Quando Pamela chegou para preparar o banho, Villanelle já estava vestida. Dormira quase nada. Quando notou que o céu ameaçava um alvorecer com tons mais claros, a ansiedade tirou-a da cama. A verdade é que enfrentou certa dificuldade para banhar-se e vestir-se sozinha, mas foi uma alegria descobrir que o palácio possuía encanamento de água aquecida em caldeiras. De longe, notava-se que a construção era suntuosa, entretanto vários dos castelos pelos quais passou não tinham tal luxo, ou qualquer encanamento, ainda mais se fossem tão antigos quanto este. Em sua banheira, reconfortada pela água morna, agradeceu silenciosamente a quem quer que fosse que o teria reformado. Seus braços estavam fracos, mantê-los erguidos para lavar o cabelo a exauriu. Tentando passar os botões de sua casaca por suas casas percebeu que tremia um pouco, era um modelo masculino com fechamento na frente e não deveria ser nenhum obstáculo.
Sabia no fundo que os médicos estavam certos, deveria recuperar-se mais alguns dias, ganhar peso e se fortalecer. As freiras tentaram pôr juízo em sua cabeça, debilitada não seria de grande valor na defesa da nova rainha e nem tinha passado pela cerimônia do juramento ainda, não havia recebido seu título de nobreza para poder relacionar-se tão intimamente com a soberana. Mas a assassina era intransigente e ótima atriz, sua interpretação da recuperação era digna de lhe render um papel de protagonismo em alguma ópera dos teatros mais famosos da capital, se soubesse cantar, é claro.
De qualquer forma quando a criada trouxe o desjejum, Villanelle já estava de saída. Pamela humildemente insistiu para que comesse, era difícil desejar comida frente a tamanha empolgação, já podia visualizar tudo tão brilhante e bonito. Entretanto aceitou o café da manhã que lhe foi oferecido, pensou que era o mais condizente com a personagem que estava tentando criar. Além disso, precisava engordar.
Jess, na noite anterior, avisou que viria buscá-la e a acompanharia até o quarto da princesa, mas Villanelle estava bastante adiantada e não queria esperar, já haviam lhe mostrado o caminho mesmo. Durante a manhã, com aquela luz alaranjada entrando pelas janelas que preenchiam toda a altura das paredes, os corredores pareciam ainda mais bonitos. Tocou as cortinas, passou os dedos pelas paredes. “É aqui que eu moro agora”, pensou sorrindo como uma criança encantada com o novo brinquedo. Estar em meio a tanto luxo era bom porque a afastava da miséria de sua infância, sua vida sempre foi uma eterna corrida para longe do seu passado.
Entrou na antessala do quarto protegida por guardas comuns do castelo. Não fizeram perguntas, o uniforme que estava usando lhe conferia livre passagem para qualquer canto e demonstrava a nobreza necessária para se aproximar da família real. Quando a reverenciaram, a assassina sentiu como se pudesse deixar Oksana e todas suas memórias tristes para trás, enterrá-las bem fundo para que nunca fossem achadas.
Em frente as enormes portas do quarto de Eve uma cavaleira da guarda real tentava se manter acordada.
- Acredito que esteja cansada.
Audrey – pelo que Jess havia falado –, quase adormecida em pé assustou-se, nem havia a percebido chegar; “grande proteção, muito alerta” Villanelle ironizou em seus pensamentos. A mais nova rainha não teve tempo hábil para montar uma guarda real maior, precisava de mulheres habilidosas e em quem poderia confiar mais que sua vida. A doença do rei e dos filhos foi inesperada, caíram como dominós fazendo da corte um caos que Eve precisava organizar enquanto vivia seu luto e governava. A duas cavalheiras que possuía revezavam-se como podiam.
- Tudo bem, não contarei a Jess sobre isso.
- É um prazer conhecê-la, Villanelle. Todos nos alegramos com sua recuperação. Seja bem-vinda. – Disse Audrey ainda corada pela vergonha de ser pega falhando com seu juramento.
- Agradeço pelas orações. – Tentou sorrir docemente. – Acho que posso te retribuir. Cheguei mais cedo, não vejo razão para que continue aqui, pode ir descansar melhor antes da coroação.
A guarda pareceu tentada, mas as ordens que recebera eram claras: proteger a porta até a troca de turnos que aconteceria pouco antes da coroação.
- Fico agradecida, mas acredito que não deva.
- Não seja tola, hoje é um grande dia, todas nós precisamos conduzir a rainha até a abadia e não poderá caminhar enquanto dorme, está claramente exausta. – Villanelle parou e inspirou, percebendo-se fugir da personagem. – Deixe-me ajudá-la. Seremos colegas por muito tempo, permita-me tentar ser sua amiga. – Tocou o ombro de Audrey, olhando em seus olhos com o sorriso mais meigo que tinha no arsenal. – Quando Jess chegar direi que você acabou de partir.
A assassina conseguia ler a hesitação em cada movimento da garota que encarou o chão decidindo ceder ou não. Para olhares leigos aquela poderia ser uma conversa banal, mas relações estavam sendo estabelecidas, Audrey estava sendo cativada e isso poderia ser útil. Oksana foi treinada exatamente para isso.
- Você tem razão. Obrigada por se oferecer para ficar aqui, realmente preciso descansar. – Disse retirando-se aliviada e envergonhada. Após alguns passos virou-se para um último olhar. – Espero que sejamos grandes amigas.
- Espero que sim.
Villanelle podia ter muitas qualidades, mas paciência não era uma delas. Estava de guarda há poucos minutos e não parava de dizer a si mesma “isso é tãooooo entediante”, mexia as pernas e ajeitava seu uniforme repetidamente quando, por cima das vozes baixas e incessantes do quarto, ouviu:
- Saiam todas. – Fez-se silêncio. – Por favor, realmente preciso de um minuto sozinha, depois terminamos isso. É uma ordem.
Uma das pesadas portas de madeira foi aberta, por ela três garotas de lindos vestidos brancos iguais e algumas criadas passaram apressadas, tanto que a última nem fechou a porta por completo.
Quando o grupo já havia deixado a antessala um choro baixinho foi ouvido, a altura e o desespero do barulho progrediram e Villanelle colocou-se à frente da fresta. Pôde ver Eve debruçada sobre sua penteadeira, a figura imponente em armadura brilhante que conhecera a caminho da batalha, agora era uma mulher não completamente vestida que tentava conter soluços de tanto chorar. A volumosa saia branca com bordados dourados que se amontoava abaixo das gavetas da penteadeira não havia sido fechada e estava solta ao redor da cintura, a parte superior da roupa faltava, a chemise e o espartilho eram as únicas coisas que cobriam seu dorso.
Ao levantar a cabeça em busca de mais ar a rainha viu sua intrusa no reflexo do espelho à sua frente, o cabelo bagunçado tinha alguns cachos encharcados de lágrimas colados no rosto avermelhado.
- Feche a porta atrás de você.
- Não vai me mandar embora como as damas de companhia, minha rainha?
- Se ainda não te ensinaram, essa é a única ordem que não posso te dar: para que me deixe sozinha. Estou farta disso. – Eve diz virando-se para olhá-la diretamente.
- Desculpe-me a intromissão, minha rainha, mas não me parece muito feliz no dia de sua coroação. – Villanelle não sabia qual deveria ser a próxima jogada, dar espaço ou chegar mais perto? Qual atitude a aproximaria do seu plano?
- E eu deveria estar? – Inclinou a cabeça e as sobrancelhas se arquearam. Era uma pergunta genuína. – Hoje serei coroada a que custo? Essa honra – a última palavra carregada de ironia – chega até mim por uma trilha de sangue, uma sucessão de mortes, mortes de pessoas que eu amava muito.
- Sinto muito...
- E como esperam que eu faça isso? Não fui treinada para governar, nem sequer me casar e tornar-me rainha consorte. – Eve falou atropelada, mas então parou por alguns instantes e inspirou olhando para cima tentando parar de chorar. – Quando minha mãe estava grávida de Kenny, acho que ela sentiu... de alguma forma ela soube que iria morrer e me fez jurar que cuidaria da família. A filha mais velha da casa já estava prometida para um casamento importante, logo iria embora e eu seria a única mulher que meus irmãos e pai teriam para uni-los. Que belo trabalho eu fiz! Veja a família que me restou. – Mais lágrimas escorrem por suas bochechas, sentia-se um pouco ridícula e certamente inadequada despejando todos os seus sentimentos em uma guarda real. – Eu estou com tanto medo. – Seu olhar era de completo pavor.
- O que está te assustando tanto, minha rainha? – Villanelle segurou as mãos dela.
- Não saber o que fazer. Eu simplesmente não sei. Em poucas semanas perco meu irmão e meus sobrinhos, há um reino que preciso governar, tantas batalhas para não perder, fronteiras para proteger, súditos para guiar. São tantas coisas. Como saberei se estou sendo boa para meu povo? Pessoas padecem de fome para sustentar guerras em que incontáveis soldados morrerão em meu nome. – O desespero derramado em sua voz.
- Eu sei que será uma ótima governante. – Ajoelhou-se, com certa dificuldade pelas dores na perna, para que seu rosto fique na mesma altura de Eve que está sentada.
- E como me garante isso? – O tom era tanto de súplica quanto de desafio.
- Garanto porque sei que se importa. Pelo simples fato de pensar nessas pessoas, de querer ser boa para elas. Posso sentir em você. Poderia ter me deixado para morrer, mas fez o que fez para que eu sobrevivesse e ainda me deu uma motivação depois que perdi tudo. – Villanelle já não sabia mais quais palavras eram de sua personagem e quais eram verdadeiramente de Oksana.
- Você salvou minha vida, não poderia deixá-la desassistida. – Eve projeta a cabeça para frente e mexe os ombros como se falasse a coisa mais óbvia do mundo.
- Poderia. – Segurou suas mãos mais firmes, puxando-as para si. – Quantos outros monarcas fariam o que fez? Você é a rainha, o dever de cada uma de nós é proteger sua vida. Mas, novamente digo, você se diferencia porque se importa.
- Mas se mesmo com toda a boa intenção eu não souber que caminho tomar? Sinto-me tão à deriva.
- Terá seus conselheiros para te orientar, seus irmãos mais novos. Você não está sozinha. E... – Relutou em dizer a última sentença, não sabia se era o que Eve gostaria de ouvir. – Tem a mim, suas guardas e damas. – Diz soltando as mãos.
As dúvidas foram extinguidas pelo sorriso que a rainha ofereceu. Passou os dedos sob os olhos tentando limpar os resquícios das lágrimas.
- Obrigada de verdade por suas palavras. Desculpe-me por parecer tão descontrolada.
- Na verdade acho louvável que tenha essas preocupações, minha rainha. Não tenha medo, essa conversa ficará guardada somente entre nós duas.
- Agradeço de coração. – Eve estende o braço para fazer carinho em algum animal que estava oculto sob sua saia, escondido da visão de Villanelle, que se surpreendeu em ter outro ser vivo naquele quarto.
Quando a rainha puxou para seu colo uma galinha a surpresa foi maior ainda e não conseguiu ser rápida o suficiente para conter a expressão de espanto.
- Tudo bem, pode dizer, eu sei que é estranho. – Eve já está rindo fazendo carinho na cabeça da ave.
- Peculiar, eu diria. Mas acredito que um animal de estimação tão... diferenciado venha com uma história interessante. Posso? – Disse estendendo a mão para também acariciar as penas. Conteve a sua aversão; era isso que alguém doce deveria fazer.
- Fique à vontade. – O sorriso da rainha se intensificou e Villanelle ficou feliz por estar se aproximando dela, talvez ganhasse um bônus por terminar seu trabalho antes do previsto, mas também era bom de um jeito que não sabia explicar. – Foi presente da minha irmã antes da viagem para se casar, desafiou-me a manter um pintinho vivo pois eu seria a única dama para proteger a família. – Passou os dedos no pescoço da galinha como se um gato fosse. – Achei graça, como pode imaginar, mas gostei do desafio. O que eu não sabia é que seria uma das coisas que me agarraria por lembranças dela. – A tristeza voltou em seus olhos por um breve instante. – Bem, precisamos nos preparar para uma coroação. – Disse levantando-se como se tentasse sacudir de si todos os sentimentos ruins e colocou o animal novamente no chão que foi se aninhar em um cercadinho no canto mais distante do cômodo. – Me ajude a fechar a saia, por favor, não queremos uma rainha tropeçando por aí.
Villanelle ficou de pé, precisou apoiar-se na perna saudável para levantar, aproximou-se, tocou os cabelos de Eve – que passavam da cintura – para tirá-los do caminho, demorou mais do que o necessário para uma ação tão simples, estava aproveitando para passar a mão tão próxima da nuca da rainha tão indefesa. Seus dedos desceram percorrendo a coluna sem tocá-la, poucos centímetros os separavam. Notou novamente que tremia enquanto fechava a saia com os bordados que deduziu serem de ouro, tentou calcular o preço de um tecido branco tão puro com tais aplicações.
- Devo chamar suas damas, minha rainha? – Disse um pouco vacilante quando Eve virou-se e seus olhos se encontraram novamente.
- Ainda não. Sabe, hoje é um evento de gala e minhas guardas têm extrema importância. – Eve ponderou sobre continuar a falar. – Você me deixaria fazer algo em seus cabelos? – Sorriu com uma alegria infantil. – Se não me considerar invasiva.
Villanelle não sabia se estava alegre por estar conquistando intimidade, ou ofendida por ser chamada de mal arrumada. De qualquer forma, não conseguia fazer nenhum penteado descente sozinha.
- Sou sua, minha rainha, para fazer o que quiser. – “Sou uma boa garota, minha rainha, confie em mim.”
- Ótimo! Sente-se, por favor. – Apontou para a penteadeira.
Pelo espelho via Eve mordendo o lábio inferior em completa empolgação, passou delicadamente sua escova de cabelo feita de prata, trançou os fios loiros de Villanelle com a alegria de uma garota que brinca de bonecas. Sentia tanta falta de quando fazia isso na irmã, na verdade quase tudo lhe causava saudades dela mesmo depois de cinco anos.
A assassina não sabia muito bem o que sentir a respeito disso. Certamente era um sinal de que sua missão se desenrolava bem, mas se pegava gostando de ter alguém tocando sua cabeça. Alguém não, Eve.
- Perfeita. – Disse a rainha colocando o último dos grampos decorados com pequenas pérolas. Colocou as mãos sobre os ombros de Villanelle e a olhou nos olhos através do reflexo.
Desesperada para romper com aquele momento que a deixava desconfortavelmente confortável, levantou-se.
- Muito obrigada, minha rainha. Mas pensou que já está tarde e preciso chamar suas damas para que seja vestida.
- Creio que esteja certa, pode ir. – Antes mesmo que Eve proferisse a ordem, Villanelle já estava a caminho da porta, desesperada por ar, sufocada na confusão de seus sentimentos. – Só, por favor, não comente sobre isso com ninguém, podem julgar indiscrição.
- Será nosso segredo. – Falou antes de seu último sorriso ao sair.
Não foi difícil achá-las, estavam no corredor conversando aflitas tanto pelo horário quanto por se afastarem de sua rainha. Eram jovens nobres, muito nobres, poderiam estar onde quisessem, mas ser dama de Eve era a maior honra que carregariam, ainda mais porque agora era sua suprema soberana.
- A rainha solicita a presença de vocês.
- Graças a deus, precisamos aprontá-la logo. – Amber balançou as mãos nervosa.
- Obrigada pela notícia. – Disse Geraldine sorrindo.
Quando todas entraram no quarto, Villanelle se posicionou guardando a porta, não esperava que esta fosse aberta de novo tão breve.
- A rainha pede para que proteja a entrada por dentro. – Gemma a olhou desconfiada.
E assim Villanelle o fez, encantada com a imagem de Eve que estava sendo criada.
Pintaram seus lábios mais rosados, coraram sutilmente suas bochechas. Arrumaram seus cachos soltos, como o costume para mulheres solteiras. Colocaram outra saia de veludo vermelho com barra em pele de algum animal de pelos brancos. Havia uma grande fenda frontal que deixava visível a saia branca bordada que estava por baixo e uma faixa salmão de um palmo de largura centralizada na sua cintura que se estendia até a barra de seu vestido onde era mais ampla. A faixa era bordada com joias em todo o comprimento, rubis – do tamanho de ameixas – e esmeraldas. O corpo do vestido, igualmente em veludo vermelho tinha a divisão da parte inferior cravejada de pequenos diamantes formando um “v” acentuando sua silhueta, no centro subia o bordado de uma cruz nas mesmas pedras. Pérolas pendiam do medalhão no meio de seu peito até os ombros, o decote bastante cavado dividia a atenção da assassina com as coisas cintilantes. As mangas possuíam a mesma barra felpuda, por baixo delas pendiam as mais finas rendas.
Eve parecia a exata definição de perfeição para Villanelle.
Quando Jess e Audrey bateram à porta, as damas prenderam ao vestido uma capa feita do mesmo tecido que se estendia por alguns metros, não antes que Jess distribuísse seu olhar desaprovador para Audrey – por não estar no seu posto até o horário determinado – e para a assassina – por estar dentro do quarto.
Partiram pelos corredores com as damas carregando a enorme cauda da capa, Jess do lado direito da rainha e Villanelle do esquerdo, que tentava calcular o preço e o peso daquela roupa. Eve disfarçadamente olhava para sua mais nova confidente durante o trajeto, buscava uma fonte de coragem e confiança.
O grupo desfilou até a abadia anexa ao palácio, todos se aglomeravam para vê-las. Antes de cruzar o portal, o coral começou a cantar, entregaram para Eve o cetro e a orbe de ouro. Segurando-os ela caminhou até seu trono que fora colocado sobre um pequeno palco localizado exatamente abaixo da abóbada principal. Com as luzes coloridas dos raios de sol atravessando os vitrais, aquela era uma visão etérea.
Os lordes de capas de pele de animais brancos acomodados nas fileiras laterais assistindo atentos. No segundo andar os membros distantes da família e representantes de outros reinos amigos.
As três cavaleiras reais, que se retiraram no momento em que a rainha entrou na abadia, retornaram trazendo o baldaquino dourado para proteger a sagrada unção dos olhares dos convidados.
- Está a senhora, vossa majestade, disposta a fazer o juramento? – Perguntou o bispo.
- Sim, estou disposta.
- A senhora jura proteger, governar e preservar o reino de Cygnos?
- Juro. – Eve colocou o cetro e a orbe na grande almofada vermelha que o coroinha segurava.
- Que vossas mãos sejam ungidas com o óleo sagrado para que sempre trabalhe pelo bem do reino. – O bispo fez uma cruz nas mãos dela com o indicador coberto de óleo sagrado. Mergulhou a primeira falange novamente na vasilha de ouro que continha o líquido. – Que vosso peito seja ungido pelo óleo sagrado para que em seu coração sempre deseje o bem do reino. – Desenhou a cruz na pele exposta pelo decote dela. – Molhou novamente o dedo. – Que vossa cabeça seja ungida pelo óleo sangrado para que sempre pense pelo bem do reino. – Repetiu o movimento em sua testa. – Como reis, sacerdotes e profetas foram ungidos e como Salomão foi ungido rei por Zadok, o sacerdote, e por Natan, o profeta, sede vós também ungida, abençoada e consagrada rainha sobre os povos que o senhor vosso deus a confiou para reinar e governar em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém.
- Amém. – Disse Eve com a expressão mais séria o possível. A palavra foi repetida por todos.
A coroa e o anel real chegaram em almofadas vermelhas. O anel foi colocado no indicador direito da rainha e a coroa foi erguida pelo bispo para o norte:
- Para o Norte apresento sua incontestável rainha Eve. – Ergueu-a para o Sul. – Para o Sul eu apresento sua incontestável rainha Eve. – Levantou-a para o leste. – Para o Leste apresento sua incontestável rainha Eve. – Virou-se para o Oeste. – Para o Oeste eu apresento sua incontestável rainha Eve.
O baldaquino foi retirado de cima do trono e o bispo subiu mais um degrau do palco para colocar a coroa sobre a cabeça dela.
- Eu a nomeio Eve Elena Elizabeth Letícia Franziska Gisla Addela Beaufort de Capella Adhara e Austrina rainha de Cygnos.
Coroada, com o cetro e a orbe nas mãos novamente, levantou-se com certa dificuldade pelo peso físico e simbólico de tudo que portava.
- Vida longa à rainha! Vida longa à rainha! Vida longa à rainha! – Os lordes, guardas, sacerdotes, nobres e os príncipes rogaram em coro.
Hugo, o irmão mais novo da rainha aproximou-se com sua capa vermelha, semelhante à dela só que bem menor, sendo seguido por dois de seus homens. Colocou sua coroa – uma versão mais simples e menor daquela dada à irmã – sobre a almofada nas mãos do ajudante do bispo. Subiu os degraus e ajoelhou-se diante de sua soberana, sua expressão não era da mais satisfeita.
- Eu, Thaddeus Hugo Aaron Bartholomew Uriah Phillip Joshua Elijah Beaufort de Capella Adhara e Austrina príncipe de Cygnos, me torno seu vassalo de corpo e alma, darei minha vida em sua devoção terrena e prometo ser fiel e verdadeiro, viver e morrer por você contra inimigos de toda sorte. Que deus me ajude.
Beijou a mão dela e levantou-se andando de costas até sair da elevação, fez uma reverencia e colocou novamente sua coroa.
O gesto foi repetido exatamente por Simon Kenneth Alfred Aaron Bartholomew Uriah Phillip Joshua Elijah Beaufort de Capella Adhara e Austrina, ou somente Kenny, o caçula.
Cada um dos lordes dirigiu-se até ela e fez o mesmo ato. Quando chegou a vez de lorde Nevsky, um senhor muito idoso e que mexia-se muito devagar como se cada passo fosse doloroso, Eve quebrou o protocolo levantando-se e descendo até ele para que sua mão fosse beijada, algo que poderia ser mal interpretado, a monarca rebaixando-se até um súdito. Para Villanelle era só mais uma prova da empatia e gentileza que a rainha tinha.
As guardas foram as últimas a jurar. Enquanto Jess e, após, Audrey falavam seus nomes, títulos de nobreza e todas as palavras decoradas, os pensamentos de Villanelle eram somente sobre a beleza e o poder de Eve. Konstantin e o castelo 12 não existiam.
- Eu, Villanelle Lilith Lancaster, cavaleira da guarda real, me torno sua vassala de corpo e alma, darei minha vida em sua devoção terrena e prometo ser fiel e verdadeira, viver e morrer por você contra inimigos de toda sorte. Que deus me ajude.
“Que deus realmente me ajude.”_____________________________________________________
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Queen Eve
FanfictionUm misterioso contratante solicita os serviços de Oksana para matar o rei consorte de Cygnos. Sob o novo nome de Villanelle precisará esgueirar-se na trama da corte, só não contava com a conexão que desenvolverá com a nova rainha. Conseguirá cumprir...