquele silêncio Villanelle contemplou a possibilidade de sair correndo, sentia-se enjoada, mas não se deixaria acovardar. Ela era uma assassina aprimorada por anos, não poderia ser tão diferente assim.
Era possível ver as tropas adversárias como miniaturas no vale atravessando a larga ponte de pedra. Quando estavam quase em terra firme novamente, Eve deu o comando, os tambores tocaram, e seus súditos correram em direção ao inimigo. Aquele era um tipo de adrenalina que Villanelle jamais havia sentido, pelo menos não em sua vida adulta, estava ciente do risco de morte que corria.
Dezenas de mulheres a sua frente gritavam e brandiam suas espadas e, quando os dois exércitos se encontraram, o batuque foi abafado pelo som metálico das lâminas se chocando e dos urros de dor. A confusão sensorial incomodava a assassina furtiva.
A sua espada decepou um braço e depois a cabeça a qual ele pertencia. Seu coração parecia querer fugir pela boca, sabia que estava hiperventilando. Esquivou-se de um golpe que viria por trás, no movimento rotatório fez sua espada atingir entre o pescoço e o ombro de quem tentou a atacar, o corpo dele caiu ainda preso à espada dela. Ela colocou seu pé no peito dele – que ainda estava vivo – para puxá-la de volta, nisso foi atingida por um jato de sangue arterial no rosto enquanto o homem no chão inutilmente tentava conter o sangramento, antes de seus braços amolecerem e a vida fugir de seus olhos. Villanelle gostaria de ter visto isso, mas estava ocupada com o sangue que lhe embaçara a visão, limpou-se como pode o mais rápido possível, não poderia baixar a guarda. Alguns golpes a pegaram de raspão rendendo-lhe arranhões não maiores do que as garras de um gato seriam capazes de fazer, por sorte ou mérito nada ultrapassou a malha de ferro.
Era necessário estar em constante movimento, homens vinham de todas as direções e acabavam entalhados por sua espada. Os ombros e braços de Villanelle ardiam em espasmos, mas não era possível abaixá-los nem por um segundo. Acima de sua cabeça levas de flechas passavam zunindo ao cortar o vento, caiam sobre os adversários como uma chuva mortal de novo e de novo. A cavalaria da princesa começou a cercar o terreno e o exército inimigo que estava minguando foi condensado, facilitando a estratégia dela.
Via de relance Eve descendo sua linda espada derramando o sangue de alguns invasores, ou atropelando-os com seu cavalo. Quando era possível ver seu rosto, era perceptível que sua expressão ao matá-los era feroz e isso acendeu algo dentro da assassina profissional.
Já ensopada por sangue que não era seu sentiu-se eufórica, cada membro que cortava era uma vitória, até que viu à sua direita o cavalo da princesa ser golpeado, derrubando-a no chão. Ela caiu lutando, mas era o alvo mais visado, havia homens demais querendo a honra de levar a cabeça dela ao imperador.
Villanelle correu em sua direção e por alguns segundos lutaram como um par em perfeita sincronia, uma de costas para outra dando cobertura, mas eram adversários demais. Uma fecha vindo certeira para a cabeça de Eve foi parada pelo escudo já quebrado de Villanelle. Esta foi defendida de um corte na cintura pelo luxuoso escudo de metal azul da princesa.
Os reforços estavam chegando, Eve lutava com dois soldados ao mesmo tempo, e Villanelle garantia mais uma morte em sua lista incontável quando percebeu – tarde demais para defender – um golpe direcionado à Eve e por instinto colocou-se diante dela.
Sentiu a coxa queimar com o corte, mas não largou sua arma, com as mãos trêmulas cravou-a no peito de seu agressor. Suas calças estavam sendo encharcadas de seu sangue rapidamente, sentia as batidas do coração na abertura que agora tinha no membro inferior. A dor era tão forte que não conseguia concentrar-se em outra coisa, mas seguiu à frente de Eve defendendo-a como podia e sentindo um terrível frio. O mundo começou a girar e tudo foi escurecendo, a última coisa que viu foi o rosto desesperado da princesa que a segurava._______________________________________________________
Com todos acontecimentos no mundinho KE, vamos continuar postando... Para ter um aquece aos nossos corações.
Espero que gostem.
Este capítulo é meu fav ❤️
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Queen Eve
FanfictionUm misterioso contratante solicita os serviços de Oksana para matar o rei consorte de Cygnos. Sob o novo nome de Villanelle precisará esgueirar-se na trama da corte, só não contava com a conexão que desenvolverá com a nova rainha. Conseguirá cumprir...