Capítulo 1 - "Salvei sua vida."

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Era uma bela manhã próximo ao riacho que separava o reino humano do reino dos Moors. O Sol - nascido há pouco tempo - banhava toda a extensão das plantações de trigo pertencentes aos camponeses humanos. Em tal lugar, embora os céus fossem pincelados por mesclagens de belíssimas cores das mais fascinantes aquarelas, a cidade permanecia mórbida como todos os dias. Sem vida. Era assim que os humanos viviam, afinal. Eram simples, e liderados agora por um futuro rei ganancioso, que seria coroado após a morte do atual rei. Outro que não era flor que se cheire.
Ou pelo menos era isto que um corvo de belas penas negras como a noite havia ouvido outro dia como este. Não sabia quem eram, sequer se interessava na vida dos humanos. Mas era bom ouvir conversas alheias em manhãs tediosas como esta por acidente.

O dito cujo sobrevoava as plantações, admirando a provavelmente única beleza daquele reino. Não em questões estéticas. Mas em pontos de serenidade e tranquilidade, as colheitas eram o único local onde o mesmo sentira-se seguro.
Pelo menos, até então.

Pouco depois que suas garras tocaram o chão para descansar suas asas levemente cansadas, próximo à uma fazenda, a ave assustou-se quando uma rede de caça fora lançada contra si. O peso e agressividade da mesma o fez grunhir, alto, aquilo realmente doeu. E não demorou muito para os latidos caninos lhe entupirem os ouvidos - o pior som que o corvo conhecera em sua vida - e as risadas e comemorações daquele que o prendera.

Ele sabia o que aquilo significava.

Era sua morte.

A vida de um corvo não tinha lá suas regalias ou uma grande expectativa. E tudo bem que seus dias eram tediosos. Mas só de imaginar que nunca mais poderia sentir a brisa gélida do fim de tarde agitar-lhe as penas em um rosado pôr de Sol enquanto suas asas cortariam os céus em vôos libertos, fazia seu corpo ter choques de pânico anormais.
Pouco se dera conta que estava se debatendo na rede, tentando voar, mesmo sabendo que era inútil. Seus grunhidos desesperados e agudos ecoavam pela plantação, mas quem teria dó de um corvo?

Um mero corvo.
Era o que ele era. Se é que agora ele ainda poderia considerar que teria uma vida. Ele sabia que estava morto a partir do momento que aquela rede o prendeu.

Ou pelo menos, era o que ele pensava.
Isso até sentir uma formigação estranha no fundo de seu estômago.

"Ótimo. Vou ter direito a vomitar uma última vez antes de morrer." Pensou o pássaro.

Mas o que era uma simples formigação se expandiu para uma dor aguda, que percorreu toda a extensão de seu corpo até seus músculos contraírem.

Por Deus. Aquilo doía como o inferno.

As risadas do caçador cessaram por um momento. Enquanto o corvo crescia, o homem parecia cada vez mais pálido, soltando o pedaço de madeira que carregava das mãos em puro pavor, ao contrário dos cães que não paravam de latir nem um segundo sequer.
Murmuraria o quanto detesta cachorros caso seu corpo não estivesse mudando de forma repentinamente, e em uma situação bem conveniente. Mas isso não era o mais importante. O mais importante era, o que raios havia acontecido com suas belas penas?! E seu bico longo e negro?!

Aquilo definitivamente não poderia estar acontecendo.

Livrando-se da rede, ele girou em própria órbita, encarando suas costas em busca de suas asas. Nada. Seu corpo agora parecia-se totalmente semelhante àqueles que observava todos os dias. - Talvez nem tão semelhantes, pois nem todos tinham cicatrizes tão marcadas à pele.

Humano.

– D-D... Demônio! Demônio!! - Gritou o caçador, que saiu correndo totalmente assustado. Amedrontado. Os cães foram-se com ele, para o alívio do recém-humano.

Demônio? Onde? Era ele?
Ah, quem se importa. Ele nem mesmo sabia muito sobre tais criaturas, também. Estava ocupado, curioso demais sobre o que havia acontecido ali. Buscava respostas.

E elas estavam ali, bem à sua frente, agora. Bem, ela.
Sequer se deu conta quando uma... Mulher? Havia passado por ele, encarando-o.
Era nesse momento que deveria esconder suas vergonhas?
Ele não se importava, sempre fora um corvo, afinal.
Mas encarando-a melhor, não, não era uma mulher. Se parecia com uma. Contudo, as mulheres dali não tinham chifres, pelo menos até onde ele sabia.
E que chifres.
E que mulher.

Seu olhar era sério. Âmbar. O homem podia jurar que eles cintilavam no Sol. Não apenas eles, mas sua pele extremamente pálida, e seus lábios cor de sangue também. Ela era incomum de tudo que já tinha visto. Até mesmo as maçãs de suas bochechas que eram suavemente pontiagudas.
E ele não desgostava disso.
Ele gostava muito.

Seus chifres negros com suaves torções para os lados davam-lhe um ar de superioridade, além de sua face impassível, a mesma guiava-se com um cajado negro e vestia um grande manto.

Definitivamente aquilo não era uma mulher.

Ela parecia-se com Deus.

E ali ele sabia, que se Deus não existisse, então esta criatura era a que seria mais próxima de ser ele.

A sensação de agora, ter dedos dos pés, e os mesmos estarem se tocando o fez recordar que agora teria forma de homem. E lançando um olhar desconfiado para a morena de chifres, de cabelos lisos e castanhos como a noite, enquanto a acompanhava com o olhar caminhar ao seu redor, indagou:

– O que você fez com o meu belo corpo?

O homem se assustou suavemente com o som que sua voz emitia. Não era um grunhido. Mas não demonstrou expressão sobre isto, estava curioso demais sobre aquela que o encarava.

– Parece que você preferia morrer. - A voz dela não era grave. Mas também não era aguda. Todavia, carregava um pesar, e forte seriedade, o que entrava em contraste avassalador pois também emitia calma e elegância. Bem como seu olhar.

"Que mulher instigante."

– Talvez sim. - Respondeu.

– Pare de reclamar. Salvei a sua vida.

Céus. Sequer um sorriso? Ela não ia mesmo ser amigável no primeiro encontro?
Era o que pensava antes do estalo atingir sua mente. Ela teria o salvo, de fato, e ele reclamando sobre o corpo que teria agora.

– ... Perdoe-me. - Desculpou-se.

– Como o chamo?

– Diaval. - Respondeu-a, organizando sua postura respeitavelmente. - E por ter salvo minha vida, eu serei seu servo.

Durante breves milésimos, Diaval sentiu o olhar cortante se intensificar mais em seu ser. Ela o encarou com interesse disfarçado, agora, instigada.

– O que deseja? - Diaval perguntou, procedendo sua fala.

– Asas. Desejo que seja minhas asas.

Ele a encarou confuso. Seus olhos negros demonstravam clara confusão. Ela tinha asas? Ou ela queria? Onde elas estavam agora?
Essas perguntas o lotaram. Mas nenhuma fora pronunciada.

Agora ele sabia que teria de segui-la por onde ela fosse. E sinceramente?
Este corvo orgulhoso desejava quitar esta divida do fundo de seu coração.
Tudo bem que corvos são conhecidos por serem criaturas cruéis. Mas não Diaval. Diaval era gentil, e justo.

E ele faria sua vida valer a pena agora, de uma forma justa.

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Olá! Esta é minha primeira história aqui no Wattpad. Não tenho certeza de quando poderei postar os próximos capítulos, eu tenho uma real tendência à ter bloqueios. Mas eu garanto que farei meu possível para que ela seja boa.
Eu ainda sou nova no universo de Malévola e Maleval. Mas estou empolgada.~
Espero que tenham gostado do modelo de escrita.

Kissu~ ♡

Plumas NegrasOnde histórias criam vida. Descubra agora