Capítulo 2 - "Corvos são animais tão irritantes."

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[ 23 anos depois - Amanhecer de dois dias depois do casamento de Aurora e Phillip ]

O brilho dourado do Sol recém nascido de nuvens suaves naquela bela manhã que banhava sob Moors, iluminava aos poucos um certo ninho na depressão de uma montanha.

Embora envolta com suas longas, fortes, e pesadas asas, Malévola sentia a brisa fria matinal entrar em choque contrastivo à sua pele pálida e lisa. A fada já havia acordado há algum tempo, mas fingiu não o fazer quando antes que pudesse abrir seus olhos, sentiu um certo olhar de ônix penetrar suas costas.

Era Diaval.

Todos os dias, Diaval acordava muito mais cedo que ela e voava até seu ninho, onde a observava por horas até que a mesma despertasse. Malévola não entendia a razão disto, mas sempre tardava seu levantar para mostrar-se vulnerável. Como se todas as manhãs, testasse a lealdade de seu servo.
Ele não era como Stefan.
E ela sabia disso.
Todos os dias ela percebia mais isto quando o corvo não movia um músculo sequer ao vê-la indefesa.
Se não era por ameaça, por que ele a observava tanto afinal?

Parou de se fazer esta pergunta há muito tempo.

Malévola sempre fora tão severa e defensiva com Diaval que começou a cogitar que ele a temesse. Mas isto nem de longe faria sentido. Diaval era o único, além de Aurora, que a observava sem medo.
E embora não adimitisse, ela adorava isto. Talvez sua coragem fosse uma de suas mais admiráveis virtudes, afinal.

" Corvos são animais tão irritantes. "

– Eu sei que está aí. - Resmungou, com sua voz rouca. De fato aquelas eram suas primeiras palavras do dia.

Malévola sempre era mal humorada pela manhã.
Sua resposta foi um grunhido alto, e um bater de asas agitado.
Ele merecia ser transformado em homem, ou ela iria se divertir com suas imploras adoráveis? Outra coisa que Malévola se reprimia de admitir, mas gostava, era quando ele pedia para que ela mudasse sua forma original para a de homem, somente para que pudesse a servir devidamente.
Todos geralmente fugiam. Logo, ela se tornou alguém pouco comunicativa.
Mas era divertido o ver implorar um pouco.

Em um ágil balançar de dedos que teve como consequência uma suave magia dourada cintilante deslizar seus dedos abaixo e dissipar-se no ar, Malévola, sem sequer mudar de posição, o transformara em homem.

Uh. Sua versão humana não era tão ruim, afinal. Algo que ela jamais, e isto sim, JAMAIS - ou quase - admitiria para si e para qualquer outro, é que Diaval pela manhã ficava extremamente bonito aos seus olhos.
Sim. Aos seus olhos. Não gostaria nem de cogitar outras pessoas com tais pensamentos.

– Bom dia, senhora!

A voz doce do homem-corvo a retirara de seus devaneios, quase obrigando-a a erguer seu corpo, se sentando no ninho. Suas costas contraíram quando suas asas agitaram-se suavemente, levantando-as de cima de si.

– Dia. - Respondeu, friamente. Sempre ocultava o "bom". Todavia, desviou seus olhos âmbar para o mesmo e sorriu.

Ela pôde perceber uma expressão estranha no rosto de Diaval após seu ato. Seu sorriso era assustador? Presas demais? Há algum tempo havia se tornado mais gentil com ele. Mesmo que ainda tivesse receio as vezes, e fosse grosseira.

– Atualizações.

– A-Ah, sim. - Ele pareceu endireitar o corpo. - Nenhum humano próximo à fronteira. Apenas algumas crianças a brincar no riacho. O dia está lindo, e aparentemente, não irá chover hoje. - Ele sorriu torto, desajeitado, mas satisfeito em estar tudo bem.

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